A próxima sexta-feira, 19 de dezembro, marcará um momento duplo de relevância para a astronomia e a segurança global. O cometa interestelar 3I/ATLAS fará sua aproximação máxima da Terra, passando a uma distância segura de 268 milhões de quilômetros (167 milhões de milhas). O evento, no entanto, vai além da observação científica: ele é o cenário para o maior exercício de defesa planetária já realizado na história.
Coordenada pela Rede Internacional de Alerta de Asteroides, a operação mobiliza agências espaciais de mais de 23 nações — incluindo a NASA e a Agência Espacial Europeia (ESA) — para simular uma resposta coordenada a potenciais ameaças cósmicas.
Teste global de prontidão
Embora o 3I/ATLAS não represente qualquer risco de colisão com nosso planeta, sua trajetória oferece o cenário perfeito para um “teste de fogo”. A campanha de observação, iniciada em 27 de novembro e prevista para durar até janeiro de 2026, utiliza o cometa como um caso de estudo em tempo real.
O objetivo é refinar a precisão no rastreamento de objetos que se movem em alta velocidade e testar a comunicação entre observatórios na Terra (no Chile, Havaí e Austrália) e sondas espaciais, como as que orbitam Marte.
“Perigos espaciais podem introduzir desastres imprevistos que interromperiam a vida diária. Este exercício oferece uma chance notável para observadores globalmente refinarem suas habilidades, caso um cometa perigoso seja descoberto no futuro”, declarou a ESA em comunicado oficial, corroborado por autoridades da NASA.
Um visitante único com comportamento anômalo
Descoberto em 1º de julho de 2025 pelo sistema ATLAS, no Chile, o objeto é apenas o terceiro “visitante interestelar” confirmado a cruzar nosso sistema solar, seguindo os passos dos famosos ‘Oumuamua e Borisov. Sua trajetória hiperbólica indica que ele se originou fora da nossa vizinhança estelar e, após esta passagem, jamais retornará.
O 3I/ATLAS tem sido objeto de intenso debate na comunidade científica devido a uma característica peculiar: uma “cauda invertida” (anti-tail). Imagens captadas pelo Telescópio Espacial Hubble mostram uma cauda apontando em direção ao Sol, e não na direção oposta, como é o padrão.
Essa anomalia alimentou especulações, incluindo teorias do astrofísico de Harvard, Avi Loeb, sobre origens artificiais. Contudo, a NASA mantém a classificação oficial de cometa.
“Este objeto parece e se comporta como um cometa, e todas as evidências indicam que é um cometa”, afirmou Amit Kshatriya, administrador associado da NASA. Segundo David Jewitt, professor da UCLA, a “anti-cauda” é um fenômeno ótico causado por partículas de poeira maiores que não são empurradas facilmente pelo vento solar, criando uma ilusão de perspectiva.
Como observar e próximos passos
Após atingir o periélio (ponto mais próximo do Sol) em 30 de outubro, o cometa agora segue seu caminho para fora do sistema solar. Após a passagem pela Terra nesta sexta-feira, ele cruzará a órbita de Júpiter em março de 2026, deixando nossa região definitivamente em meados da década de 2030.
Para entusiastas e astrônomos amadores, o Virtual Telescope Project realizará uma transmissão ao vivo gratuita do evento a partir das 23h de quinta-feira, 18 de dezembro (horário da Costa Leste dos EUA), permitindo que o mundo acompanhe a despedida deste viajante interestelar.
