Danielle Winits e Gerald Thomas estreiam Choque! no Teatro Copacabana Palace

por Jorge Rodrigues
CHOQUE! Procurando Sinais de Vida

O espetáculo CHOQUE! Procurando Sinais de Vida Inteligente estreia nacionalmente em 2 de outubro de 2025, no Teatro Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, com direção de Gerald Thomas e atuação solo de Danielle Winits. Com humor afiado e olhar crítico, a obra se estabelece como uma reflexão sobre as irracionais contradições humanas, o papel da mulher na sociedade e os dilemas da vida contemporânea. O título sugere uma busca extraterrestre, mas é, na verdade, uma metáfora para a busca de empatia, conexão e sentido no meio da confusão cotidiana da humanidade.

Escrita pela norte-americana Jane Wagner, originalmente encenada em 1985, nos EUA, e imortalizada pela atuação solo de Lily Tomlin, Procurando Sinais de Vida Inteligente no Universo – convertida por Thomas em CHOQUE! Procurando Sinais de Vida Inteligente –, consolidou-se na ocasião como um marco para o teatro, especialmente pelo modo como mescla humor, crítica social e múltiplas vozes em uma única interpretação.

Estruturada como um monólogo múltiplo, uma só atriz (Danielle Winits) interpreta diversos personagens e por meio dessas vozes constrói uma narrativa fluida e cômica que atravessa diferentes contextos sociais e históricos. Questiona padrões sociais, a lógica capitalista, a superficialidade da cultura de massa e os limites das relações humanas, tudo isso por meio de observações sagazes e por vezes absurdas que provocam tanto o riso quanto a reflexão. Mas não é só isso. Gerald Thomas adicionou ao texto original as lacunas que as décadas perdidas ou passadas teriam que preencher.

“Sim, o mundo mudou muito rápido nesses últimos quarenta anos. Em 1985 não haviam redes sociais ou IA, a teoria de Andy Warhol de que todos iriam ter seus 15 minutos de fama ainda era uma fantasia longínqua e não um pesadelo psicopático. Se, em 1985 ainda se tinha amigos, hoje tem-se “seguidores” e a palavra lixo significava somente sujeira e não crise ou calamidade. O mundo de Huxley e Orwell eram temidos, mas agora, talvez, através dessa epidemia de “influencers”, os jovens estarão, de fato,  condenados a desaprender tudo aquilo que a história nos ensinou. Entraremos em uma era de deletação, de apagamento. E isso não está na peça de Wagner”, revela Gerald Thomas.

O texto equilibra ironia e compaixão com maestria. Seus diálogos são pontuados por referências pop e filosóficas, e não hesitam em abordar temas complexos com leveza e profundidade. A crítica social nunca é panfletária, emerge da experiência dos personagens e do confronto direto com as contradições do mundo moderno. A peça é também um exercício de metateatro – um espetáculo sobre o próprio fazer teatral e seu potencial transformador. Ao alternar rapidamente entre vozes e pontos de vista, desafia tanto a intérprete quanto o público, convocando uma escuta ativa e sensível.

“Interpreto algumas personagens e, entre elas, a personagem central, fio condutor do espetáculo, que, de consultora criativa de grandes empresas, acabou por enlouquecer (ou não…) e se tornou uma catadora de lixo nas ruas. Ela acredita que extraterrestres entraram em contato e querem descobrir, por meio dela, se ainda existem sinais de vida inteligente no universo. Simultaneamente, a personagem busca compreender quem são essas pessoas e o que elas representam no mundo de hoje. A dúvida que ela levanta é quase um paralelo ao ‘ser ou não ser, eis a questão’. Será que ela perdeu a sanidade? Ou foi a realidade que, de tão absurda, se tornou incompreensível?”, comenta Danielle Winits.

Em resumo, CHOQUE! Procurando Sinais de Vida Inteligente  é uma obra vibrante, multifacetada e atual. Mais do que uma peça feminista ou de crítica social, é uma reflexão espirituosa e comovente sobre o que nos torna humanos, e sobre os sinais de inteligência (afeto e empatia) que ainda podem ser encontrados entre nós.

Após a temporada de estreia nacional no Rio de Janeiro, no final de janeiro de 2026, São Paulo receberá o espetáculo para temporada na FAAP.

A respeito do ambiente da encenação

O cenário foi pensado como um ambiente que se transforma no decorrer do espetáculo. As diversas personagens encenadas pela Danielle irão se utilizar de um elemento alto que anda pelo palco e rotaciona em torno de si. Esse elemento chamamos de torre, e é parte figurino e parte um cenário composto de uma montanha de lixos e restos, latas de sopa Campbell, pacotes de Brillo, antena parabólica e painel de LED. Essa torre pode aparecer então das duas formas para o público: como figurino e como cenário e pode colocar a atriz em um plano mais alto de atuação. Temos também uma montanha de lixo em que a atriz inicia o espetáculo, como se nascesse dele.

Os elementos do pop de Andy Warhol que vemos nessa torre, mas que estão no imaginário do público, aparecem nos quadros de Rinaldo Escudeiro, seja como referência direta às latas, seja nas cores do Pop, na busca pelos elementos cotidianos como a geladeira, o post-it, o carrinho de supermercado, ou a imagem de uma atriz conhecida como é Danielle Winits, cujo rosto aparece em uma das pinturas. Esse mesmo rosto de Danielle irá retornar ao espaço de forma agigantada, como um casco ou uma mochila que a atriz carrega.

Portanto o cenário visualmente trabalha entre o contraponto de cores, texturas e escalas. Ora o colorido do Pop aparece, ora o marrom, o antigo, o enferrujado, o estranho.

O piso do palco é composto por uma textura de tecidos e espumas que gera relevos. Alguns tecidos estão ligados ao urdimento por cordas e ganchos, e brotam do chão e se penduram no ar como pedaços de couro em um curtume, ou pedaços de carne em um açougue.

Esses elementos aéreos de tecido se mesclam a um conjunto de escadas finas e irregulares que se perdem na altura do urdimento. Elas estão presentes aqui e também nas obras e desenhos de Gerald Thomas.

Apresentação de Jane Wagner, dramaturga

Jane Wagner é uma premiada dramaturga, roteirista, diretora e produtora norte-americana, amplamente reconhecida por seu trabalho inovador nas artes cênicas e audiovisuais. Nascida em 1935, no Tennessee, construiu uma carreira marcada pela inteligência mordaz, pelo humor refinado e por uma profunda sensibilidade social. Seu nome está indissociavelmente ligado à atriz e comediante Lily Tomlin, com quem mantém uma parceria artística e pessoal há décadas. Juntas, criaram algumas das obras mais ousadas e sensíveis do teatro e da televisão americana, como o aclamado monólogo teatral Procurando Sinais de Vida Inteligente no Universo, um marco do teatro contemporâneo. Também escreveu para cinema e televisão, tendo vencido vários prêmios, incluindo o Emmy, e sido indicada ao Tony e ao Drama Desk Awards.

Seu estilo é caracterizado por diálogos ágeis, observações afiadas sobre a vida cotidiana e um olhar empático para as contradições humanas – especialmente no que diz respeito à identidade, à cultura e à condição feminina. Com uma obra que transita entre a crítica social e o lirismo, Jane Wagner se firmou como uma das vozes mais originais do teatro americano do século XX, e seu legado continua inspirando novas gerações de artistas e pensadores.

Danielle Winits, atriz

Danielle Winits

Danielle Winits – Foto: Robert Schwenck

Danielle Winits é uma atriz, cantora e bailarina brasileira, reconhecida por sua versatilidade e trajetória marcante no teatro musical, na televisão e no cinema. Nascida no Rio de Janeiro, em 1973, iniciou sua formação artística ainda na infância, estudando balé clássico e jazz, antes de se dedicar à atuação. Sua carreira ganhou destaque na televisão a partir dos anos 1990, com participações em novelas e séries da TV Globo, como Sex AppealUga UgaKubanacan e América, onde se consolidou como uma atriz popular, com forte presença cênica e carisma. Paralelamente, construiu uma sólida carreira nos palcos, especialmente no gênero do teatro musical.

No teatro, é considerada uma das pioneiras da chamada “era de ouro” dos musicais no Brasil. Protagonizou grandes produções como ChicagoHairsprayGypsyCabaret e Xanadu, demonstrando domínio em canto, dança e interpretação – um conjunto raro de habilidades que a colocou entre as principais atrizes de musicais do país. Além da performance artística, também atuou como diretora e produtora em projetos cênicos mais autorais, buscando ampliar sua atuação no campo cultural. Ao longo da carreira, transita com naturalidade entre a comédia, o drama e o musical, mostrando-se uma artista multifacetada e em constante reinvenção.

Com mais de três décadas de trajetória artística, Danielle Winits continua sendo um nome de referência nas artes cênicas brasileiras, unindo talento, disciplina e paixão pela cena.

Gerald Thomas, diretor

Gerald Thomas

Gerald Thomas _ foto © João Pimenta

Gerald Thomas é um renomado diretor teatral, dramaturgo e encenador multimídia, reconhecido por sua linguagem cênica provocadora, experimental e intelectualmente desafiadora. Nascido em Nova York, em 1954, criado no Brasil, e atuando entre Estados Unidos, Brasil e Europa, Thomas construiu uma carreira internacional marcada pela ruptura de convenções estéticas e pela fusão entre teatro, filosofia, literatura, música e artes visuais. Sua obra é marcada pelo hibridismo e pela desconstrução de narrativas lineares. Em cena, explora o colapso da linguagem, o vazio da cultura de massas, a fragmentação da identidade e as tensões do mundo contemporâneo. Ele frequentemente mistura textos de autores clássicos com intervenções autorais, projeções, música ao vivo e elementos performáticos. Além do teatro, também atua como escritor e ilustrador, sempre com uma estética crítica, ácida e inquieta. Thomas tinha uma relação pessoal com Samuel Beckett, e parceria muito especial com o compositor Philip Glass e com o autor alemão Heiner Müller.

Nos anos 1980, fundou a Companhia de Ópera Seca, por meio da qual produziu espetáculos que se tornaram referência no teatro contemporâneo brasileiro e mundial, como: Eletra com CretaCarmenComFiltro; a Trilogia Kafka, com Bete Coelho que, depois de um retumbante sucesso no Brasil, ganhou capa do New York Times, em outubro de 1988, uma longa temporada no La MaMa e foi a atração principal do Wiener Festwochen (Festival de Viena), em 1989, sendo televisionado na íntegra pela ORF, canal estatal Austríaco; também The Flash and Crash Days, com Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, que viajou para 15 países e  12 premieres mundiais de Samuel Beckett no La MaMa e no Brasil. Em 2014 dirigiu Ney Latorraca em Entredentes. Seus espetáculos mais recentes no Brasil foram: DilúvioF.E.T.O. e Traidor, com Marco Nanini. Ao longo de sua carreira, Thomas dirigiu em grandes teatros da Europa e dos Estados Unidos, incluindo a Royal Opera House (Londres), a Brooklyn Academy of Music (Nova York), do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Gerald Thomas é uma figura central no teatro experimental de língua portuguesa e um artista que desafia os limites da cena, do texto e da representação, mantendo-se, ao longo das décadas, como um criador ousado e visceral.

Luciano Borges, produtor

Luciano Borges é um dos mais atuantes produtores do teatro brasileiro contemporâneo. Sua carreira é marcada por projetos que aliam relevância artística e força de comunicação com o público. Entre seus principais trabalhos estão produções como Você está aí?, Estranho Casal, Relações Aparentes, A Garota do Adeus, VermelhoVanya e Sônia e Masha e SpikeEla é o caraJob e Doce Pássaro da Juventude. Também está à frente da versão brasileira de Prima Facie, de Suzie Miller, espetáculo que coloca em debate questões urgentes sobre justiça, poder e a condição feminina, ampliando assim o diálogo entre teatro e sociedade. Sua atuação se destaca pela curadoria criteriosa de textos, a valorização de grandes intérpretes e o cuidado com a excelência artística e técnica das produções. O que reafirma seu compromisso em apresentar ao público obras que provocam pensamento crítico e ampliam o debate social, fortalecendo seu papel como articulador de projetos que ultrapassam os limites do entretenimento e se afirmam como experiências transformadoras no teatro brasileiro. Com uma trajetória que combina ousadia, qualidade e compromisso com o público, Luciano Borges consolidou-se como referência na produção teatral no Brasil.

Ficha técnica

CHOQUE! Procurando Sinais de Vida Inteligente

  • Texto de Jane Wagner, com intervenções de Gerald Thomas
  • Atriz: Danielle Winits
  • Direção: Gerald Thomas
  • Tradução: Alexandre Tenório
  • Cenário: Fernando Passetti
  • Designer de luz: Wagner Pinto
  • Figurino: João Pimenta
  • Visagismo: Leila Turgante
  • Pintura em tela: Rinaldo Escudeiro
  • Trilha sonora original: Gerald Thomas
  • Sonoplastia: Marcelo Alonso Neves e Gabriel Kirin
  • Assessoria de imprensa: Ney Motta
  • Fotos: Robert Schwenck
  • Design gráfico: Bárbara Lana
  • Diretor de produção: Diogo Bastos Rezende e Nilza Guimarães
  • Diretor geral de produção: Luciano Borges
  • Realização: Borges & Fieschi Produções e Winits Produções

Serviço

CHOQUE! Procurando Sinais de Vida Inteligente

  • Atriz: Danielle Winits
  • Direção: Gerald Thomas
  • Estreia nacional: 2 de outubro de 2025
  • Temporada: 2 de outubro até 2 de novembro de 2025
  • Dias e horários: Quintas, sextas e sábados, às 20h. Domingos, às 17h.
  • Teatro Copacabana Palace – Av. Nossa Sra. de Copacabana, 261, Copacabana, Rio de Janeiro.
  • Ingressos: Plateia frente – R$ 210,00 (inteira) e R$ 105,00 (meia); Plateia meio – R$ 180,00 (inteira) e R$ 90,00 (meia); Balcão – R$ 120,00 (inteira) e R$ 60,00 (meia).
  • VendasOnline pelo site ou app da Sympla e na bilheteria do teatro durante a temporada, todos os dias de espetáculo 2h antes.
  • Acessibilidade: Teatro com espaço acessível para cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção.
  • Duração: 80 minutos
  • Classificação: 12 anos

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