Em um movimento sísmico que promete redefinir a hierarquia global do entretenimento, a Netflix anunciou nesta quinta-feira a assinatura de um acordo definitivo para a aquisição dos estúdios de cinema e televisão da Warner Bros. Discovery, incluindo as divisões HBO e HBO Max.
A transação, avaliada em US$ 72 bilhões, não apenas une a pioneira do streaming a um dos estúdios mais tradicionais do século, mas também encerra semanas de uma intensa guerra de lances que envolveu gigantes como Paramount e Comcast.
Detalhes financeiros da Mega-Fusão
O acordo avalia a Warner Bros. Discovery em US$ 27,75 por ação. A estrutura do pagamento foi definida de forma mista:
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US$ 23,25 em dinheiro;
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US$ 4,50 em ações da Netflix.
Essa configuração eleva o valor empresarial total (enterprise value) da operação para aproximadamente US$ 82,7 bilhões. A previsão é que a conclusão do negócio ocorra entre 12 e 18 meses, dependendo do rigoroso escrutínio regulatório e da finalização de um processo complexo de reestruturação interna da Warner.
Greg Peters, co-CEO da Netflix, destacou o peso histórico da aquisição:
“Esta aquisição melhorará nossa oferta e acelerará nossos negócios pelas próximas décadas. A Warner Bros. ajudou a definir o entretenimento por mais de um século e continua a fazê-lo com executivos criativos e capacidades de produção fenomenais.”
O Novo império de xonteúdo: Harry Potter, DC e HBO
A estratégia da Netflix foca na aquisição de Propriedade Intelectual (IP) de alto valor. Com a fusão, a gigante do streaming assume o controle de ativos culturais inestimáveis, incluindo:
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Franquias Blockbuster: Todo o universo DC Comics e o Mundo Mágico de Harry Potter.
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Séries Icônicas: O catálogo de prestígio da HBO, com títulos como “Game of Thrones”, “The Sopranos” e “The Big Bang Theory”.
Atenção à Reestruturação: É crucial notar que nem toda a Warner Bros. Discovery irá para a Netflix. As redes de TV a cabo lineares — incluindo CNN, TNT, TBS, HGTV e Food Network — não fazem parte do pacote principal. Elas serão separadas em uma nova entidade independente, provisoriamente batizada de Discovery Global.
Obstáculos regulatórios e “O Laço no Pescoço” do cinema
A transação já nasce sob a sombra de Washington. O Departamento de Justiça (DoJ) dos EUA estaria se preparando para contestar a fusão, citando preocupações antitruste severas.
No Capitólio, a resistência é bipartidária. O senador republicano Mike Lee classificou o negócio como algo que “levanta sérias questões de competitividade”, afirmando ser a transação mais preocupante da última década. Já o deputado Darrell Issa apontou para a matemática do monopólio: a união dos 300 milhões de assinantes da Netflix com os 100 milhões da HBO Max entregaria a uma única empresa o controle de mais de 30% do mercado de streaming.
A indústria criativa também reagiu. O Directors Guild of America (Sindicato dos Diretores) convocou reuniões de emergência para discutir o impacto nos lançamentos cinematográficos, enquanto um grupo de produtores alertou ao Congresso que a fusão “colocaria um laço em torno do mercado de exibição nos cinemas”.
Reação do mercado e controvérsias nos bastidores
A Wall Street reagiu com cautela imediata. As ações da Netflix caíram 5% após o anúncio, refletindo o temor dos investidores quanto aos custos da operação e a incerteza jurídica.
Do lado dos perdedores, a Paramount não saiu em silêncio. A empresa alegou que o processo de licitação foi “contaminado por conflitos de gestão”, favorecendo a Netflix, mesmo que a oferta do streaming (aprox. US$ 28-30 por ação) tenha superado a proposta da Paramount de US$ 27 pela empresa inteira.