De Gachiakuta às periferias brasileiras: quando o descarte vira cidade e o grafite vira voz

Reprodução do anime Gachiakuta

No episódio 9 do anime Gachiakuta, o protagonista Rudo é lançado no “Fosso”, uma cidade construída a partir de lixo e restos do mundo superior. O que poderia parecer apenas uma fantasia distópica reflete, com força surpreendente, a realidade de milhões de brasileiros que vivem em territórios marcados pelo abandono do Estado. Em Gachiakuta, aqueles considerados “descartáveis” são jogados para baixo; no Brasil, bairros periféricos e comunidades inteiras enfrentam diariamente a mesma lógica, ainda que sem muros tecnológicos separando mundos: a divisão se dá pela desigualdade.

A estética do episódio chama atenção: muros grafitados, estruturas improvisadas, fiações expostas, vielas estreitas e um ambiente onde o improviso é regra de sobrevivência. Para especialistas, essa paisagem encontra paralelo direto nas periferias brasileiras, em especial nas grandes capitais. “O Fosso é a metáfora perfeita do urbanismo do abandono. São territórios que sobrevivem apesar da negligência, e não por causa de políticas públicas,” explica o urbanista Jardel Júnior, fundador do laboratório Cidade Para Todos. Ele também destaca que o graffiti, tão presente na narrativa do anime, exerce no Brasil papel semelhante ao da ficção: “O que muitos chamam de degradação é, na verdade, resistência estética. É a juventude periférica contando sua história com tinta.”

A “Cidade do Grafite” apresentada no anime representa mais do que um cenário; ela é símbolo de memória e insatisfação social. No Brasil, o grafite nasceu como denúncia e afirmação. Dos muros de São Paulo às lajes do Espírito Santo, jovens artistas transformam concreto em manifesto. A arte que surge nesses espaços não é apenas decorativa: é política, comunitária e profundamente identitária. Assim como em Gachiakuta, o ato de pintar o muro é um gesto de ocupar o território com a própria voz.

O episódio 9 também revela outro aspecto fundamental: a força das redes comunitárias. Mesmo vivendo em condições impostas pela desigualdade, os moradores do Fosso criam soluções próprias, constroem laços, se protegem e reinventam sua existência coletiva. No Brasil, essa dinâmica se repete. Projetos sociais, coletivos culturais, associações de moradores e iniciativas independentes sustentam o cotidiano das periferias, suprindo lacunas deixadas pelo Estado. Seja através da arte, da educação popular ou da economia solidária, esses grupos criam caminhos para que a juventude se reconheça como potência — não como descarte.

Ao aproximar Gachiakuta da realidade brasileira, evidencia-se que a ficção japonesa dialoga com temas universais: desigualdade, exclusão, resistência e a capacidade humana de ressignificar ruínas. O que o anime chama de “descarte” é, no Brasil, a consequência direta de políticas históricas que relegaram determinados grupos a papéis sociais fragilizados. Ainda assim, como Rudo descobre ao longo do episódio, existe vida pulsante ali: Vida que insiste, que cria, que se reinventa para sobreviver.

No Fosso ou nas favelas brasileiras, o recado é o mesmo: não existe território completamente perdido quando existe arte, comunidade e juventude produzindo futuro.

Gachiakuta está disponível na Crunchyrroll com episódios lançados todos os domingos às 12h (horário de Brasília).

 

Fonte D’lyra Assessoria de Imprensa

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