Muito mais do que uma história de amor, uma declaração necessária sobre a despedida e o luto de dois apaixonados, separados pelo vírus HIV. Um filme que trata de um relacionamento homoafetivo e conversa diretamente com o coração no mais alto nível da expressão do amor e suas diversas formas. Tudo por meio de cartas trocadas por dois amantes, Thiago e João, nos anos 80.
Com roteiro dos jornalistas Marcos Maynart e Beto Alves, o filme acontece numa espiral crescente de poesia em meio a cartas de muitas verdades e emoções. Todas guardadas a sete chaves numabelíssima caixa criada pela artista plástica Christina Oiticica e enviada, muitos anos atrás, como presente a Marcos.
Segredos que nos tocam e são compartilhados pela brilhante interpretação de Adriano Arbool (João) – tanto na atuação quanto na narração –, e pela impecável direção de fotografia de João Mário Nunes, que soube extrair de cada cena a beleza e natureza refletidas nos sentimentos que transbordam das cartas. O toque final é dado pelaelegante trilha sonora de Liah Soares e Fernanda Santanna.
Ao todo, são 13 rápidos minutos; indispensáveis emalertar sobre a importância da contínua luta contra o HIV, preciosos em nos brindar com palavras de amor que singelas folhas de papel tiveram o privilégio de eternizar, bem guardadas numa linda caixa. Um testemunho de que na Terra não há paraíso sem amor.
Referências:
“’A Caixa’ nos lembra que as palavras capturam o tempo, para além da dor ou do sofrimento. Quantas histórias, como a de João e Tiago, foram interrompidas pela Aids? A beleza deste curta é nos lembrar que as histórias de amor devem ser sempre lembradas.” – Lucinha Araújo
“O amor; não existe nenhum outro sentimento mais forte e transformador que une duas pessoas. ‘A Caixa’ nos mostra esse amor de uma maneira muito poética, com excelente direção e roteiro de grande sensibilidade.” – Christina Oiticica
A Caixa’ tem um objetivo emocional muito claro: manter na memória do tempo o registro da homoafetividade em plenos anos 80, no auge da epidemia do HIV. O curta consegue isso sendo dramaturgia, documentário e literatura ao mesmo tempo.” – Henrique Haddefinir, crítico do site Omelete
“O amor entre João e Tiago não mora de aluguel no coração um do outro. A presença física pode ter sido interrompida, mas sentimento permanece e se eterniza nessa obra sensível.” – Hugo Bonemer
“O filme é delicado, sensível e trata de um tema muito caro para mim. Vivi exatamente esse roteiro no final da década de 1990 com a partida do meu grande amor, também acometido pela Síndrome da Imunodeficiência Adquirida”. – Mauricio Mellone, crítico do Favo do Mellone
“A fotografia de ‘A Caixa’ é como olhar para uma pintura que vai se formando aos poucos no contorno de um pincel, e suas cores transbordam no sentimento do protagonista, ditado por um roteiro e direção impecáveis.” – Xandy Novaski, escritor, roteirista e diretor
“Visual e literariamente poético, é um filme muito bonito. Impacta também o fato de as cartas datarem de 40 anos atrás e o mundo hoje ser absolutamente diferente, principalmente na forma de nos relacionarmos, de nos amarmos.” – Adolar Marin, escritor e poeta
Eentrevista com o produtor e roteirista Marcos Maynart
Marcos, você é jornalista há mais de 40 anos. Como surgiu a ideia de “A Caixa”?
Marcos Maynart: Sempre fui apaixonado por fotografia, cinema e livros. Especialmente histórias de gente. Gosto de conversar com idosos, crianças, adolescentes, gente que passa por dificuldades… A ideia do curta surgiu depois da pandemia. O texto foi escrito com meu amigo Beto Alves, jornalista e escritor. Era para ser um livro. Depois, virou um roteiro para uma peça teatral com dois atores, mas estava difícil conseguir a produção. Então, um amigo sugeriu transformar em três curtas-metragens de quatro minutos cada, como uma série. O resultado ficou legal, mas pensei: “Por que não fazer um curta maior juntando as melhores cartas?”. Banquei a ideia e fizemos “A Caixa”.
De onde veio a inspiração?
MM: De cartas reais. Ao todo, eu tinha umas 60 cartas que foram trocadas durante 6 anos entre idas e vindas de dois caras bacanas que se amavam, mas eram completamente diferentes. Um era o prático; o outro, o sábio. Fiquei lendo essas cartas durante muitos anos e imaginando o que poderia fazer com elas. Então, veio o curta.
Apesar de a sociedade ter avançado bastante sobre o amor entre duas pessoas do mesmo sexo, ainda há uma certa resistência à temática. Como se deu esse processo?
MM: Infelizmente, o Brasil é o país que mais mata LGBTQIA+ no mundo. Não acho que a sociedade avançou tanto nessa questão. Falta muito para o Brasil melhorar. Eu não tenho nenhuma resistência a essa temática e nem problema com aceitação. Se a pessoa não aceitar, o problema não é meu, é dela. Eu vou continuar no meu lado e pronto.
Surgido nos anos 80, o HIV ceifou muitas vidas, incluindo grandes artistas, como Cazuza eRenato Russo. Como foi rever esse tema pelo curta?
MM: A gente não pode esquecer que a AIDS ainda existe. Acho importante o tema e senti na pele a dor de perder vários amigos queridos; pessoas fantásticas. O curta é apenas uma pílula, mas tenho certeza de que muita gente vai se emocionar com a história. Essa é a minha intenção, além de não deixar morrer um amor vivido nos tempos sombrios do HIV.
O que você achou do resultado?
MM: Eu me lembro bem do dia em que o diretor,João Mário, produziu um teaser do curta e o enviou para mim. Chorei copiosamente. Dizem que quando o pai gosta do resultado, tudo vai dar certo. Eu acredito nisso.
Qual é o ponto alto da produção na sua opinião?
MM: Tudo é muito lindo, mas me emociono bastante quando o Adriano Arbool, na praia, começa a jogar as cinzas no mar, com aquela luz e a música da LiahSoares de fundo. É o ponto alto para mim.
Quais são os planos para o curta? Pensa em festivais?
MM: A ideia é participar de festivais. O curta está no Youtube e aos poucos a gente vai conquistando um público sério.
Ficha Técnica:
Narração e atuação: Adriano Arbool
Direção: João Mário Nunes
Roteiro: Marcos Maynart e Beto Alves
Produção: Marcos Maynart