Encenado entre 1997 e 1998 com grande sucesso, o espetáculo “A Dona da História”, de João Falcão — que ganhou também uma bem-sucedida versão para o cinema pelas mãos de Daniel Filho —, retorna ao palco em novíssima montagem, sob a direção de Heitor Martinez. A estreia é dia 4 de outubro, no Teatro Candido Mendes, em Ipanema, com produção das atrizes Juliana Martins e Maitê Padilha, que interpretam os mesmos papéis que foram de Marieta Severo e Andréa Beltrão há 27 anos. Prova de que a arte imita a vida, Juliana, que acaba de completar 50 anos e 40 de carreira, leva para a cena justamente os dilemas de uma mulher de meia-idade que precisa lidar no presente com o resultado das escolhas feitas no passado. Mas ela não se arrepende de nada, não.
“Às vezes, eu me pego pensando no que seria da minha vida se não fosse atriz, mas a verdade é que eu não conseguiria ser outra coisa. Tenho muito carinho pela minha trajetória, pela menina que fui aos 12 anos, aos 20, e o fato de completar 50 anos me fez parar para pensar nessas fases — descobri que tenho carinho por todas —, nos afetos, no tempo. E vejo que ele está me fazendo muito bem”, entrega Juliana, que vive o ofício intensamente desde os 10 anos, quando conquistou todo o Brasil na pele de Suely, a filha do professor Fábio Coutinho (Nuno Leal Maia), da novela “A Gata Comeu”, de Ivani Ribeiro.
Uma das premissas que o texto de “A Dona da História” oferece é: afinal, quem nunca desejou reencontrar a si mesmo no passado para dizer umas verdades à sua versão mais jovem ou vice-versa? O espetáculo propõe esse improvável encontro de duas mulheres em épocas distintas, para uma espécie de acerto de contas entre juventude e maturidade, expectativa e realidade. E Juliana não escolheu à toa montar a peça ao lado de Maitê Padilha. As duas foram colegas de classe na CAL – Casa das Artes de Laranjeiras há dois anos, quando a atriz, aos 48, decidiu fazer uma nova graduação.
“Já tinha tentado montar o espetáculo há cerca de 10 anos, mas acabou não acontecendo. Quando conheci a Maitê, percebi que ela era muito parecida comigo. Disse que a gente tinha que fazer mãe e filha em algum trabalho. Mas aí veio o clique de novo dessa peça, perfeito. Então, procurei o João Falcão e negociamos os direitos. Ela acabou se tornando minha sócia nessa empreitada”, festeja Juliana.
“Eu e a Juliana temos uma trajetória parecida. Fomos atrizes mirins, começamos a trabalhar mais ou menos com a mesma idade. Somos bem agitadas, falamos muito rápido, rolou mesmo muita identificação. É a primeira vez que me vejo tão envolvida em todas as etapas do processo artístico, desde o início da criação da montagem e, ao lado da Ju, que já tem uma experiência grande nesse sentido, é bom demais. Esta é uma peça que mostra que ainda há muito o que fazer da vida, que a gente deve honrar nossas escolhas e ter coragem de sermos os donos da nossa história”, reflete Maitê, de 23 anos.
Heitor Martinez foi colega de turma das duas atrizes na CAL e, naturalmente, se juntou à dupla para fazer a direção do espetáculo — a primeira de sua carreira —, já que ele e Juliana são amigos há mais de 20 anos e já dividiram o palco pelo menos cinco vezes: a última em uma das temporadas on-line de “Eu Te Amo”, peça com a qual a atriz roda o Brasil no momento ao lado de Sérgio Marone.
“Foi a Ju que insistiu e muito para que eu voltasse à faculdade. Ela tem tudo a ver com essa minha primeira direção. Durante o curso, clareou essa vontade. Não me sentia preparado antes, mas saí da experiência com força e confiança. ‘A Dona da História’ é uma peça profundamente poética que nos leva a refletir sobre as nossas posturas diante da vida. E a nossa montagem trata desses temas profundos com humor, leveza e carinho”, explica Heitor Martinez.
SINOPSE
A comédia mostra o encontro de uma mulher de meia-idade com sua versão 35 anos mais jovem. A peça é uma bem-humorada aventura sobre o tempo e os seus contratempos. Os sonhos de uma jovem e a maturidade de uma mulher, os encontros e desencontros que o tempo causam, um jogo teatral que convida o público a refletir também sobre a sua própria história.
FICHA TÉCNICA
- Texto: João Falcão
- Direção: Heitor Martinez
- Supervisão de direção: João Batista
- Elenco: Juliana Martins e Maitê Padilha
- Trilha Sonora Original: Caio Paranaguá
- Figurino: Ticiana Passos
- Desenho de Luz: Adriana Ortiz
- Direção Musical: Caio Paranaguá
- Direção de Movimento: Soraya Bastos
- Projeto Gráfico: Felipe Loureiro
- Mídia Social: Giovanna Topfer
- Fotos: Marcos Morteira
- Direção de Produção: Marcia Andrade
- Produtoras Associadas: Juliana Martins e Maitê Padilha
- Idealização: Juliana Martins
- Realização: Bubu Produções
- Assessoria de Imprensa: Dobbs Scarpa
SERVIÇO
- Teatro Cândido Mendes. Rua Joana Angélica 63, Ipanema.
- De 4 a 27 de outubro. Sexta, sábado e domingo, às 20h. R$ 80 (inteira).
- Vendas: https://bileto.sympla.com.br/event/97193/d/272373
- Capacidade: 103 lugares. Duração: 70 min. Classificação: 12 anos.
Espetáculo “Névoa”, que retrata consequências trágicas do bullying e da homofobia, estreia, dia 8 de outubro, no Teatro dos Quatro, no Shopping da Gávea
Sob direção de Lavínia Pannunzio, peça revela cenário preocupante e atual da sociedade brasileira
Embora possa parecer ficção, os números revelam uma realidade preocupante: o bullying no Brasil tem atingido níveis alarmantes, com um aumento de 12% ao ano. Além disso, a violência contra a comunidade LGBTQIA+ é devastadora – uma pessoa desse grupo morre de forma violenta a cada 38 horas no país, segundo a Associação Acontece Arte e Política LGBTI+. Quando o bullying vem associado ao cancelamento nas redes sociais, as consequências psicológicas tornam-se ainda mais graves. Essa complexa realidade ganha vida na peça “Névoa”, que chega ao Rio de Janeiro, dia 8 de outubro, para uma curta temporada no Teatro dos Quatro, depois de passar por São Paulo e São José dos Campos. Com direção de Lavínia Pannunzio, o espetáculo trata o tema com profundidade e humor ácido, e está conquistando públicos e críticos por sua abordagem corajosa e atual.
A trama é mais do que uma narrativa sobre acusações: ela explora como o peso de palavras e ações, muitas vezes esquecidas no passado, pode se intensificar e reverberar com força no presente. A história acompanha Dennis Sullivan, cineasta aclamado por seu talento e inovação, que, na noite de sua vitória no Oscar, surpreende o mundo ao transformar seu discurso de agradecimento em um desabafo público. Durante o que deveria ser um momento de celebração, Sullivan acusa Ethan Rice, um antigo colega de escola, de ser o responsável pelo suicídio de seu melhor amigo, vítima de bullying homofóbico. O episódio expõe as feridas do passado e desencadeia uma série de reações intensas e imprevisíveis.
À medida em que a história se desenrola, os personagens são confrontados com a dura realidade de suas escolhas e os impactos de suas atitudes no cenário digital. O público acompanha de perto a trajetória de Dennis e Ethan, forçados a lidar com as consequências públicas e privadas de seus atos. As revelações chocantes e a tensão crescente mantêm a plateia em suspense, enquanto questões profundas sobre culpa, responsabilidade e justiça são discutidas de forma inteligente e afiada.
O elenco, que reúne talentos da dramaturgia brasileira, é um dos pontos altos da produção. Felipe Hintze, conhecido por suas atuações em “Verdades Secretas” e “Família é Tudo” da Rede Globo, traz uma intensidade única ao palco, ao lado de Fernando Billi (“Gênesis” – Record), Felipe Ramos e Bruno Rocha. Juntos, eles apresentam performances que ressoam com a profundidade emocional e a complexidade exigida pela trama.
O ator Felipe Hintze revela a trajetória complexa e interessante de um personagem gay, que não assume sua sexualidade para a família e os amigos. “Estou muito empolgado em voltar com “Névoa” após uma temporada tão bem-sucedida em São Paulo, agora com a estreia no Rio de Janeiro, o que traz uma expectativa especial, já que é a primeira vez que apresentamos a peça na cidade. É a nossa estreia no Rio. Acredito que os temas que abordamos – bullying LGBT e o impacto cancelamento – são mais urgentes do que nunca, especialmente na era das redes sociais”, adianta Felipe .
O ator também revela que a nova fase da peça é praticamente uma nova montagem, embora ele e o ator Felipe Ramos continuem no elenco. “Agora temos a entrada de atores novos (Bruno Rocha e Fernando Billi) que trouxeram uma energia renovada ao espetáculo, e estou ansioso para compartilhar essa experiência com o público carioca”, comenta o ator também já viveu personagens emblemáticos, como o Moqueca, em “Malhação – Viva a Diferença” (Globo, 2017).
A direção de produção, conduzida por Alina Lyra, garante que cada detalhe contribua para uma experiência teatral completa e imersiva, provocando risos nervosos e reflexões profundas entre o público.
Ficha técnica:
- Texto: Michael Perlmann
- Direção: Lavínia Pannunzio
- Direção de Produção: Alina Lyra
- Realização: Alina Lyra
- Produção executiva: Felipe Hintze e Fernando Billi
- Assistentes de produção: Talita Franceschini e Isa Quinta
- Tradução: Jorge Minicelli
- Elenco: Bruno Rocha, Felipe Hintze, Felipe Ramos e Fernando Billi
- Cenografia: Mira Andrade
- Iluminação: Aline Santini
- Trilha Sonora Original: Rafael Thomazini
- Figurinos: Fábio Namatame
- Fotos de Cena: Leekyung Kim
- Fotos Redes Sociais: Gatu Filmes
- Fotos Cartaz: Gatu Filmes
- Fotos ensaio: Fernando Tavares
- Programação Visual: André Mello
- Assessoria de imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)
Serviço:
- Temporada: De 8 de outubro a 26 de novembro de 2024
- Teatro dos Quatro: Shopping da Gávea – Rua Marquês de São Vicente, 52 – 2° Andar – Gávea.
- Telefone: (21) 2239-1095
- Dias e horários: terças-feiras, às 20h.
- Ingressos: R$ 90 (inteira) e R$ 45 (meia-entrada)
- Duração: 1h10
- Lotação: 402 lugares
- Classificação: 12 anos
- Venda de ingressos: https://bileto.sympla.com.br/event/98913/d/281104/s/1922428?
Comédia dramática Piano Bar, com montagem levemente inspirada em Almodóvar, explora os conflitos de um jovem casal contemporâneo
Direção de Sueli Guerra – de 09 a 31 de outubro
A peça Piano Bar reestreia no dia 09 de outubro, 4ª feira, no Café Manuedu, em Botafogo, e fica em cartaz às quartas e quintas até o dia 31 de outubro. Após o sucesso recente da segunda temporada, realizada em agosto, a montagem volta à cena.
O texto é assinado por João Batista – dramaturgo, professor e fundador da Companhia Dramática de Comédia. A peça tem direção da premiada diretora, coreógrafa e professora Sueli Guerra (Prêmio APTR de Direção de Movimento). No elenco, Stela Celano, Leandro D’ Melo e Greg Young.
A história retrata os diálogos e discussões do jovem casal contemporâneo Regina (Stela Celano) e Marcelo (Leandro D’Melo), durante um jantar. A trama é costurada pelas músicas interpretadas pelo pianista do café, o ator e cantor Greg Young. Um rico repertório recheado de canções consagradas desperta memórias de diversas fases do relacionamento e funciona como gatilho para improváveis conflitos, questionamentos e revelações.
Com ritmo dinâmico, tom irreverente e diálogos permeados de humor, a montagem faz uma leve referência à estética dos filmes de Pedro Almodóvar. A instabilidade do relacionamento desse jovem casal assim como sua dificuldade de comunicação são temas extremamente atuais na nossa sociedade permeada de conversas fragmentadas, romances líquidos e ressignificação dos papéis tradicionais.
“É sempre um prazer dirigir uma comédia leve que põe em xeque as relações provocando reflexão e diversão ao mesmo tempo ” comenta a diretora Sueli Guerra.
A interpretação experiente dos atores convida o público a participar daquela noite, aparentemente feliz, mas que rapidamente pode se transformar em algo trágico e dramático.
Sueli Guerra
Formada pelo Ballet Dalal Achcar e pela Washington School of Ballet, graduada em Dança pela UniverCidade (RJ) e pós-graduada em Direção Teatral, Direção em TV e Teledramaturgia, pela CAL. Diretora e coreógrafa da Cia da Ideia desde 2006, tem mais de dez espetáculos e performances assinados. Em 2001, ganhou o Prêmio Coca-Cola de Teatro Jovem pela coreografia do espetáculo Praça Onze, Prêmio Botequim Cultural de Melhor Coreografia (2020) por seu trabalho em A Cor Púrpura. Prêmio Cenym pelo espetáculo Bibi, uma Vida em Musical e Prêmio APTR 2020 por A Cor Púrpura.
Coreografou os filmes: Madame Satã , Chatô , Carlinhos e Carlão e a série do Netflix B.O. Dirigiu: O Crime do Professor de Matemática, Piano Bar, Meu Lugar no Mundo, O Búfalo, Emilinha, Elizeth – a Divina e Amélia – uma Aventura Musical. Coreografou: Querido Evan Hansen, Beetlejuice, A Cor Púrpura, O Musical; Bibi uma Vida em Musical; Andança, Otelo da Mangueira; Tango Bolero e Cha Cha Cha; Tim Maia, Beijo no Asfalto, o musical; Makuru, entre outros. Integrou as companhias: Renato Vieira Cia de dança, Laso Cia de Dança, Cia Aérea de Dança e Ballet do Terceiro Mundo.
Stela Celano
Atriz formada em Interpretação Teatral pela CAL e Licenciada em Dança pela UniverCidade. Especialista em Psicologia Positiva pela PUC – RS. Stela participou das novelas Um lugar ao Sol (Rede Globo) e Amor sem Igual (Rede Record). No cinema, está no longa Amor Assombrado, de Wagner de Assis, em De Pernas pro Ar, Até que a Sorte nos Separe e Odeio o dia dos Namorados, de Roberto Santucci, O Inventor de Sonhos, de Ricardo Nauenberg e no curta-metragem Ato, de Maria Flor Brazil. Participou das séries Odeio Segundas, Os Homens são de Marte e é pra lá que eu Vou, do canal GNT, “Natália” da TV Brasil, “Tô de graça” e “De Cabelo em Pé”, do canal Multishow. Em teatro, suas peças mais recentes foram O Pequeno Livro das Emoções Perdidas, de Marcelo Albuquerque, Maldito Coração, direção de Isaac Bernat e Ou Tudo ou Nada, direção de Tadeu Aguiar.
Leandro D’Melo
Formado em Teatro (Studio Beto Silveira), o ator participou de diversas montagens teatrais com apresentações que rodaram o país, fez comerciais, séries e novelas. Na TV Globo, estreou no programa Os Caras de Pau, integrou o elenco de programas humorísticos como Zorra Total e Tá no Ar, além das novelas Sangue Bom e Malhação e o quadro Câmera Kids (Fantástico). Participou do seriado Macho Man, dirigido por José Alvarenga e de diversas novelas como A Regra do Jogo, Pega Pega, Alto Astral, Verão 90, Éramos Seis, Amor sem Igual, além de séries como A Sogra que te Pariu e Os Outros. Fez parte do elenco do longa Loucas para casar e recentemente esteve no ar com o personagem Plínio, na novela Terra e paixão (TV Globo).
Greg Young
Ator, brasileiro-britânico, formado em Teatro pela University of Exeter, no Reino Unido. Atualmente, está em cartaz com a peça Piano Bar, de João Batista e direção de Sueli Guerra. Recentemente, participou do treinamento Jogo e Máscara Teatral, com Eduardo Vaccari, Treinamento e Improvisação em oficinas de Artaud – Decroux, com Ana Teixeira, Cia Amok. Em 2023, fez parte do grupo de pesquisa para audiovisual no Quitanda Atuação, liderado por Antônio Karnewale e Maria Assunção. Oficinas de The Lucid Body com Thiago Felix, Meisner, com Ricardo Burgos, Interpretação, com Moacyr Góes; e Pequena Dança para Mulheres que Voam, com Hamilton Vaz Pereria. Em 2019/20, apresentação teatral de “Melodrama” após uma residência com a Cia dos Atores, entre outros trabalhos.
Mais informações:
- Local: Café Arte Manuedu
- Endereço: Rua Dezenove de Fevereiro, 17, Botafogo, Rio de Janeiro.
- Temporada: de 09 a 31 de outubro, às quartas e quintas.
- Ingressos: R$ 60 R$ 30 (meia entrada)
- Horário: 20h30
- Classificação: livre
Ficha Técnica:
- Texto: João Batista
- Direção: Sueli Guerra
- Elenco: Stela Celano, Leandro D’Melo e Greg Young
- Supervisão musical: João Castilho
- Diretor Assistente: Lucas Figueiredo
- Fotografia: Marcos Morteira
- Assessoria de Imprensa: Cristiana Lobo
- Figurino: Margo Margot
- Produção: Manu Hashimoto
- Design gráfico: Essegaroto Aouila
Adaptação inédita no Brasil de Tennessee Williams, “Por Que Desdêmona Amava o Mouro?” estreia no Sesc Santo Amaro no dia 11 de outubro
Com uma abordagem muito à frente de seu tempo para pautas como a misoginia, a homofobia e o racismo, o conto Por que Desdêmona Amava o Mouro?, do norte-americano Tennessee Williams (1911-1983), foi publicado apenas em 2019 graças ao professor, dramaturgo e diretor estadunidense Tom Mitchell, que também adaptou a obra para o teatro. Agora, o público brasileiro pode conferir a versão inédita da peça, com direção de Noemi Marinho, que tem sua temporada de estreia no Sesc Santo Amaro de 11 de outubro a 17 de novembro, com apresentações às sextas e aos sábados, às 20h, e aos domingos e feriados, às 18h.
O texto tem tradução de David Medeiros e Luis Marcio Arnaut, que idealizou a montagem ao lado da atriz Camila dos Anjos, profunda pesquisadora da obra de Williams, e do ator Alfredo Tambeiro. Para completar o elenco, além dos três idealizadores, está a atriz Matilde Mateus Menezes.
Escrita provavelmente entre 1939 e 1943, a obra de Tennessee Williams está em vários rascunhos originais – a maior parte do texto tem o formato de um conto, no entanto, há partes trabalhadas em forma de roteiro para teatro e cinema. A obra teria sido abandonada pelo autor graças ao conselho de Audrey Wood, sua agente.
O motivo seria a presença de três personagens impensáveis para a sociedade conservadora estadunidense em plena Segunda Guerra Mundial: um homem negro com alto status social, uma mulher branca apaixonada, porém independente e que luta por seu desejo, e o amigo homossexual dela que não tinha traços caricatos ou um final trágico.
Por que Desdêmona Amava o Mouro? narra o inusitado romance entre Helen. uma famosa e solitária atriz de Hollywood, reconhecida como símbolo sexual, e Kip, um jovem e talentoso roteirista. Ela, uma mulher que exerce sua liberdade sexual, precisa lutar contra seu próprio preconceito e é obrigada a assumir seu desejo e sua paixão por esse homem negro e bem-sucedido. A condição humana naquela sociedade preconceituosa e misógina está, portanto, acima das questões de gênero e raça, em uma peça cuja abordagem é absolutamente contemporânea.
Personagens inconcebíveis para a década de 1930
Por ser um homem negro com um cargo prestigiado de roteirista de Hollywood, Kip é uma figura absolutamente inconcebível para a época, visto que as pessoas negras sofriam embargos racistas pela sociedade de então de fazer parte de um grupo tão importante e seleto, reservado apenas para pessoas brancas. A personagem, portanto, é um ponto fora da curva e sua presença na peça revela a estranheza dos seus pares profissionais no trato humano com sua raça, os preconceitos sociais e a própria surpresa da personagem ao se perceber em um mundo estranho ao seu.
As contradições da sociedade são expostas como uma ferida aberta e Tennessee Williams a espreme, levando a questão racial a um nível que poderia chocar naquele momento histórico e, assustadoramente, até nos dias atuais.
“É incrível imaginar que Tennessee Williams, um homem branco, nos anos 30, conseguiu imaginar e escrever com tanta elegância e sutileza, Kip. Esse homem negro de sucesso, que tem plena consciência da sua negritude, mas que não se deixa cair no glamour ilusório de Hollywood. Kip percebe que aquela parcela da sociedade branca, que ele se vê obrigado a conviver naquele momento, não o vê como ele realmente é e sim como mais um homem negro objetificado”, comenta o ator Alfredo Tambeiro sobre seu personagem.
Já a atriz Helen Jackson não só ultrapassa as barreiras das exigências étnicas, raciais, culturais e conservadoras de sua sociedade. Ela é retratada como uma mulher estadunidense típica do Sul, cheia de preconceitos, às voltas com uma paixão e uma atração sexual incontroláveis. A luta interior da mulher neste campo de batalha íntima é figurada com delicadeza e um pouco de humor, de forma a respeitar os limites tanto do negro quanto da mulher.
O que existe entre eles é arrebatador e, assim, o dramaturgo quebra as barreiras raciais e os preconceitos seculares com a força do amor, expondo apenas dois seres humanos comuns, tendo que lidar com seus próprios dilemas, suas próprias dificuldades em aceitar o que lhes acontece naquela sociedade nevrálgica, revelando que o problema é estrutural, está nas bases, na tradição, na educação, nos costumes.
Williams a retrata como uma mulher que se permite viver essa atração sexual, uma paixão que pode destruir sua reputação, sua profissão e sua moral, segundo os ditames da época – que exigia das mulheres o recato, o silenciamento, subserviência e obediência, anulando sua sexualidade.
Por fim, o terceiro personagem da peça, também inconcebível naquele momento histórico, é Renaldo, o melhor amigo e confidente de Helen. Um homossexual aberto, com trejeitos efeminados, portanto com um comportamento que destoa das atitudes de um homem heterossexual cis, o que era proibido de ser abordado na época pelos códigos censores.
Na verdade, o homossexual aparecia em algumas peças e em filmes hollywoodianos apenas como alívio cômico, com um comportamento estereotipado e preconceituoso que remetia a trejeitos efeminados. Williams faz esse retrato trágico-cômico, porém com tantas camadas que a personagem revela mais da sociedade e da história desses personagens naquele momento histórico do que a personalidade ou um aprofundamento psicológico de Renaldo.
Um dos pontos mais altos do texto é a forma como Tennessee Williams questiona o tão almejado “sonho americano”, desconstruindo a meritocracia e revelando as desigualdades enraizadas na sociedade estadunidense. “Ele frequentemente retrata personagens marginalizados, cujas vidas são marcadas pela luta, pela desilusão e pela falta de oportunidades. Ao invés de romantizar a ascensão social, expõe as estruturas de poder que perpetuam a desigualdade, questionando a noção de igualdade de oportunidades de brancos e negros na sociedade americana”, comenta Camila dos Anjos, que pode ser considerada uma das atrizes que mais atuaram em obras do autor norte-americano.
“O que mais me chama atenção é a sua contemporaneidade: após mais de 80 anos, questões que martelavam a consciência desse gênio da dramaturgia mundial, hoje já martelam a de muitas pessoas que começaram a se conscientizar sobre a opressão, preconceito e os contrassensos da sociedade capitalista. Talvez uma das histórias mais atuais do Tennessee. Um manifesto contra o racismo, a misoginia e a homofobia”, acrescenta Luis Marcio Arnaut.
Outra camada interessante da peça é, como o próprio título indica, uma referência ao clássico “Othelo, o Mouro de Veneza”, de William Shakespeare, mas ainda busca inspirações na peça “O Mercador de Veneza”, também do bardo inglês; no romance “Oliver Twist”, de Charles Dickens, e no conto “A Princesa”, de D. H. Lawrence.
Por que Desdêmona Amava o Mouro? é possível graças a um projeto contemplado pelo edital ProAc nº 01/2023 – Teatro/Produção de espetáculo inédito.
Ficha Técnica
- Da obra original e inédita de: Tennessee Williams
- Adaptação: Tom Mitchell
- Tradução: Luis Marcio Arnaut e David Medeiros
- Idealização: Luis Marcio Arnaut, Camila dos Anjos e Alfredo Tambeiro
- Direção: Noemi Marinho
- Assistente de Direção: Tati Marinho
- Elenco: Alfredo Tambeiro, Camila dos Anjos, Luis Marcio Arnaut e Matilde Mateus Menezes.
- Direção de Movimento: Erica Rodrigues
- Cenário e Figurino: Chris Aizner
- Iluminação: Wagner Freire
- Direção Musical: Daniel Maia
- Caracterização: Beto França
- Operação de Luz: Luisa Silva
- Operação de Som: Valdilho Oliveira
- Cenotécnico: Alício Silva
- Costureira: Judite Lima
- Estagiária de Produção: Luisa Pamio
- Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
- Social Mídia e Gestão de Tráfego: SM Arte Cultura
- Fotos: Ronaldo Gutierrez
- Projeto Gráfico: Raquel Alvarenga/Studio Janela Aberta
- Administração Financeira e Prestação de Contas: André Roman e Camila dos Anjos
- Produção Executiva: André Roman/Teatro de Jardim SP
- Direção de Produção: Selene Marinho/ SM Arte Cultura
- Coordenação Geral: Camila dos Anjos Produções Artísticas
Serviço
Por que Desdêmona Amava o Mouro?, a partir da obra de Tennessee Williams
- Temporada: 11 de outubro a 17 de novembro
- Sextas, às 21h. Sábados, 20h. Domingos e feriados, às 18h.
- Sesc Santo Amaro – R. Amador Bueno, 505 – Santo Amaro, São Paulo
- Ingressos: R$ 60 inteira | R$ 30 meia | R$ 18 Credencial Plena
- Venda online em sescsp.org.br/
- Classificação: 14 anos
- Duração: 75 minutos
- Capacidade: 274 lugares
- Acessibilidade: Teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida