A síndrome do sapo fervido: A inércia da adaptação na sociedade contemporânea

por Luiz Costa
A síndrome do sapo fervido

Para todos lembrarem desta fabula, vou usar a versão de Olivier Clerc (A síndrome do sapo fervido), esta versão foca na deterioração silenciosa e na perda da capacidade de reação diante de mudanças graduais

“Imagine um sapo sendo colocado em uma panela cheia de água fria. O sapo nada tranquilamente, sentindo-se em casa. Então, alguém acende o fogo sob a panela e a temperatura começa a subir de forma muito lenta, quase imperceptível. Inicialmente, o sapo acha a água morna agradável. Ele se ajusta à temperatura e continua a nadar. À medida que o calor aumenta, o sapo gasta sua energia tentando se adaptar ao novo ambiente. Ele não percebe o perigo, pois a mudança é gradual e ele acredita que pode lidar com ela. Quando a água finalmente atinge o ponto de ebulição, o sapo decide que é hora de pular. No entanto, ele já gastou toda a sua energia tentando se ajustar ao calor crescente. Ele está exausto e entorpecido. Sem forças para o salto salvador, o sapo acaba morrendo fervido, não pela água quente em si, mas pela sua própria incapacidade de decidir quando saltar enquanto ainda tinha forças.”

Nessa popularizada fabula, transcende a simples metáfora de sobrevivência em um poderoso diagnostico da inercia e muitas vezes arrogante da sociedade atual, onde pensa que tudo pode ou tudo sabe. O perigo exposto na fabula não e a mudança gradual, mas a recusa de enxergar coisas ruins, situações ruins ou que te fazem mal e assim mentindo para si mesmo, vai se fechando os olhos para aquilo que não te agrada, que te cozinha mesmo, lentamente. Esta narrativa serve como um espelho para as questões atuais sociais e no campo político, onde a deterioração não tão silenciosa de valores e estruturas é frequentemente aceita por nós como o “novo normal”

O paradoxo da adaptação humana

O paradoxo central desta fabula nos remete a avaliar que a mesma capacidade adaptativa que garante nossa sobrevivência em tempos hostis, pode e tem se tornado nossa maior vulnerabilidade, para enxergar mudanças que vão acontecendo de forma sutil e gradativa, muitas vezes ate na calada da noite em plenárias e em votações que afetam a nossa vida. 

Na sociedade moderna, a panela não é aquecida por um fogo repentino, mas por uma série de micro agressões e concessões, ou até mesmo por nossas escolhas, que isoladamente, parecem insignificantes, mas que nos fazem muito mal, aquecendo mais ainda a “panela”.

A panela social: A vigilância e a Cultura do esgotamento

No âmbito social, esta fabula metafórica nos lembra que como um sentimento confortável e “quentinho” nos fazem aceitar tantos absurdos. Muitas vezes, respondemos a isto com dois tipos de comportamentos: O Hedonismo individualista e muitas vezes cego que adotamos, pois não nos deixa enxergar as vicissitudes da vida que são muitas e a água que vai aquecendo. Ou não podemos também ficar em um masoquismo murmurante e reclamatório em um vitimismo sem fim, mas sim devemos procurar soluções e sair da “panela”, antes que seja tarde.

Hoje vivemos com a perda de privacidade, os especialistas, sempre eles, é hoje em dia tem pra tudo, falam que somos vigiados que por mais de mil câmeras por dia, fora compartilhamento de dados, isso é um exemplo claro da síndrome do sapo fervido, a cada novo dispositivo conectado, cedemos mais dados pessoais. A mudança é tão gradual e a conveniência é tão sedutora que a maioria das pessoas não percebe que trocou a liberdade pela facilidade ou com um click em um link que liberou um desconto em sua aposentadoria. Tudo é agradável para os desavisados, dissipando a energia que deveria ser usada para questionar e proteger a autonomia, que é gasta na adaptação ao novo ecossistema digital.

A cultura do esgotamento (Burnout) é o resultado do aquecimento lento desta “panela “no ambiente de trabalho, não basta trabalhar você tem que produzir ´e com metas cada vez mais, surreais e desumanas, principalmente o famoso “mais com menos”, ou o individuo se adapta ou e marginalizado, quem se adapta ao aumento da temperatura da agua, trabalhando mais horas, sacrificando o tempo pessoal e a saúde mental, até que a exaustão o impede de buscar um ambiente mais saudável. O sapo está exausto, não pelo calor extremo, mas pelo esforço contínuo de se ajustar a um ambiente progressivamente insustentável, e quando fica doente ou cai a dita produtividade, e sumariamente substituído.

A panela política: A normalização do absurdo

No campo político, tão importante em nossas vidas, a fábula do sapo fervido ´e um alerta, puro é simples, contra a normalização do absurdo, A erosão da democracia raramente ocorre por meio de um golpe de Estado abrupto, ele se manifesta, na maioria das vezes, pela aceitação gradual de discursos extremistas e mentirosos, pela desvalorição da educação, da ciência verdadeira, da liberdade de imprensa e o pior pela banalização de atos de corrupção que muitas vezes por certos vieses não nos deixam mais enxergar o que e certo ou errado, e a agua mais aquecendo mais um pouquinho e você fazendo concessões das virtudes do seu valor e deixando de darem um preço, um preço de um botijão de gás ou de um assistencialismo qualquer, é como se você tivesse um lugar na mesa do banquete e te dessem só migalhas e você aceitasse… É a agua já está borbulhando.

O salto da consciência critica

Esta Fabula nos lembra que muitas vezes estar confortável em suas crenças, não quer dizer que nada esteja acontecendo e que está tudo certo, quantos outros sapos estão sendo cozidos neste momento por pensarem desta maneira, ou por viesses inconscientes ou por deixarem de enxergar os fatos. O sapo morre não por falta de força, mas por falta de percepção sobre o momento de usar essa força. Por não escolher, já fazem uma escolha.

A consciência crítica e a capacidade de decisão, nos fazem provocações inquietantes, que mexem com nossas crenças, nossos vieses políticos e de toda sorte de posicionamento, questione e questione sempre, não caia no limbo e de quatro em quatro anos terceirize sua vida por modinha ou por pessoas que nunca estiveram alinhados com seus valores e virtudes, isto e inegociável, pule da panela enquanto ainda dá tempo.

É seja você mesmo.

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