Enxergar a potência da mudança e do deslocamento através da pintura é uma das formas que Caninana (Ayra Aziza) apresenta suas narrativas para o público. A artista inaugura no dia 22 de março a sua primeira exposição individual institucional no Museu de Arte do Rio. A mostra “Território de Lembranças” abre a temporada de exposições no MAR em 2025 e apresenta uma produção que retrata temas como: migração compulsória, peregrinação cartográfica, território e miscigenação. A curadoria é assinada por Marcelo Campos, Amanda Bonan, Thayná Trindade, Amanda Rezende e Jean Carlos Azuos. “A importância de trazer uma exposição sobre migrações compulsórias é que esse talvez seja um dos principais assuntos do Brasil. A ideia das migrações se dá muitas vezes por conta do não direito à terra ou mesmo de condições de melhorias de vida. Esse é um assunto clássico para a história da pintura moderna e é importante hoje uma artista negra trazer sua própria visão sobre isso, uma visão que na verdade se potencializa.”, destaca Marcelo Campos, Curador-chefe do MAR.
Com uma pesquisa que perpassa questões profundas na própria construção de nação, o olhar da artista para a migração compulsória não é um olhar de lamento, mas de reconhecimento da impermanência, como se cada movimento carregasse consigo o peso e a leveza da mudança. Caninana (Ayra Aziza) apresenta, através da pintura e do bordado, o caminho que muitas pessoas tomam em busca de uma nova vida. “Tem poder no deslocamento, quando você migra para um lugar novo você aprende uma nova língua, uma nova identidade, e você troca com aquele espaço, você leva e tira, isso é forte demais. A princípio eu via muita dor nisso, até a Keyna Eleison me mostrar que existe poder no deslocamento. Importante pontuar tudo isso pra não apaziguar uma questão que é muito séria e nem parecer que tudo veio inato de mim. A pesquisa se desdobra através de mim, mas a visão é uma construção coletiva de experiências”, ressalta Caninana (Ayra Aziza). O nome da mostra incorpora ainda uma referência de cruzamentos que aparecem nos cadernos da artista e que tornam sua narrativa ainda mais profunda. Caninana percebe todo território como vivo.
A mostra “Território de Lembranças” reúne nove obras – algumas em grandes formatos, onde a artista tenciona os cruzamentos de técnicas como a pintura e do bordado. Entre as suas referências estão Bispo do Rosário e Rosana Paulino: “eles guiam, eles dialogam, o bordado se torna vivo porque é um diálogo com a arte que eles estavam fazendo e não só um caminho, é a construção do todo. Isso naturalmente foi se conectando a minha produção, são referências onde me encontro”, avalia Caninana (Ayra Aziza). A artista caiçara, natural do litoral de São Paulo, retrata a peregrinação cartográfica e nos apresenta um relato pictórico da miscigenação no nosso país. A narrativa que apresenta é mais que figurativa, é real, e transporta os visitantes para reflexões de caráter social.
A exposição reitera a importância de ampliar vozes, narrativas e olhares. A série de pinturas produzidas por Caninana (Ayra Aziza) que estarão expostas no MAR reafirma o papel da instituição em manter-se conectada com o que há de novo. “Manter a vocação do MAR como um lugar de lançamento, de criar as primeiras individuais de artistas jovens, contemporâneos, e ao mesmo tempo fazer junto com a artista esse exercício curatorial, de pensar assuntos, reunir obras e pensar em trabalho. Ela tem pinturas que vão fazer figuração em relação à própria ideia da família, da paisagem até mesmo uma sensação quase abstrata dos mapas com os bordados que os transformam”, afirma o curador Marcelo Campos.
MINIBIO
Caninana (Ayra Aziza), artista visual nascida no litoral de São Paulo, Guarujá, filha de baianos, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Sua produção transita entre a pintura a óleo, bordado e colagem, explorando narrativas ligadas à migração e ao desenvolvimento de povos afropindorâmicos. Graduanda em Ciências Sociais pela UFRJ, sua pesquisa articula arte e território, investigando deslocamentos e ancestralidade.
MUSEU DE ARTE DO RIO
O MAR é um museu da Prefeitura do Rio e a sua concepção é fruto de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura e a Fundação Roberto Marinho. Em janeiro de 2021, o Museu de Arte do Rio passou a ser gerido pela Organização de Estados Ibero-americanos (OEI) que, em cooperação com a Secretaria Municipal de Cultura, tem apoiado as programações expositivas e educativas do MAR por meio da realização de um conjunto amplo de atividades. A OEI é um organismo internacional de cooperação que tem na cultura, na educação e na ciência os seus mandatos institucionais.
”Para a OEI, o Museu de Arte do Rio (MAR) é um espaço fundamental que conecta a cultura carioca ao mundo, preservando e valorizando as expressões artísticas locais. Por meio de suas exposições e iniciativas educativas, o MAR não apenas promove o acesso à cultura, mas representa um convite ao diálogo e à pluralidade, algo de extrema importância para a coesão de nossa sociedade”, comenta Rodrigo Rossi, Diretor da OEI no Brasil. Em 2024, a OEI e o Instituto Arte Cidadania (IAC) celebraram a parceria com o intuito de fortalecer as ações desenvolvidas no museu, conjugando esforços e revigorando o impacto cultural e educativo do MAR, a partir de quando o IAC passa a auxiliar na correalização da programação.
O MAR conta o Instituto Cultural Vale como mantenedor, com a Equinor e LATAM como patrocinadores master e o Itaú Unibanco como patrocinador Ouro.
Além de ter a Globo, a Machado Meyer Advogados, a Cescon Barrieu e Wilson Sons, como apoiadores. Também como parceiros de mídia do MAR: a Globo e o Canal Curta.
O MAR conta ainda com o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, do Governo do Estado do Rio de Janeiro, do Ministério da Cultura e do Governo Federal do Brasil, também via Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Mais informações em www.museudeartedorio.org.br
SERVIÇO:
- Exposição “Território de Lembranças”
- Abertura: 22 de março, às 14 horas
- Galeria da Biblioteca – entrada gratuita
- Museu de Arte do Rio – MAR
- Praça Mauá, 5 – Rio de Janeiro/RJ
- De terça-feira a domingo, das 11h às 18h (última entrada às 17h)
- R$ 20 (inteira) R$10 (meia) – às terças-feiras com entrada gratuita