Os autores da obra, Antonio Edmilson Martins Rodrigues, historiador e professor da UERJ e PUC-Rio e professor aposentado da UFF, e Luciene Carris, historiadora, professora e pesquisadora, uniram seus conhecimentos e habilidades para lançar uma obra que reflete sobre aspectos da evolução urbana da cidade.
O livro se destaca como uma obra indispensável para estudiosos e interessados na história do Rio de Janeiro. A colina sagrada que foi o berço da cidade no século XVI, se transformou em um ‘dente cariado’ como os seus contemporâneos apelidavam, pois, atrapalhava a expansão da cidade, sem questionar ou refletir o impacto que teria nos habitantes do Morro do Castelo, que foram deslocados e removidos para outros cantos, distantes do Centro e do seu local de trabalho.
Segundo Luciene Carris, “o livro tem como foco principal a análise do controverso desmonte do Morro do Castelo em 1922, durante o mandato do prefeito Carlos Sampaio, mas também recupera os discursos dos engenheiros e dos médicos do século XIX, que pensavam na irradiação da Colina. Cem anos depois, em 2023, o projeto Reviver Centro, procura revitalizar o centro histórico da cidade e repensar as formas de ocupação e moradia, que atendam critérios da preservação de antigos casarios através de técnicas como o retrofit. Acredito que este livro nos faz refletir hoje sobre os desafios enfrentados no passado e no presente, quando a modernização e o crescimento urbano levaram à demolição de partes importantes da cidade”.
Os autores mergulharam minuciosamente nos motivos que levaram à demolição do Morro do Castelo, abordando questões sanitárias, teorias relacionadas a miasmas e interesses ligados à especulação financeira. Nesse contexto, a controvérsia em torno da demolição não passou despercebida pela sociedade da época, e a atuação de figuras como Lima Barreto nos jornais é destacada, revelando como a história envolveu indivíduos comprometidos com a preservação da memória da cidade.
Lima Barreto é a importância da preservação da memória urbana
Para Lima Barreto, a demolição do Morro do Castelo seria a destruição do patrimônio histórico e da memória da cidade, além da remoção abrupta dos moradores mais pobres.
Uma figura verdadeiramente cativante que emerge na narrativa através da obra ‘O subterrâneo do Morro do Castelo’, de Lima Barreto, é a Condessa Lambertini, mais conhecida como Dona Graça. Ela acrescenta uma camada de mistério, de romance e intriga à trama, entrelaçando eventos de forma fascinante, como a lenda do tesouro dos jesuítas que, segundo a crença dos cariocas da época, estaria escondido nas galerias subterrâneas do Morro do Castelo.
Ao contestar as visões tradicionais sobre o modernismo brasileiro na década de 1920, os autores oferecem uma análise convincente da cultura carioca da época estabelecendo, segundo Antonio Edmilson, “uma querela que envolveu os modernos, aqueles que ocuparam a prefeitura da cidade desde Pereira Passos e seus críticos que definiam novas perspectivas para a cidade, em especial, realizando uma distinção entre a cidade e a capital moderna”, destacando a importância de figuras como Lima Barreto.
O livro ‘Da colina sagrada a dente cariado’ examina um evento importante na história do Rio de Janeiro, mas também contribui para uma reavaliação crítica da historiografia, mostrando que os artistas e intelectuais da passagem do século XIX para o XX estavam imersos na busca do moderno e envolvidos pelas tendências europeias da época num grande debate que envolvia tendências nacionalistas e sua crítica.
“Esta obra é uma leitura essencial para compreender a complexa interação entre modernidade, cultura e histórias na cidade do Rio de Janeiro, e sua publicação é oportuna, pois nos lembra da importância de preservar a história e o patrimônio enquanto buscamos um olhar para o futuro, para nossa cidade, comprometido com uma outra cidade e um outro tipo de desenvolvimento, respeitando o direito à memória, tradições e moradia”, diz os autores.
A capa do livro apresenta uma releitura de um desenho do pintor austríaco Thomas Ender, que veio com a Missão Austríaca ao Brasil em 1817. A aquarela realizada pelo artista e historiador Alcides Oliveira retrata a antiga Ladeira da Misericórdia, a primeira rua calçada com pé de moleque no Rio de Janeiro e o principal acesso ao Morro do Castelo. Atualmente, no local, restaram a Igreja da Nossa Senhora de Bonsucesso, que teve sua origem na Capela da Irmandade da Misericórdia, colado à Santa Casa da Misericórdia na rua Santa Luzia, e um pequeno trecho da Ladeira que não leva a lugar algum. Além disso, o espaço é ocupado por um batalhão de policiamento voltado para a segurança da região do Centro.
Colóquio Modernismo no Rio
Durante o ‘Colóquio Modernismos no Rio’ que acontecerá nos dias 4 e 5 de dezembro no Salão Dourado do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, na Praia Vermelha, Urca, haverá uma conferência do professor Antonio Edmilson, no dia 5, às 16 horas, seguida por uma roda de choro, que começa às 17 horas, e o pré-lançamento do livro ‘De colina sagrada a dente cariado: A modernidade carioca e o desmonte do Morro do Castelo (1822-1922)’.No dia 9, a partir das 11 horas, os autores estarão na Livraria e Edições Folha Seca, na Rua do Ouvidor, 39 – Centro.
SERVIÇO:
Lançamento do livro ‘De colina sagrada a dente cariado: A modernidade carioca e o
desmonte do Morro do Castelo (1822-1922)’, de Antônio Edmilson Martins Rodrigues e Luciene Carris, Editora Ayran, 2024, 220 páginas, R$ 60,00.