Coletivo de jovens artistas de Madureira, a Companhia de Aruanda está organizando uma roda do Fuzuê d’Aruanda na quinta, 18 de setembro, às 20h30, debaixo do Viaduto Negrão de Lima, para ser o primeiro evento da Escola de Patrimônio Imaterial do Estado do Rio de Janeiro (Epierj) desde a retomada do projeto, em julho. A escola existe há três anos, com cinco núcleos – Magé, Guapimirim, Paraty e Quissamã, além de Madureira -, e acabou de renovar o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, para dar continuidade ao trabalho de divulgar os saberes dos mestres, salvaguardando os tesouros culturais de um dos recantos mais adorados do subúrbio carioca.
Em prol das culturas tradicionais e da economia criativa de Madureira, a Companhia de Aruanda vai continuar atuando em três linhas, neste 2025: Oficinas de patrimônio imaterial (como jongo, maracatu, coco, samba de roda e outras danças afro, medicina das ervas, tranças e contação de histórias) junto aos alunos do ensino fundamental das escolas públicas do bairro; oficinas de empreendedorismo e economia criativa ainda nas escola públicas, este com alunos do ensino médio; e o Fuzuê d’Aruanda, uma ocupação artístico-cultural que há 18 anos vem sendo realizada sob o Viaduto de Madureira, como ficou conhecido.
“Todos os saberes explorados estarão ligados ao território. Queremos reforçar essa questão da memória e da valorização do lugar onde se vive e, assim, contribuir para o aumento da autoestima dessas crianças e desses jovens moradores. Com teoria e aulas práticas, queremos trazer as imagens dos grandes músicos, do Império Serrano e da Portela, ensinar a empreender e mostrar que Madureira é uma grande referência quando falamos em cultura afro carioca”, afirma Rodrigo Nunes, diretor do núcleo Madureira da Epierj.
Ele gosta muito de trabalhar com jovens que estão na vez de prestar vestibular ou pensam em abrir um negócio próprio para que possa colaborar com a economia da família, sem prejudicar os estudos. “O jovem não precisa abandonar a escola para empreender e virar um microempresário”, destaca Nunes. “Na verdade, ele até deve continuar estudando a fim de agregar conhecimento”. Por outro lado, ele assinala que permanece atento aos ensinamentos práticos, e já anuncia a data da próxima Oficina de Tranças, marcada para a terça, dia 23 de setembro.
“Possuímos muitas trancistas no território, inclusive de outros países, como Angola, que atuam aqui nos calçadões de Madureira. Foi pensando nelas que criamos essas oficinas práticas de trança, além de artesanato, que vai ensinar técnicas como papel-marché. E aí entra também a questão do meio ambiente porque a ideia é fazer um reaproveitamento desses papéis e outros resíduos pensando em criar biojoias, por exemplo, também de olho na sustentabilidade”, diz, conectando os assuntos todos, pois a ideia é que os jovens comercializem as biojóias fabricadas por eles a partir das lições das oficinas de empreendedorismo.
Já o Fuzuê d’Aruanda é uma das atividades culturais que deram vida ao espaço arquitetonicamente inútil que fica escondido ali, debaixo do Viaduto. Esse lugar abriga o Baile Charme de Madureira e um público imenso de toda a cidade, que chega na área para tentar dançar bonito como os moradores da comunidade, e recebe também a equipe da Central Única de Favelas (Cufa), que realiza atividades como basquete de rua no espaço comunitário.
“Ali no centro, fica o Fuzuê d’Aruanda, que essa ocupação cultural de resistência, acostumada a botar nos tambores com força na rua em busca de valorizar as culturas tradicionais, muito ricas no nosso território. Em cada ação, fazemos um convite às pessoas para se reconectarem com a sua ancestralidade”, conta Nunes, citando a potência de grupos como os blocos afro Agbara Dudu, o pioneiro, e o Lemi Ayó, assim como as escolas de samba da região. Os supracitados coco, maracatu e jongo, além de afoxé, carimbó e cacuriá, todas essas manifestações tradicionais que não estão no mainstream, são apresentados debaixo do viaduto pelo Fuzuê d’Aruanda, desde 2010.
Há alguns anos, as atividades da Companhia de Aruanda fazem parte da Escola de Patrimônio Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, que conta com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, e realiza mensalmente eventos e oficinas gratuitos de patrimônio imaterial, economia criativa e meio ambiente, em cinco cidades.
Eventos de setembro
Dia 18 – Fuzuê D’Aruanda
Dia 23 – Oficinas de tranças
Dias 22 e 24 de setembro – Oficinas de danças populares (na Escola Municipal Irmã Zélia)
O que é a Escola de Patrimônio Imaterial do Rio de Janeiro
A Escola de Patrimônio Imaterial do Rio (Epierj) foi inaugurada em março de 2022, reunindo cinco grupos culturais de linhagens centenárias do Estado do Rio, que ganham rica estrutura para que mestres e mestras transmitam e exibam seus saberes e fazeres tradicionais, garantindo a salvaguarda destes tesouros – músicas, danças, integração com a natureza, comidas, ervas de cura. Frutos dos encontros de povos originários com escravizados de diversas nações da África, essas tradições matrizes da cultura brasileira são fundamentais para a construção da nossa música popular e que devem ser salvaguardadas.
A Epierj tem patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.
Em ordem alfabética, estes são os cinco núcleos da Epierj:
Madureira – Companhia de Aruanda (rodas de jongo e de samba);
Magé – Grupo Zé Mussum (rodas de capoeira e de jongo);
Guapimirim – Centro de Tradições Afro Onixêgum (tambores, cantos, danças, uso de plantas nas medicinas e encantos);
Paraty – Ciranda Caiçara de Tarituba (ciranda, folias, saberes da pesca, gastronomia caiçara);
Quissamã – Sítio Santa Luzia Quilombo Machadinha (rodas de jongo, gastronomia das senzalas e boi-pintadinho).
