A artista indígena, Zahy Tentehar, uma das protagonistas da segunda temporada da série Cidade Invisível na Netflix, encerra sua exposição este mês

A artista indígena, Zahy Tentehar, do povo Tentehar – Guajajara, encerra sua exposição no dia 28 de maio na qual ficou mais dois meses com muito sucesso no SESC Copacabana.

Zahy, uma das protagonistas da segunda temporada da série Cidade Invisível na Netflix, com a personagem Maria Caninana, estreou uma exposição / instalação chamada ZEXAKAW, na Galeria do Sesc Copacabana, dia 17 de março de 2023.

Autodidata e multidisciplinar, Zahy vem entrelaçando diálogos inovadores entre suas múltiplas linguagens, questionando ao longo de suas criações o comportamento da humanidade e suas intervenções socioculturais na contemporaneidade. Nascida na reserva indígena Cana Brava, no Maranhão/Brasil, a artista tem como primeira língua, originária do seu povo, o ze’eng eté, assim, todas as suas criações são antes de tudo pensadas e criadas na sua língua original para depois ser traduzida em qualquer outra língua. 

Zahy Tentehar

Seu novo trabalho, reconhecido e viabilizado pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar 2022/23, chama-se ZEXAKAW, que em português significa espelho. Trata-se de uma instalação artística que entrelaça linguagens plásticas, estéticas e audiovisuais. Para tal, vale ressaltar que neste mês de estreia em que se homenageia as mulheres, a obra conta com uma equipe colaboradora e criativa feminina, potencializando os ideais artísticos contemporâneos da artista Zahy Tentehar: Elaine Rollemberg (sua produtora artística), Doris Rollemberg (cenógrafa) e Fernanda Mantovani (iluminadora). 

ZEXAKAW propõe, como uma de suas experiências, a exibição de uma das obras de videoarte da artista, o filme “Karaiw a’e wá” (Os Civilizados), em que há uma reflexão sobre uma suposta presença civilizada e sua decadência humana. Este filme foi exibido no Museu de Arte Moderna (MAM/RJ) e será exibido em diversos espaços culturais internacionais em 2023, como New Museum/NY, Canal Project/NY, Ulrich Museum of Art/NY, Wichita State University/NY, Stedelijk Museum e Gerrit Rietveld Academie/ Amsterdam. “Karaiw a’e wá” é obra de uma parceria entre a artista e o Selo Candombá, com direção coletiva entre a  artista e os integrantes desta produtora de audiovisual: Daniel Wierman, Marcelo Hallit e Philipp Lavra. 

Imersivo e provocativo, a instalação ZEXAKAW nos apresenta uma reflexão a partir do conceito da palavra espelho e sua relação afetiva histórica com os povos indígenas. Sabe-se que durante a colonização os nativos eram “presenteados” com espelhos por seus colonizadores. A intenção era mostrar-lhes a si mesmos, conduzindo uma reflexão para que o colonizado ao enxergar sua condição e comparar com os colonizadores pudessem acreditar em uma inferioridade de suas condições. Este é um ato racista e cruel, que infelizmente está estruturado na nossa sociedade, sendo mantido até os dias atuais, quando, dentre muitas violências, insistem em acreditar que indígenas são inferiores, não são refinados e nem preparados para ser e estar inseridos dentro de suas próprias terras. 

Ao longo da história, o objeto espelho foi banalizado nesta cultura, mas os impactos se perpetuam na vida dos nativos. Mesmo conscientes da dimensão da violência colonizadora a que foram submetidos, sabendo da distorção das narrativas, principalmente sobre quem são os indígenas, ainda é muito difícil a conquista de um respeito, equidade e reconhecimento devido, se fazendo necessário movimentos em prol de um processo decolonizador.

“Sou uma mulher indígena e artista, sou o resultado do atravessamento em minha identidade de questões originárias e outras criadas e impostas de maneira castradora. Eu estou viva e resisto, mas há em mim sequelas de uma invasão planejada para exterminar minha história, meus antepassados, e minha família. Como descendente daqueles que eram ‘inocentes’ ou ‘puros’ e que foram enganados sobre sua imagem lhes devolvo os espelhos como presentes para que se vejam de forma consciente e reflitam sobre o que são e estão sobre suas imagens refletidas neste presente movimento entre passado e futuro.” Zahy Tentehar

Contudo, por ser o espelho este símbolo significativo para a cultura indígena e um objeto potencial para a apresentação de reflexos diversos, embasa a proposta da obra em propor uma reflexão e inflexão a partir do que se experimenta em coletivo, por uma experiência estética. Assim, ZEXAKAW é um convite a reconhecer-se como Ser-espelhamento, inserção e reflexo, compositor desta sociedade compreendida como civilizada, a qual se deve o questionamento sobre sua presença e responsabilidade nesta existência.

FICHA TÉCNICA DA EXPOSIÇÃO

ARTISTA E IDEALIZADORA

Zahy Tentehar

DIRETORA E PRODUTORA

Elaine Rollemberg

DIRETORA DE ARTE E PROJETO EXPOGRÁFICO

Doris Rollemberg

CENOTÉCNICA

Tessitura Produções Artísticas

ILUMINADORA

Fernanda Mantovani.

PRODUTORA AUDIOVISUAL 

SELO CANDOMBÁ

ASSESSORIA DE IMPRENSA

Maria Fernanda Gurgel 

PROPONENTE

Mariana Villas-Bôas

REALIZAÇÃO SESC – RJ

EDITAL PULSAR

SERVIÇO

ZEXAKAW

Instalação artística com exibição fílmica

ÚLTIMAS SEMANAS – de 17/03 – à 28/05

De terça-feira a domingo, das 10 h às 19 h 

Galeria do Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana) 

Telefone: 2548-1088

Entrada gratuita

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