Vencedor da 7ª edição do Prêmio Kindle de Literatura e semifinalista do 66° Prêmio Jabuti, no ano passado, o romance Ébano sobre os canaviais, de Adriana Vieira Lomar, traz uma narrativa sensível e potente para abordar o impacto de preconceitos de raça, gênero e classe na construção da sociedade brasileira. O livro, publicado em 2023 pela Editora José Olympio, conecta momentos históricos e personagens, propondo reflexões relevantes sobre as bases do país em que vivemos.
No próximo dia 28 de junho, no Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF), a partir das 15h, Adriana dá continuidade à trajetória de seu livro ela participa da Roda de Conversa “Ancestralidade e Memória, ao lado da escritora e jornalista Raquel Quintiliano, colunista da Revista Raça. O evento terá entrada franca. Mais informações no link Sympla: https://www.sympla.com.br/evento/ancestralidade-e-memoria-em-ebano-sobre-os-canaviais/2980947?share_id=whatsapp.
Numa narrativa fictícia inspirada por uma história de sua própria família, a autora tenta desvendar a identidade de sua trisavó, uma mulher que não possui registros formais de sua existência. A obra, de 240 páginas, traz uma estrutura narrativa dinâmica, que foge ao tradicional costurando tempos diversos em capítulos curtos. O panorama construído ilustra o processo da escravidão no Brasil, além de todas as feridas abertas que ainda sangram no último país das Américas a abolir a escravidão.
A história é centrada em Ébano, uma mulher negra alforriada que, com muita garra e perseverança, luta pelos seus sonhos no século XIX. A protagonista, que já precisa demonstrar força e maturidade desde a infância, trilha um caminho repleto de dores, desafios e preconceitos. Na tentativa de superar uma sociedade racista, machista e classista, ela não desiste, ainda que isso custe um preço alto.
Em contrapartida, em tempos mais atuais, Adriana Vieira Lomar apresenta Maria Antonieta, uma mulher racista e privilegiada, que nunca demonstrou interesse em conhecer sua ascendência. Ao longo da narrativa, pontos de contato entre Ébano e Maria Antonieta ficam evidentes, escancarando o quanto o apagamento histórico vivido pela população afro-brasileira é capaz de fortalecer preconceitos enraizados.
Evento Memória e Ancestralidade
O bate papo entre a escritora Adriana Vieira Lomar e Rachel Quintiliano, jornalista, escritora e colunista da revista Raça, será pautado na branquitude como presença que persiste e molda o racismo estrutural. A necessidade de reconstruir a memória da ancestralidade negra para resistir ao monólogo branco. Será explorada na conversa, destacando como essas dinâmicas afetam as narrativas e memórias das pessoas negras e dos seus descendentes, e como a reconstrução da ancestralidade pode servir como um ato de resistência e reapropriação da história.
“Ébano sobre os canaviais” foi gerado diante do vazio da falta de memória. A trisavó preta não herdou a terra, mas gerou herdeiro. Qual mesmo o nome dela? Onde está enterrada? Nasceu onde? Apesar de alforriada, não souberam responder, nem os familiares, muito menos os cartórios ou cemitérios.
Para reconstruir a história negada, a autora pesquisou o Recife do século XIX, os documentos dos jornais da época, os engenhos escravocratas e alguns raros abolicionistas. Da pesquisa nasceu o livro que mais tarde fez Rachel Quintiliano escrever em sua coluna uma carta sob o cunho “Quem se interessa pelo pensamento de uma mulher negra?”
Adriana Vieira Lomar
É escritora e pós-graduada em Literatura Contemporânea. Autora de “Aldeia dos mortos”, “Corredor do tempo”(finalista Jabuti/2024), “Ambiguidades” e “Ébano sobre os canaviais” (vencedor do prêmio Kindle de Literatura e semifinalista Jabuti 2024).
Ficha Técnica
Ébano sobre os canaviais
- Adriana Vieira Lomar| Editora José Olympio, 2023 | Rio de Janeiro
- 240 páginas; 13.5 x 20.5 cm
- ISBN: 978-65-5847-137-0
