André Nakamura estreia na ficção com “Espíritos Vadios” e transforma o deboche em ferramenta literária

André Nakamura

Durante boa parte da vida, André Luiz Nakamura se dedicou às palavras em diferentes frentes: como jornalista, como estudioso do folclore e como advogado público. Textos técnicos, artigos de cultura popular e pareceres jurídicos marcaram seu caminho.

Foi somente após a pandemia, em meio a perdas pessoais profundas, que surgiu a decisão de mergulhar na ficção. “Cansado de chorar até desidratar, resolvi fazer rir”, resume. Daí nasceu Espíritos Vadios, uma trilogia em que o deboche se torna linguagem e filosofia, transformando tragédias sociais em sátira literária.

O primeiro volume: Antros de Raposas

O livro que abre a série, Espíritos Vadios: Antros de Raposas, parte de um cenário marcado pelo vazio de poder. A morte de dois coronéis da Paraíba, figuras temidas e influentes, desencadeia uma disputa violenta por territórios e heranças. Viúvas, ex-esposas e parentes se enfrentam em meio a tiroteios, explosões e traições. Ao redor deles gravitam tipos excêntricos: hackers, mentalistas, pais de santo, prostitutas, advogados ardilosos e políticos corruptos.

O resultado é uma narrativa que combina drama e humor ácido. O riso aparece não para suavizar a violência, mas para expor o absurdo dela. O estilo lembra o tom carnavalesco de Jorge Amado, ao reunir personagens marginais e caricatos, ao mesmo tempo que constrói uma crítica social direta.

Quem viveu os anos 80 reconhece referências a músicas, novelas e filmes da época, recurso que dá sabor nostálgico à história e aproxima o leitor de uma época em que a política e a cultura popular se misturavam de forma explosiva.

Nakamura afirma que não pretende apenas entreter: “O deboche é a grande arma numa luta sem regras”. A frase, que guia sua escrita, reflete também a visão de mundo de quem passou a vida lidando com instituições formais, mas nunca deixou de observar seus paradoxos.

O segundo volume: Fogo na Fornalha

André Nakamura

Se o primeiro livro apresenta o universo dos personagens e a luta por territórios, o segundo amplia o foco para o embate entre o crime organizado e as instituições públicas.

Em Fogo na Fornalha, policiais e promotores iniciam uma força-tarefa contra o prefeito, secretários e vereadores de Campo das Brisas. O que poderia soar como enredo de jornal se transforma, nas mãos de André, em ficção carregada de ironia, mas também de realismo.

As páginas mostram o choque entre a tentativa de moralização e as engrenagens da corrupção entranhadas no poder. O confronto deixa de ser apenas entre famílias rivais ou coronéis decadentes e passa a envolver o Estado em suas disputas. O resultado é uma escalada que aponta para uma guerra ainda maior, conectando política, crime e sobrevivência em um cenário cada vez mais incendiário.

Com este segundo volume, a trilogia ganha densidade. Não se trata de episódios isolados, mas de uma saga contínua, onde cada passo conduz a uma nova camada de crítica social.

Um autor moldado por diferentes experiências

A passagem de André pela ficção não é um salto no escuro. Como folclorista, escreveu durante duas décadas no Anuário de Folclore de Olímpia, explorando temas como lendas urbanas, religiosidade popular e danças brasileiras. Como advogado público, lidou com licitações, concursos e a rotina do poder municipal.

Essas experiências aparecem transfiguradas em sua literatura: o rigor da linguagem jurídica se converte em ironia, e o olhar atento ao cotidiano popular fornece autenticidade às situações e personagens.

Sua formação múltipla em Direito, Letras, Jornalismo e Publicidade, além da pós-graduação em Direito Administrativo, contribui para um estilo híbrido, que alterna entre erudição e coloquialismo, entre a ironia refinada e a crueza da rua.

A Bienal como palco de estreia

A primeira grande apresentação pública da trilogia acontece em outubro, durante a Bienal do Livro de Pernambuco. O autor participará de duas sessões de autógrafos: no dia 10/10, às 17h, no espaço “Leia Mais”, com discurso de abertura, e no dia 11/10, no estande da livraria Palavra Encantada. Durante todo o evento, seus livros estarão disponíveis nos dois estandes.

Para André, a Bienal é mais que uma vitrine: é o encontro com leitores que, assim como ele, aprenderam a rir das contradições do país. Ali, Antros de Raposas estará lado a lado com as primeiras novidades de Fogo na Fornalha, permitindo que o público acompanhe o nascimento de uma trilogia que ainda reserva novos desdobramentos.

Rir para resistir

Ao se lançar na ficção, André Luiz Nakamura não abandona o rigor de quem sempre trabalhou com a palavra, mas adiciona a ela uma dose de deboche como antídoto contra a desesperança.

Sua literatura nasce de experiências pessoais dolorosas, mas se volta para o coletivo, convidando o leitor a rir daquilo que, tantas vezes, provoca indignação.

Espíritos Vadios não é apenas uma história de coronéis e tiroteios, mas uma sátira sobre o Brasil, seus vícios e suas paixões. E é na Bienal do Livro que esse universo encontrará seus primeiros leitores, prontos para rir, refletir e se reconhecer nesse espelho debochado.

Para adquirir o seu exemplar:

Espíritos Vadios – Antros de Raposas (Vol. 1) já está disponível em versão digital na Amazon e também no formato físico pelo Clube de Autores.

Espíritos Vadios – Fogo na Fornalha (Vol. 2) também já pode ser adquirido na Amazon, na versão digital, ou na versão impressa no Clube de Autores.

 

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