A loucura em poemas no dia da Luta Antimanicomial – Sereias do Hospício

Rafael Julião lança, no dia 18 de maio, seu segundo livro de poesia “Sereias do Hospício”, na Livraria da Travessa de Botafogo, no Rio de Janeiro. O lirismo do livro está completamente atravessado pela questão da loucura, por sua vez, relacionada à convivência e ao cuidado do autor com sua própria mãe, que era diagnosticada com transtorno bipolar. Assim, o universo da loucura e dos hospitais psiquiátricos, mas também as memórias afetivas e as complexidades do tema, aparecem como reelaboração de uma experiência muito pessoal, mas também muito fértil de identificações com a vida coletiva. Os poemas estão divididos em blocos temáticos ao longo do livro –  “ambulância”, “portões”, “pátio” e “janelas” – e convidam o leitor a uma jornada de cumplicidade em um trabalho que, além do domínio técnico da linguagem e do frescor poético, toca na questão da luta antimanicomial como poucos poetas o fizeram até o momento. Assim, “Sereias do Hospício” se revela um livro potente e necessário.

O autor dá pistas sobre o que o leitor encontrará no livro: “O livro de poemas está centrado nas muitas manifestações da loucura, ou melhor, das falhas e dos deslizes da racionalidade. Em primeiro lugar, o livro explora os elementos míticos vinculados ao canto da sereia, isto é, aos encantamentos que nos movem a caminhar para fora dos limites da razão, em busca dos desejos, das paixões, das tentações. Há muitas referências ao universo da canção popular, que é, desde o mestrado, o meu objeto de pesquisa. A voz humana e suas manifestações artísticas, a canção popular e suas formas de gerar identificações e reforçar as identidades, sua maneira própria de atravessar as biografias e dar sentido às subjetividades e às relações de afeto, sua força de utopia coletiva, de sonho compartilhado, tudo isso aparece de forma latente ao longo dos poemas. O tema da loucura é uma chave importante do livro, mas também as questões vinculadas às instituições psiquiátricas e aos debates sobre saúde mental e luta antimanicomial. O hospício em si, mas também seus personagens, acaba sendo um elemento fundamental da obra, explorado em muitos de seus sentidos. Há, portanto, reflexões sobre os jogos amorosos, sobre as tensões sociais, sobre as contradições do desejo humano, sobre a angústia da liberdade, sobre os espaços de marginalização e exclusão, sobre a força do tempo em seu fluxo constante, sobre as memórias e as projeções, enfim, sobre a vida vivida, lembrada e imaginada”.

A OBRA

“Em Sereias do hospício há sempre alguém plurivocal cantando. É amparada nesse alguém que a voz poética de Rafael se descobre frágil, forte, humana: amor e precipício, transe e transa. Todo o livro, uma pletora de alegria (trágica). Do primeiro ao derradeiro poema, nomeados “Nascente” e “Foz”, respectivamente, há uma circularidade crítica da permanência, da experiência e da reapropriação labiríntica do estado de poesia proposto pelo canto sirênico — canto pré e pós a sereia transmutar sirene. Em tudo a chora materna e seu prazer sonoro que consola e provoca.”

O AUTOR

Rafael Julião

Rafael Julião é professor, poeta e pesquisador da literatura e da canção popular brasileiras. Fez a graduação em Letras na UFRJ, onde também concluiu o mestrado (sobre Cazuza) e o doutorado (sobre Caetano Veloso). Essas pesquisas deram origem a seus livros Infinitivamente pessoal — Caetano Veloso e sua verdade tropical (2017) e Cazuza — Segredos de liquidificador (2019).  Antes disso, ainda em 2014, publicou seu primeiro livro de poemas, intitulado Terra. Atualmente participa de um grupo de pesquisas interuniversitário sobre o desbunde nos anos 1970 e os diálogos entre corpo, cidade e canção.

Serviço
Sereias do Hospício
Autor: Rafael Julião
Local: Livraria da Travessa – Botafogo
Data: 18 de maio
Horário: 19h

Formato: 16 x 23 cm
Páginas: 150
ISBN: 978-85-7174-050-1
Preço de capa: R$ 54,00
Editora Batel

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