O premiado espetáculo Professor Samba – Uma Homenagem a Ismael Silva realiza circulação entre outubro e dezembro, com patrocínio da FUNARJ. 

por Redação
Professor Samba - Professor Samba - foto de Cláudia Ribeiro

Depois do sucesso de público e crítica nas primeiras temporadas, o espetáculo Professor Samba – Uma Homenagem a Ismael Silva circulará por quatro aparelhos culturais do Rio de Janeiro, entre os meses de outubro e dezembro, com estreia no Teatro João Caetano, no Centro, dia 1º de outubro.

As apresentações do espetáculo no Teatro João Caetano, nos dias 1, 2 8 e 9 de outubro, fazem parte da programação que comemora os 212 anos do Teatro . Além do Teatro João Caetano, o musical passará pelos Teatros Armando Gonzaga (Marechal Hermes), Mário Lago (Vila Kennedy) e Imperator – todos equipamentos da FUNARJ.

A montagem saúda um dos nomes ilustres da música brasileira: Ismael Silva (1905 − 1978). Esse sambista carioca também é um dos fundadores da Escola de Samba Deixa Falar, em 1928 – a primeira agremiação desse tipo que, anos depois, se tornaria a tão conhecida Estácio de Sá.

A trama se desenvolve com o personagem apresentando ao público uma roda de samba, ambientada nas Esquinas do Bairro do Estácio e na Lapa das décadas de 20 a 50, recheada de muitas histórias, muita música e a boa “malandragem”, característica da boemia carioca, contando as passagens da vida de Ismael e passeando por fatos importantes da nossa cultura popular e do histórico cenário carioca da época.

Com autoria de Ana Velloso, que dirige o espetáculo ao lado de Édio Nunes,  a peça venceu o prêmio APTR de Coreografia (Édio Nunes e Milton Filho) , e conta com três atores que se revezam dando vida ao personagem-título: Édio Nunes, que foi indicado como melhor ator no Prêmio Shell, Jorge Maya e Milton Filho.

Com muita versatilidade, eles “reencarnam” Ismael Silva e ainda se desdobram em diversas outras figuras, contando a história do “Professor Samba”, transitando por fatos importantes da sociedade, no contexto da época – na qual esse gênero se renova, resiste, luta contra preconceitos e permanece vivo e forte, tanto tempo após sua saída da Casa da Tia Ciata (1854 – 1924), para conquistar o mundo.

“A transformação do samba, os blocos de carnaval, a virada para a criação da Escola de Samba, o pulsar da bateria, a criação da estrutura não só musical, mas de organização daqueles blocos, cordões, a evolução do maxixe para o samba, são sedimentações feitas a partir do envolvimento de Ismael e seus contemporâneos que transformaram o samba na potência do Rio, num estilo musical que transcende, que é estilo de vida, de cultura, e sociedade que desenha a figura da malandragem, da cabrocha, da cadência, do que se tornou símbolo não só do território fluminense, mas de um país. Assim como o futebol, o Brasil é a terra do samba a partir dele e de outros artistas representados na peça”, diz Édio Nunes.

“A cultura do povo preto que foi abraçada, mas que este mesmo povo sempre foi colocado de lado. Vidas e histórias como a dele, merecem ser contadas, cantadas e reverenciadas’’, completa o diretor.

O artista argumenta que a peça também é uma forma de chamar a atenção da sociedade para não esquecer de nomes tão importantes que ajudaram a transformar a cultura nacional, mesmo com o peso do estigma social e racial, batalhas travadas, ainda na atualidade.

“Professor Samba – Uma Homenagem a Ismael Silva conta a história de um homem, artista, negro, favelado, que mostra que tem talento e que pode ter o espaço dele por merecimento, ser valorizado. Algo não tão distante da realidade atual. É o nosso caso. Somos três artistas pretos, transitamos de maneira multifacetada pela arte. Eu, Jorge e Milton possuímos uma carreira extensa com mais trinta anos fazendo isso, e todos os dias temos que provar que podemos, que somos capazes, nada vem fácil, nós criamos, produzimos, colocamos espetáculos nos palcos, temos outros trabalhos além viver da arte para nos mantermos. Estamos sempre na corda bamba, lutando para manter-se de pé, com trabalho, com dignidade. Os aplausos acontecem, mas como os sambistas que interpretamos, vivemos a instabilidade, à parte. Para os artistas pretos, a luta é contínua. Ismael e os demais sambistas, artistas que vieram antes nós, já travavam essa batalha, de ser e viver da arte e deixar um legado. Defender a cultura e o pão de cada dia. Brigar para não cair no esquecimento’’, acrescenta o ator.

Para Ana Velloso, o espetáculo também tem como objetivo fazer uma reflexão sobre a descolonização dos corpos pretos. “Entendemos, Édio e eu, que precisávamos extrapolar o objetivo inicial, de contar a história do sambista do Estácio, que foi um dos criadores da primeira escola de samba. Queríamos traçar um paralelo entre passado, presente e futuro, discutir problemas humanos, enfatizar que corpos negros são corpos políticos, que não podem ser dissociados de sua realidade histórica, social e cultural. Para alcançar esse objetivo, inseri na dramaturgia traços da vida dos atores, que também compõem a cena, ajudando a contar a história de tantos ‘Ismaeis’, artistas brasileiros, negros, que dedicaram suas vidas à construção da nossa cultura”, pontua a autora e diretora.

Ismael Silva (14/09/1905 −14/03/1978)

Nascido em Niterói, Ismael Silva, caçula de um cozinheiro e de uma lavadeira, mudou-se com a mãe e os quatro irmãos para o Rio de Janeiro, após a morte precoce do pai. No Rio Comprido, bairro vizinho ao Estácio, o menino tornou-se o melhor aluno da escola. Começou na rua o interesse pelo samba. O primeiro, Já desisti, ele compôs aos 14 anos de idade. Muito jovem começou a frequentar os bares do Estácio, onde os sambistas se reuniam. Lá conheceu Francisco Alves, um dos principais cantores da época, que procurou o jovem para gravar seus sambas. O compositor aceitou e, ao lado de Nilton Bastos e Francisco Alves, integrou uma das mais famosas parcerias da música popular brasileira, o trio Os Bambas do Estácio.

Ismael foi um dos fundadores da primeira Escola de Samba do Brasil, a Deixa Falar, em 1928, que depois virou a Estácio de Sá. Tornou-se parceiro frequente de Noel Rosa. Mas, após a morte do amigo, em 1937, Ismael passou por momentos de extrema dificuldade: foi preso por uma briga de bar, teve problemas financeiros e ficou um tempo isolado. A volta triunfal ocorreu em 1950, quando seu samba Antonico foi gravado por Alcides Gerardi, com grande sucesso.

Nas décadas de 60 e 70, foi reverenciado por diversos artistas como Chico Buarque, Vinícius de Moraes e os integrantes do Zicartola. A vida de Ismael, cheia de altos e baixos, e sua obra genial, são a inspiração de nossa homenagem. O artista morreu em março de 1978, aos 73 anos, deixando mais de cem composições, que fazem parte da cultura musical brasileira.

Autora premiada

Atriz, produtora e autora, Ana Velloso participou de espetáculos como Dolores (direção De Bonis), Clara Nunes – Brasil Mestiço (Dir. Gustavo Gasparani), Estatuto da Gafieira e Vianinha (ambos dirigidos por Aderbal Freire Filho), Aurora da Minha vida (dir. Naum Alves de Souza), A Revista do ano (dir. Sergio Modena) e Sambra – 100 Anos de Samba (dir. Gustavo Gasparani) entre outros. Assinou, em parceria com Vera Novello, as peças: Você não passa de uma Mulher, Rio de que sempre Rio, Atlântida – O reino da Chanchada, Clara Nunes – Brasil Mestiço, Estatuto da Gafieira e É a Mãe.

Idealizadora e autora da trilogia Sambinha, Bossa Novinha e Forró Miudinho, recebeu o prêmio de melhor autora por Sambinha e Forró Miudinho. Ganhou premiação similar, ao lado de Vera Novello, pelo musical O Choro de Pixinguinha. Foi indicada ao prêmio de melhor Autora por Kid Morengueira – Olha o Breque!, juntamente com Andrea Fernandes, e Atlântida – Uma Comédia Musical, com de Vera Novello. Autora da série Brasileirinho, estreou na TV em 2025. É autora e foi produtora do espetáculo Copacabana Palace – O Musical, com estreia em 2021, no Teatro Copacabana Palace.

Serviço:

“Professor Samba – Uma homenagem a Ismael Silva”

1, 2, 8 e 9 de Outubro às 19h

Teatro João Caetano – Praça Tiradentes, s/n – Centro, Rio de Janeiro

Ingressos: R$ 20,00 (Inteira) e R$ 10,00 (Meia)

Adquira o ingresso aqui

Instagram: @professor.samba

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