Depois de ser exibida em São Paulo – onde esteve no Edifício Copan, numa parceria com o Pivô – a mostra Entre Nós abre no Paço Imperial, no centro do Rio de Janeiro, no dia 13 de novembro. Entre Nós apresenta trabalhos de 20 artistas e coletivos produzidos entre 2013 e 2023, com apoio da Bolsa ZUM/IMS. Criada pela Revista ZUM, do Instituto Moreira Salles, a bolsa tem o objetivo de incentivar a produção artística contemporânea. (saiba mais abaixo)
Participam da mostra: Aleta Valente, Aline Motta, Bárbara Wagner, Castiel Vitorino Brasileiro, Coletivo Garapa, Coletivo Trëma, Dias & Riedweg, Dora Longo Bahia, Eustáquio Neves, Glicéria Tupinambá, Helena Martins-Costa, Igi Ayedun, João Castilho, Letícia Ramos, Rafael Bqueer, Sofia Borges, Tatewaki Nio, Tiago Sant´Ana, Val Souza e Vijai Patchineelam.
A curadoria é de Thyago Nogueira, coordenador da área de arte contemporânea do IMS, Daniele Queiroz, curadora do IMS, e Ângelo Manjabosco, pesquisador do IMS. As obras da exposição, muitas delas inéditas, pertencem à coleção de arte contemporânea do Instituto Moreira Salles.
São cerca de 200 trabalhos, incluindo fotografias, vídeos e instalações, entre outros suportes. As obras tratam de temas urgentes e atuais, como os fluxos migratórios, a ancestralidade, os desafios ambientais, a restituição de patrimônio, a história da escravização e seus efeitos no Brasil contemporâneo. Tratam ainda de questões associadas à linguagem artística e à expansão do campo da imagem.
A curadoria comenta o processo de concepção da mostra: “Criar uma exposição com obras produzidas ao longo de dez anos é uma oportunidade para rever as utopias e distopias que atravessam a produção artística deste período tão conturbado. Reunidas, estas obras mostram a variedade, a originalidade e a potência da produção contemporânea brasileira; mostram também a lucidez dos artistas sobre o papel que desempenham na construção e reconstrução do país”. Ainda sobre o título da coletiva, comenta: “Entre nós remete às relações de confiança e cumplicidade que servem de base a qualquer criação artística. Aponta também aos nós e às tramas que conectam estes trabalhos, feitos em contextos e tempos tão diferentes.”
A BOLSA:
Desde 2013, a Bolsa ZUM/IMS premia anualmente dois projetos inéditos, elaborados por artistas e coletivos brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil. O objetivo é apoiar e incentivar artistas a aprofundarem sua produção visual, nas mais variadas vertentes, temas e suportes. Os projetos inscritos devem ser inéditos, sem restrição de tema, perfil ou suporte. As pessoas contempladas recebem uma bolsa, atualmente no valor de R$ 80 mil, para o desenvolvimento das obras. O resultado final do projeto, ou parte dele, é incorporado à coleção de arte contemporânea do IMS.
SOBRE AS OBRAS EXIBIDAS:
Avenida Brasil 24h, Aleta Valente (Rio de Janeiro/RJ, 1986)
Contemplada com a Bolsa de 2019
Aleta Valente estreia como diretora, apresentadora e personagem, neste documentário sobre a famosa Avenida Brasil. A artista trata das relações entre o corpo e a cidade, ao longo da via expressa mais importante da cidade do Rio de Janeiro.
A água é uma máquina do tempo, Aline Motta | (Niterói, RJ, 1974)
Contemplada com a Bolsa de 2018
A niteroiense Aline Motta une audiovisual, fotografia e texto em um livro de artista, para tratar de relações familiares e, ao mesmo tempo, coletivas. A artista apresenta seu projeto de longa duração A água é uma máquina do tempo, que contou com o apoio da Bolsa ZUM/IMS, para tratar dos apagamentos e das memórias que acompanham as travessias atlânticas de pessoas e famílias negras.
Mestres de cerimônia, Bárbara Wagner | (Brasília, 1980)
Contemplada com a Bolsa de 2015
Bárbara Wagner estuda manifestações populares ligadas principalmente à música e à dança. Desenvolvido em parceria com as produtoras Pro Rec e KL, a obra apresenta uma série de fotografias feitas durante as gravações de videoclipes de brega-funk no Recife e de funk ostentação em São Paulo.
A anatomia da água: Livro 1, Castiel Vitorino Brasileiro | (Vitória, ES, 1996)
Contemplada com a Bolsa de 2021
Artista, escritora e psicóloga clínica, Castiel lida com conceitos da ontologia Bantu e assume a cura como um momento de liberdade, através de noções sobre espiritualidade e ancestralidade.
Seu livro de artista, produzido com a colaboração da artista maranhense Gê Viana, é composto de fotos, textos, desenhos e outras intervenções; narra a experiência de um corpo que se desloca não mais pela necessidade de fuga ou como resposta à violência, mas impulsionado por sinais de liberdade.
Postais para Charles Lynch, Coletivo Garapa | (São Paulo, SP, 2008)
Contemplado com a Bolsa de 2014
No livro de artista Postais para Charles Lynch, o Coletivo Garapa – formado pelos jornalistas e artistas visuais Leo Caobelli, Paulo Fehlauer e Rodrigo Marcondes – discute a representação visual do linchamento no Brasil contemporâneo, a partir de um episódio de violência acontecido no Rio de Janeiro em 2014.
Memento, Coletivo Trëma | (São Paulo, SP, 2013)
Contemplado com a Bolsa de 2015
Em Memento, o Coletivo Trëma – formado pelos fotógrafos Felipe Redondo, Gabo Morales, Leonardo Soares e Rodrigo Capote, e dedicado à fotografia documental e editorial – cria fotografias a partir de memórias dos imigrantes Dany Vásquez, da Colômbia, e Theresa Senga, de Angola, que chegaram ao Brasil e aqui vivem.
Casulo/Palco, Dias & Riedweg | (Brasil-Suíça, 1993)
Contemplado com a Bolsa de 2018
A dupla Dias & Riedweg, formada em 1993 por Maurício Dias (Brasil) e Walter Riedweg (Suíça) participou da Bienais de Veneza (1999), de São Paulo (2002) e da Documenta 12 em Kassel (2017). Há alguns anos, os artistas vêm desenvolvendo trabalhos sobre o universo psiquiátrico; é o caso da instalação audiovisual Casulo/palco, que registra o cotidiano de um grupo de pacientes do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, com o objetivo de tornar visível o território designado à loucura e às novas formas de clausura a que esses pacientes são submetidos durante o tratamento psiquiátrico.
Brasil x Argentina (Amazônia e Patagônia), Dora Longo Bahia | (São Paulo/SP, 1961)
Contemplada com a Bolsa de 2016
A videoinstalação Brasil x Argentina exibe os efeitos do aquecimento global e das políticas ambientais dos dois países, na Amazônia e na Patagônia. Questão recorrente no trabalho da artista – que é Doutora em Poéticas Visuais pela ECA/USP e tem pós-doutorado em Filosofia pela FFLCH/USP –, a obra põe em evidência a violência na forma de degeneração ambiental, como consequência de um sistema econômico e social insustentável.
Retrato falado, Eustáquio Neves| (Juatuba/MG, 1955)
Contemplado com a Bolsa de 2019
Químico de formação e fotógrafo autodidata, Eustáquio Neves desenvolve um trabalho marcado pela manipulação e pela intervenção em negativos e cópias, que aborda a identidade e a memória de pessoas afrodescendentes no Brasil. No projeto Retrato falado, o artista parte de descrições de parentes, de semelhanças de família e de recursos analógicos e digitais de manipulação fotográfica para reconstruir, em objetos fotográficos, o retrato do avô que não conheceu – e de quem não existe nenhuma imagem nos álbuns da família.
Nós somos pássaros que andam, Glicéria Tupinambá (com Mariana Lacerda e Patrícia Cornils) | (Terra Indígena Tupinambá de Olivença/BA, 1982)
Contemplada com a Bolsa de 2022
No filme Nós somos pássaros que andam, a artista e professora Glicéria Tupinambá – também conhecida como Célia Tupinambá – narra sua missão de recuperar, material e culturalmente, a tradição dos mantos tupinambá. O resgate desses mantos foi realizado na Terra Indígena Tupinambá, no sul da Bahia, a partir de imagens de museus europeus, que hoje guardam os únicos exemplares disponíveis desses mantos sagrados. Graças ao trabalho da artista, a Noruega devolveu recentemente um desses mantos ao Brasil, para integrar o acervo do Museu Nacional. O filme conta com o apoio da cineasta Mariana Lacerda e da jornalista Patrícia Cornils.
Desvio, Helena Martins-Costa | (Porto Alegre/RS, 1969)
Contemplada com a Bolsa de 2014
Artista visual, bacharel em fotografia pelo Instituto de Artes da UFRGS e mestra em Poéticas Visuais pela ECA/USP, Helena Martins-Costa apresenta, em Desvio, fotografias de pessoas desconhecidas – resgatadas em sebos, feiras de antiguidades e coleções particulares – para identificar tipologias e questionar os sistemas ópticos dos equipamentos fotográficos.
Eclosão de um sonho, uma fantasia, Igi Ayedun | (São Paulo/SP, 1990)
Contemplada com a Bolsa de 2022
Artista autodidata, diretora e fundadora da galeria/residência HOA e do MJOURNAL, Igi Ayedun trabalha com pintura, desenho, texto, vídeo, imagens em 3D, fotografia e som. Em Eclosão de um sonho, uma fantasia, Igi apresenta imagens criadas artificialmente por programas de Inteligência Artificial e de interpretação de impulsos cerebrais, como formas de superar o limite óptico das câmeras fotográficas ou mesmo do sistema ocular.
Zoo, João Castilho | (Belo Horizonte/MG, 1978)
Contemplado com a Bolsa de 2013
João Castilho é artista visual; trabalha com fotografia, vídeo e instalação. Recebeu o Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia em 2010 e o Prêmio Conrado Wessel de Arte, em 2008. Em Zoo, Castilho fotografa diversos animais selvagens e silvestres em ambientes domésticos, com a intenção de “discutir as questões em torno da animalidade e abrir uma porta para a investigação do que chamei de mistério humano” – afirma.
Microfilme, Letícia Ramos | (Santo Antônio da Patrulha/RS, 1976)
Contemplada com a Bolsa de 2013
Artista e videomaker, Letícia tem como foco de investigação artística a criação de aparatos fotográficos próprios para captação e reconstrução de imagens – e para a criação de ficções com tais aparatos. No projeto Microfilme, a artista registra uma viagem de exploração a um local ermo, construindo evidências paleontológicas a partir de ampliações panorâmicas feitas com microfilmes e polaroides.
Themônias, Rafael Bqueer | (Belém/PA, 1992)
Contemplado com a Bolsa de 2020
Graduada em Licenciatura e Bacharelado no Curso de Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Rafael Bqueer produziu quatro curtas-metragens estrelados por integrantes do coletivo drag Themônias, formado por mais de 150 pessoas que se montam e se apresentam na cena cultural de Belém. Bqueer é uma das fundadoras do coletivo.
Teatro para o artifício, Sofia Borges | (Ribeirão Preto, SP, 1984)
Contemplada com a Bolsa de 2017
Formada em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo em 2008, Sofia Borges foi uma das fotógrafas indicadas ao Foam Paul Huf Award, em 2010 e em 2014. Publicou, em 2016, o livro The Swamp [O pântano]. Em Teatro para o Artifício, Sofia fotografa uma performance artística que utiliza fotografias, máscaras e colagens para investigar a origem do mundo e de suas representações visuais.
Na espiral do Atlântico Sul, Tatewaki Nio | (Kobe, Japão, 1971)
Contemplado com a Bolsa de 2017
Formado em Sociologia pela Universidade Sophia, em Tóquio, Nio estudou fotografia em São Paulo depois de viver por um ano em Salvador, onde descobriu o trabalho do antropólogo e fotógrafo francês Pierre Verger. A obra Na espiral do Atlântico Sul retoma o tema do fluxo e do refluxo de populações africanas entre os dois continentes – em busca de traços da presença de escravizados libertos retornados do Brasil, no estilo de arquitetura. E também ao promover reencontros imaginários entre imigrantes e refugiados nigerianos que vivem em São Paulo e suas famílias, em diversas cidades da Nigéria.
Chão de estrelas, Tiago Sant’Ana | (Santo Antônio de Jesus/BA, 1990)
Completado com a Bolsa de 2021
Tiago é artista visual, curador e doutorando em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia. Seus trabalhos tratam da representação das identidades afro-brasileiras, ao refletir sobre a permanência das estruturas coloniais, do racismo estrutural e das dinâmicas que envolvem a produção da história e da memória. O filme Chão de estrelas, gravado na Chapada Diamantina, investiga estratégias de fuga e de libertação no período colonial brasileiro, além de discutir como essas táticas reverberam no imaginário visual brasileiro.
Vênus, Val Souza | (São Paulo, 1985)
Contemplada com a Bolsa de 2020
Val Souza vive e trabalha entre Salvador e São Paulo; trabalha com performances desde 2012. Sua prática inclui fotografia, dança, teatro, vídeo e instalação. No projeto Vênus, a artista construiu um painel com mais de mil imagens, que traça relações entre as diversas formas de representação das mulheres negras – incluindo a si mesma – da história da colonização ao Brasil contemporâneo.
Samba Shiva: as fotografias de Sambasiva Rao Patchineelam, Vijai Maia Patchineelam | (Niterói/RJ, 1983)
Projeto contemplado com a Bolsa de 2016
Filho de mãe baiana e de pai indiano, Vijai cresceu em meio ao trabalho fotográfico do pai, geólogo que emigrou para o Brasil nos anos 1970. No livro Samba Shiva, Vijai edita o arquivo fotográfico paterno, em busca de novas conexões artísticas.
INSTITUTO MOREIRA SALLES
Fundado em 1992, pelo embaixador e banqueiro Walther Moreira Salles (1912-2001), o Instituto Moreira Salles está presente em três cidades brasileiras: Poços de Caldas, São Paulo e Rio de Janeiro (a sede carioca está atualmente fechada para reformas). Seu acervo está distribuído em cinco áreas principais: fotografia, música, iconografia, arte contemporânea e literatura. O IMS organiza e recebe em seus centros culturais exposições de fotografia e de artes visuais de artistas brasileiros e estrangeiros, promove mostras de cinema e espetáculos musicais, publica catálogos de exposições, livros de fotografia, literatura e música e duas revistas: a ZUM, sobre fotografia contemporânea, e a serrote, de ensaios sobre arte, política e literatura.
SERVIÇO
ENTRE NÓS: dez anos da Bolsa ZUM/IMS
De 13 de novembro de 2024 a 2 de fevereiro de 2025
Paço Imperial – Centro Cultural do Patrimônio Paço Imperial / IPHAN / MinC
Praça Quinze de Novembro, 48, Centro, Rio de Janeiro / RJ
55 21 2215 2093
Dias/Horários: Terça a domingo e feriados, das 12h às 18h
Entrada gratuita
Abertura: 13 de novembro, das 14h às 19h
A inauguração da mostra contará com a presença de artistas da exposição