A Origem do Mundo, eleito um dos melhores espetáculos teatrais de 2023, chega ao Sesc Santana para três apresentações

A Origem do Mundo - Foto: Claus Lehmann

De volta aos palcos paulistanos em três apresentações no teatro do Sesc Santana, entre os dias 19 e 21 de janeiro, A Origem do Mundo emplacou uma temporada de êxitos junto ao público e a crítica especializada ao longo de 2023. Vencedora nas categorias “Melhor Peça em Comédio Versão 2023” e “Melhor Direção em Comédia” do Prêmio Arcanjo, formado por um júri de especialistas e idealizado pelo jornalista cultural e crítico Miguel Arcanjo, a peça também foi eleita um dos melhores espetáculos teatrais do ano por um seleto grupo de jornalistas e críticos do jornal Folha de S.Paulo.

Dirigido por Maria Helena Chira, com dramaturgia e atuação de Luisa Micheletti e Julia Tavares, a montagem é uma adaptação de A Origem do Mundo: uma história cultural da vagina ou a vulva vs. o patriarcado”, um contundente e divertido HQ da cientista política e cartunista sueca Liv Strömquist. Em setembro de 2020, Luisa, que foi arrebatada pelo livro logo nas primeiras páginas, conduziu uma entrevista online com a autora, na abertura do Festival Quadrinhos Na Janela, organizado pela Companhia Das Letras, que editou a obra no Brasil – a HQ foi publicada em 25 países e soma mais de cem mil exemplares vendidos. A partir desse primeiro contato (veja a entrevista: tinyurl.com/y7h8kuvp) e idealizando verter o título para o teatro, Luisa estreitou contato com Liv e negociou um licenciamento de adaptação da obra, acordo que acaba de ser renovado por mais três anos.

Com estreia em abril de 2023 no Sesc Ipiranga, onde cumpriu temporada de 25 sessões, a peça integrou a programação da Virada Cultural de São Paulo e, em setembro, esteve em cartaz no Teatro Gláucio Gill, no Rio de Janeiro.

“Fizemos oito sessões lotadas, e também ficamos felizes com a receptividade da imprensa carioca e de muitos artistas que a gente admira e que foram nos conferir. A cena teatral no Rio está muito quente, e como o Gláucio Gill é um teatro de rua, em Copacabana, a gente também conseguiu atrair muitas pessoas que passavam por ali”, comemora Luisa.

Em reportagem publicada no dia da estreia carioca, o caderno Ela, dedicado ao público feminino do jornal O Globo, destacou o caráter bem-humorado e a capacidade da montagem de propor grandes reflexões: “(…) São abordagens que não só informam como libertam. Afinal, ideias equivocadas estão por trás de questões que atravancam a vida de muitas mulheres”, diz a matéria. Segundo Alessandra Monterastelli, da Folha de S. Paulo, “(…) o ritmo frenético com que uma cena passa para a outra dá a impressão de que estamos assistindo a uma espécie de live-action do quadrinho para o teatro, e as atrizes acrescentam uma dose extra de humor quando adicionam ao roteiro piadas mais próximas do imaginário brasileiro.”

A temporada bem-sucedida no Teatro Gláucio Gill também motivou o convite para que A Origem do Mundo participasse da edição de dez anos do Festival X-Tudo que, organizado pelo SESI (Serviço Social da Indústria) e pela FIRJAN (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), nesta ocasião especial teve o nome vertido para Festival X-Todas e uma programação especialmente composta de produções com protagonismo feminino. A convite do SESI, a peça fez itinerância por unidades de quatro cidades: Macaé, Campos de Goytacazes e Itaperuna, no Rio de Janeiro; e em São José dos Campos, em São Paulo.

“Algo muito especial é que as apresentações no festival X-Todas foram seguidas de debates. Como a montagem gera muitas discussões, reflexões e diálogos, por abordar temáticas sobre o órgão sexual feminino, a menstruação, o orgasmo e sobre coisas que são grandes tabus, conseguimos trazer para fora da cena essas discussões com a mesma leveza e bom humor. E foi lindo ver como a plateia permaneceu no teatro depois das apresentações para poder compartilhar com a gente suas histórias, não só as mulheres, mas também homens que falaram de suas experiências para nós”, comemora Luisa.

Com a dinâmica irresistível e leve imposta por Luisa e Julia, esse caráter de identificação instantânea do público com o que é visto no palco surge de forma natural num jogo de cena que, no entanto, não abre concessões para a complexidade dos temas, como defende a diretora de A Origem do Mundo.

“A reação do público tem muito a ver com tudo o que a peça aborda e com as descobertas que são feitas de um jeito cômico, numa linguagem muito acessível. As mulheres têm parado para pensar em coisas que não sabiam sobre o próprio corpo, assim como os homens tem tido contato com verdades que nem imaginavam. E isso não vem de uma maneira ofensiva, goela abaixo. O poder do humor é muito relevante, neste caso, porque ele é capaz de falar das coisas mais difíceis da melhor maneira possível”, defende Maria Helena.

A temporada 2023 de A Origem do Mundo rendeu quase 40 apresentações da montagem. Feliz com a boa nova de que a peça já inicia o primeiro mês de 2024 com novas sessões no Sesc Santana, Luisa torce agora para que o licenciamento da obra até 2026 possibilite levar a montagem para diferentes públicos em palcos de outras regiões do país. Destaque de uma produção que, como todo bom espetáculo, cresce cada vez mais com a chancela do público, Julia também aposta na longevidade de A Origem do Mundo.

“Eu e Luísa sempre acreditamos no poder desse trabalho. Tudo nele é tão forte, tão potente, que eu acho que, mesmo com o medo e com a dificuldade que envolve qualquer processo criativo, a gente sempre soube que ele seria capaz de chegar exatamente onde chegou. A comédia tem essa coisa da resposta imediata. A gente escuta a ‘aprovação’ da plateia através de uma manifestação sonora, que é o riso. E o fato é que a gente tem sentido e ouvido, não só o riso, mas a atenção, a emoção e também a troca da plateia, sempre interessada em falar sobre a nossa protagonista: a vulva. A sensação é de que estamos apenas começando”, aposta.

A venda online das três sessões de A Origem do Mundo no Sesc Santana estará disponível a partir de 9/1, às 17h, e nas bilheterias a partir de 10/1, às 17h. Acesse: sescsp.org.br/programacao/a-origem-do-mundo-5/

 A Origem do Mundo

 Do realismo ao musical, do depoimento à paródia, a adaptação de A Origem do Mundo a partir da HQ da autora sueca Liv Strömquist tem dramaturgia e atuação de Julia Tavares e Luisa Micheletti, e direção de Maria Helena Chira. Na montagem, as atrizes experimentam, com humor, diferentes linguagens teatrais para recriar passagens importantes da linha do tempo e questionar nomes como Freud, Sartre e a NASA em relação ao que foi dito sobre a vulva e a vagina. Com equipe criativa predominantemente feminina, a peça conversa com todos os gêneros, e por conta do humor e leveza, atua de forma pedagógica com relação a fatos pouco divulgados sobre a anatomia e símbolos da vulva e vagina. Por que o clitóris não foi representado nas enciclopédias até 1998? Por que a NASA apagou a linha que indicava a vulva ao enviar ao espaço a imagem de uma mulher? Por que o orgasmo feminino é considerado difícil e não tão importante quanto o masculino? Quando foi que a menstruação deixou de ser sagrada? Essas e outras questões são abordadas numa montagem em que as atrizes transitam por mais de vinte personagens.  

 Luisa Micheletti

Profissionalizou-se como atriz no INDAC, formou-se em Comunicação Social pela FAAP e como roteirista na Roteiraria. No teatro, foi dirigida por Mika Lins, Márcio Macena, Fernando Ceilão, Caco Ciocler, Cássio Brasil, e fez parte da Cia. Club Noir. Na TV, por 12 anos, foi apresentadora da MTV Brasil e do Multishow, e criou e protagonizou a série Desprogramado. Publicou dois livros: Nem Sofá, Nem Culpa (contos) e Dentro do Outro (poemas). Em suas obras, utiliza a autobiografia ficcional, mistura de gêneros e a interlocução entre diversos arquétipos femininos. Seu primeiro texto teatral, Soror, estreou em 2019, posteriormente ganhando versão audiovisual, sendo selecionada para a categoria filme experimental no Toronto International Woman Film Festival e Montreal Independent Film Festival, além de receber indicação a melhor direção no FestCC (Portugal). Em 2023, integrou o elenco de duas novas séries do Star+, Compro Likes, de André Moraes, e A História Delas, em episódio dirigido por Pablo Uranga. Em 2024, lançará um novo filme autoral e publicará seu primeiro livro voltado ao público infanto-juvenil.

Julia Tavares

Atriz e roteirista carioca, formada pela CAL – Casa das Artes de Laranjeiras, atualmente integra a 18ª temporada da série Detetives do Prédio Azul e tem episódios assinados do Porta dos Fundos no currículo, além de um longa-metragem para a Conspiração Filmes. No teatro, foi dirigida por Luiz Felipe Reis, Vitor Garcia Peralta, João Rodrigo Ostrower, entre outros. Foi indicada ao prêmio Yan Michalski como melhor atriz por Noises Off (2015). Em 2018, esteve em cartaz com o solo autobiográfico de humor Julia & Julia, dirigido por Debora Lamm.

Maria Helena Chira

Atriz, diretora e produtora, formada em Artes Cênicas pela USP, onde também fez Mestrado, Maria começou na Cia de Teatro em Quadrinhos, em textos de Martin Crimp, Leonardo Moreira e Shakespeare. Idealizou, produziu e atuou no espetáculo Ensaio, com direção de Leonardo Moreira, e mais recentemente, A Desumanização, baseada na obra de Valter Hugo Mãe, com direção de José Roberto Jardim, com temporadas de sucesso em Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, desde a estreia, em São Paulo, no Sesc Santana em 2019.

SERVIÇO

A Origem do Mundo

Sesc Santana
19 e 20/1, sexta-feira e sábado, às 20h
21/1, domingo, às 18h

Av. Luiz Dumont Villares, 579 – Santana

Ingressos: R$ 15,00 (credencial plena), R$ 25,00 (meia entrada), R$ 50,00 (inteira). Venda online a partir de 9/1, às 17h, e nas bilheterias a partir de 10/1, às 17h: https://www.sescsp.org.br/programacao/a-origem-do-mundo-5/

Ficha técnica:

Baseada na HQ A origem do mundo: Uma história cultural da vagina ou a vulva vs. o patriarcado, de Liv Strömquist

  • Dramaturgia e atuação: Julia Tavares e Luisa Micheletti
  • Direção: Maria Helena Chira
  • Cenário e Figurinos: Cássio Brasil
  • Iluminação: Gabriele Souza
  • Trilha sonora: Nana Rizinni
  • Direção de Produção: Claus Lehmann
  • Provocadoras do processo: Eme Barbassa e Thais Medeiros
  • Idealização: Luisa Micheletti

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