A cena artística brasileira acaba de ganhar um projeto inédito e ousado, que une música, pesquisa e performance. A jornalista e radialista Bertha Nutels, estudiosa da obra de Delcio Carvalho, criou a personagem Álla Gurevith, uma drag queen única no mundo: sua missão é interpretar exclusivamente o vasto repertório do compositor. O projeto conta ainda com Wesley May, criador da Álla, maquiador, ator, diretor de teatro e fiel amigo de Bertha, que dá suporte artístico e criativo à construção da personagem.
Álla Gurevith
Tudo começou quando Bertha, apaixonada por música popular brasileira, se deparou com uma canção de Delcio e ficou encantada. A descoberta virou paixão e pesquisa profunda. Ao procurar referências e pessoas que pudessem guiá-la pela riqueza da obra do compositor, Bertha encontrou quem havia compartilhado a vida com ele por 34 anos e guardava um imenso conhecimento sobre sua trajetória. Essa aproximação abriu caminhos para um mergulho sem volta no legado de Delcio Carvalho.
Diferente da maioria das drags que constroem seus shows em cima de grandes sucessos de diversos compositores, Álla Gurevith nasceu para um propósito singular: celebrar e eternizar a obra de Delcio Carvalho. A personagem não é apenas uma intérprete, mas um gesto de amor e respeito, um canal artístico para dar continuidade a um dos repertórios mais ricos da música brasileira.
Bertha, que também estuda canto, já está se preparando para gravar obras que mostram a versatilidade impressionante de Delcio. A seleção inclui fado, bolero, música espanhola, forró e, claro, o samba – gênero no qual ele é reverenciado como um dos maiores nomes.
O projeto traz à tona uma faceta pouco conhecida do compositor: sua capacidade de transitar por ritmos e culturas musicais com a mesma sensibilidade e potência poética. “Queremos mostrar que Delcio não é apenas um nome do samba, mas um compositor universal, que dialoga com diferentes estilos e sentimentos”, explica Bertha.
A escolha de uma drag queen como porta-voz dessa homenagem não poderia ser mais simbólica: Álla Gurevith une irreverência, beleza e emoção, com a orientação de Wesley May, dando corpo e voz a um repertório que atravessa gerações. Trata-se de um projeto que quebra paradigmas e reafirma a importância da diversidade cultural na preservação da memória da música brasileira.
Com Álla Gurevith, a obra de Delcio Carvalho ganha não apenas uma nova intérprete, mas também uma nova vida — vibrante, ousada e plural, exatamente como a arte deve ser. Na foto David Molarinho e assessoria e produção pretah.