Andréa Brêtas apresenta a exposição Pranto no Espaço Cultural Correios Niterói

Andréa Brêtas utiliza as lentes da câmera para conscientizar sobre a violência contra a mulher em fotos realizadas em tribos africanas

A mostra tem por objetivo contribuir para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030, acabando com desigualdades, violência, pobreza e injustiças

“Eu quero contar a história das mulheres que sofrem violência, sejam elas quem forem, pelas lentes da minha câmera, e escolhi as que sofrem mutilação genital feminina (MGF), prática que atinge mais de 200 milhões de mulheres em mais de 90 países no mundo, sendo 29 na África. Se até 2030 não houver a erradicação, mais de 60 milhões de mulheres vão passar por esse processo.

A África é um continente que sempre me provocou um enorme fascínio, algo como um pertencimento de outra vida. Quando viajo para fazer fotos, é o único local de onde não sinto vontade de voltar.

Na exposição apresento fotos da Namíbia e do Quênia. Por que? Para criar um contraponto entre o olhar das mulheres de cada país.

Na Namíbia, não há mutilação. Estive lá e fiz fotos incríveis. Quando retornei assisti ao filme “Flor do Deserto” (2009, dirigido por Sherry Hormann), sobre a modelo somali Waris Dirie, que fugiu e em uma entrevista à revista Marie Claire, em 1996, já uma supermodelo internacional no auge da carreira, abriu ao mundo um assunto até então considerado tabu, a MGF.

Então, viajei para o Quênia, onde a prática é realizada, de forma tão gritante, que acreditam que “Só uma mulher cortada é uma boa mulher”. Em Enugu, estado da Nigéria, por exemplo, soube de uma menina de oito dias de nascida que foi batizada e mutilada no mesmo dia.

Então, através das fotos, da diferença de olhares, as pessoas vão notar a diferença entre as expressões das mulheres desses dois países, e certamente vão se deixar tomar por emoções diversas.

Mas o mais importante é a conscientização de que a violência contra a mulher, independente da forma que seja praticada deve ser falada, gritada e mostrada.

Minha verdade são esses olhares em preto e branco. Você é meu convidado a enxergar a razão dessa luta!”

A fotógrafa e artista plástica Andréa Brêtas apresenta a exposição “Pranto”, onde traz fotos de mulheres africanas em quatro salas do Espaço Cultural Correios Niterói RJ, em preto e branco, para conscientizar sobre a violência contra a mulher, principalmente sobre a MGF – Mutilação Gentital Feminina, que, segundo o Unicef, vitimiza, ainda hoje, milhões de mulheres e meninas em todo mundo e que, a cada ano, atinge cerca de três milhões de meninas, antes de completar 15 anos.

A mostra não traz cores porque tem o objetivo de provocar reações e conexões com o observador, mas traz visivelmente o respeito do olhar de Andréa Brêtas e a excelência da curadoria da Tartaglia Arte na escolha de temas de impacto e importância socio-culturais.

“Pranto” acontece entre os dias 28 de janeiro e 11 de março de 2023, não por acaso. Desde 2012, a data de 06 de fevereiro foi adotada como o Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, por unanimidade, em votação da Assembleia Geral das Nações Unidas (Resolução 67/146). No dia 08 de março, comemoramos o Dia Internacional da Mulher. Em ambas as datas, Andréa Brêtas estará presente para visita guiada e bate papo com outros profissionais para falar sobre o tema.

O enfrentamento às múltiplas formas de violência contra as mulheres é fundamental para que haja condições mais dignas e justas, lutando pela erradicação, respeito e igualdade.

TESTEMUNHOS

“A assassina era profissional. Eu estava paralisada de medo. A mulher retirou do saco uma lâmina de barbear partida” (testemunho de uma vítima)

“Senti que me cortavam a carne, os órgãos genitais. Ouvia o ruído da lâmina que ia e vinha. Depois não senti mais nada …porque desmaiei” (testemunho de uma vítima)

“Se forem mutiladas, as meninas já podem vestir roupa interior, serão mais responsáveis, encontrarão um marido. São mulheres mais completas e respeitadas. Se não forem, sãodiscriminadas (testemunho da matriarca de uma aldeia no Quênia)

“O corpo que Deus me deu à nascença era perfeito. Os homens retiraram-me a força e tornaram-me deficiente (testemunho de uma vítima).

“A África nos testa o sentido de humanidade.

Elas estão lá para nos perguntar em que grau somos humanos.

Quando a dor do outro deixou de ser também a nossa dor?

A Mutilação Genital Feminina existe.

As mulheres africanas resistem.

E nós? A nós, cabe provar que nascer mulher vale a pena.” (Andréa Brêtas)

ANDRÉA BRÊTAS

Carioca, radicada em Petrópolis desde 1992.

Formada em Direito, logo percebeu que não iria encontrar realização plena no mundo jurídico. Sua alma sempre buscou as artes. Com pinturas e esculturas realizou exposições dentro e fora do Brasil, comercializando obras para vários cantos do mundo. Na fotografia, artistas como Brooke Shaden, Danny Bittencourt, Sue Bryce e Flora Borsi atuam como inspiração e parte da formação acadêmica que acumulou através de inúmeros cursos e workshops aqui e no exterior. Na pintura, os clássicos Kandinsky, Miró, Pollock e mais Luís Áquila, Daniel Senise entre outros.
Sua pesquisa artística busca a exposição do interior feminino como foco e, para isso, faz uso da escultura, da pintura e da fotografia como ferramentas incessantes de expressão pessoal e demonstração de sentimentos.

Instagram: @andrea_bretas
Facebook: https://www.facebook.com/andreacbretas

MUTILAÇÃO GENITAL FEMININA – Por Dra. Vanessa Jaccoud, psicóloga clínica e psicossomatista, com Certificação em Traumas Complexos por Harvard Medical School

A prática é concentrada em 30 países na África e no Oriente Médio, e alguns lugares da Ásia e América Latina. Ainda que denominado pela OMS uma violação aos direitos humanos e tenha uma data representando essa luta pela, ainda é praticado por muitos países e culturalmente visto como uma tradição, como um rito de passagem da vida infantil a vida adulta para as mulheres, mesmo que infelizmente, seja feito contra a vontade delas na maioria dos casos.

A OMS descreve a prática como “um procedimento que fere os órgãos genitais femininos sem justificativa médica”. As mulheres que sofreram quando jovens, descrevem a prática ocorrida como brutal e cruel, descrevem as dores inimagináveis que sentem e como são tratadas sem nenhum remorso mínimo de cuidado pelas mulheres que realizam essa prática, são relatos que ninguém deveria sequer imaginar viver esse trauma. Os motivos da prática estão sim ligados às suas tradições e culturas, mas há mais motivos por trás da brutalidade. Dentre alguns estão no controle à sexualidade de mulheres e meninas jovens, já que a prática é realidade em torno dos 12 anos, muitas vezes sendo um pré-requisito para o casamento e relação forte ao casamento infantil. Mas muitas outras comunidades já realizam devido a alguns mitos que circulam entre as comunidades sobre a genitália feminina, crendo que um clitóris que não seja cortado pode crescer ao tamanho de um pênis, ou que a prática aumenta a fertilidade, e outros já consideram a genitália como suja e feia.

A prática é realizada há tempos, crendo a anteceder os tempos do Cristianismo e Islamismo, que só mostra ainda mais há quanto tempo essas mulheres vem sofrendo e são obrigadas a se submeterem, não somente pelo ato em si, mas por viver com medo da sua própria cultura, que suas filhas viverão as mesmas dores e suas filhas então também, a desesperança de receber uma ajuda ou um remorso pelas mesmas mulheres que realizam o ato e os homens que apoiam e demandam. Ainda que seja cultural e visto como uma tradição pelas comunidades que aderem. nenhuma religião em si condena ou promove a prática. É evidente as inúmeras brutalidades do ato em si, as complicações físicas que podem surgir durante e após a longo prazo são inúmeras, mais ainda é a falta de higiene e a falta de importância por quem e onde são realizadas. Além destas, o pior são os efeitos causados na saúde mental destas mulheres.


O trauma que permanece no físico, ecoa também pelo psíquico. A perda de confiança ao próximo, autoconfiança, autoestima e barreiras criadas que dificultam relacionar-se com outros, Transtornos Ansiosos e Depressivos que podem surgir e permanecer com as mulheres que viveram isso. O medo que reina na vida das mulheres que não são tão sortudas ou privilegiadas como nós, que nasceram em comunidades onde são obrigadas a viverem em medo, sujeitas às ideologias que nasceram “errado” ou que seu corpo seja algo repudiável. “Acredito que o impacto vá até muito além do trauma da própria situação em si, dessa violência, independente de estar em tradições, culturas ou comportamentos em massa de um país. Estamos falando de uma desconstrução do feminino, da situação que fere e coloca a margem a expressão do feminino que é, principalmente, pode ser exercido através da sua genital e do contato consigo, toda essa feminilidade e poder justamente se apropriar disso! Somos femininas não somente por orgaos genitais, obviamente que não, principalmente pq nos sentimos a feminilidade aflorar independente do corpo que estamos inserido, mas quando se apropria desse corpo e estamos congruente com esse feminino no físico e se sofre uma mutilação desse tipo, acredito que parte dessa feminilidade, desse direito de exercer a mulher que somos, no sentir na alma e físico, na soma e psiquismo, é ferido ali também, muito dolorosamente em todos os âmbitos, bio, psico, socio, cultural, psíquico, e espiritual, justamente que coloca a prova a certeza de saber quem se é. Preciso me atentar a isso.

Essa desconstrução desse feminiono vai ali em uma série de certezas em quem ela é, e ela começa a estar desfazendo da sua própria crença, do seu próprio sentir, corpo, apropriação feminino que ela representa. Não é só trágico, mas extremamente violento e excessivo. Precisa ser visto que ainda é acontecido nesse século, uma brutalidade enorme. Não tenho ideia de quantos acometimentos podem estar implicados na saúde mental dessas mulheres, mas minimamente traumatizados na brutalidade física e da desconstrução da alma delas, e a ressonância que esses atos traz a vida da pessoa. Então falamos de uma prática que precisa ser revisitada e falada ainda para evitar que ainda seja praticado e mais mulheres sofrerem nas futuras gerações. Falamos muito de violência contra a mulher, essa é uma das brutalidades mundiais que o mundo oferta para as mulheres. Realmente é muito pavoroso pensar nessa dor de alma e corpo, pertencimento, inserção cultural, tudo que permeia a essa mulher e essa feminilidade que está sujeita em tudo que se encaixa.”

 TARTAGLIA ARTE

A Tartaglia Arte foi fundada em 1950 como um estúdio de pintura pelo artista Piero Tartaglia, então conhecido como Piery. Após alguns anos, criou um ponto de referência e encontro cultural com outros artistas e jovens talentos onde, sob a orientação do Mestre, desenvolveram seu estilo pessoal. A paixão avassaladora de Tartaglia pela expressão pictórica com explosões de cor pura e contrastes violentos que tornam a tela viva, deu vida à Escola do Disgregacionismo. Posteriormente fundou as Galerias, para exposição permanente de seus trabalhos e os de seus alunos, e que hoje são dirigidas pelo filho Riccardo.

O amor pela arte e uma visão cultural ampla são as peculiaridades deste grande artista, e representam sua herança moral e espiritual. Herança que continua sendo representada por Riccardo Tartaglia, que trabalha com a mesma seriedade e tenacidade na propagação da arte, através de exposições e eventos internacionais. Mas tudo com a assinatura de Riccardo Tartaglia e Regina Nobrez (Membro da Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro e Embaixatriz Cultural com Honoris Causa, pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina – Honra da Arte de Florianópolis), o que confere um atestado de credibilidade e sensibilidade criativa.

Site: tartagliaarte.org

Instagram: @riccardotartaglia @reginanobreztartaglia @tartagliaarte

SERVIÇO

Exposição: Pranto
Artista: Andréa Brêtas
Instagram: @andreabretas
Curadoria: Riccardo Tartaglia e Regina Nobrez
Instagram: @riccardotartaglia @reginanobreztartaglia @tartagliaarte
Marchand e assessora da artista: Georgia Nolasco @nolascoge
Visitação: 28 de janeiro a 11 de março de 2023
Local: Espaço Cultural Correios Niterói
Av. Visconde de Rio Branco, 481 – Centro – Niterói/RJ
Tel: (21) 2503-8550
De segunda a sexta, das 11h às 18h e sábado, das 13h às 17h
Entrada: gratuita
Classificação: livre
Assessoria de imprensa: Paula Ramagem @_paula_r_soares
Apoio: Consolato Onorario Italiano – Florianópolis/SC – CIB/SC – Espaço Cultural Correios
Acesso: Barcas (estação Araribóia), UBER, táxi, ônibus. Do Rio, metrô ou ônibus até a estação Carioca, caminhar até a Estação das Barcas na Praça XV.
O local possui acessibilidade.
Evento gratuito.
Censura livre.

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