Em 2018, a pequena Sofia Azevedo, então com 7 anos, começou a participar de um projeto social de jiu-jitsu com o Mestre Onil, em Belford Roxo, município da Baixada Fluminense (RJ). Pouco depois, um de seus instrutores sugeriu que a jovem talentosa fosse treinar numa academia próxima, a Gfteam. Hoje, apenas seis anos depois, a pré-adolescente já construiu um currículo capaz de receber a atenção e os aplausos de muita gente grande, acumulando nada menos que 62 medalhas de ouro no jiu-jitsu e na luta livre, conquistadas em tatames de competições nacionais e internacionais.
Sofia é, também, a atual número 1 do ranking mundial IBJFF (infanto-juvenil, até 52 kg) e do ranking mundial grappling (médio, meio-pesado e pesado). Sua última conquista foi a medalha de ouro no Salvador Fall Open International, neste mês de maio. Aluna dedicada do 7º ano do ensino fundamental em um colégio em Belford Roxo (RJ), Sofia é uma jovem como muitas outras da sua idade. Nas horas de lazer, gosta de praias, cachoeiras, viagens e passeios em shoppings.
Cada dia mais, entretanto, a atleta – que vai completar 13 anos em julho – vem assumindo uma rotina bem diferente daquela de grande parte de seus amigos. Afinal, ela se utiliza da superação como palavra-chave para cumprir uma agenda de treinamentos desafiadora e, assim, seguir brilhando nos tatames do Brasil e do mundo.
Desde 2020, quando conquistou o alto do pódio no AJP Tour Rio de Janeiro (sua primeira vitória em uma competição relevante), Sofia Azevedo tem se revelado uma joia rara num esporte que exige disciplina, treinamento intensivo, altas doses de foco e comprometimento. E, é claro, algo que ela tem demonstrado ter de sobra: talento. E é como esse “pacote” de qualidades que Sofia vem acumulando seguidas vitórias, seja no jiu-jitsu ou na luta livre. Hoje, a atleta de faixa amarela disputa a categoria infanto-juvenil (12 e 13 anos) para competidoras de até 52 kg (ela pesa 50 kg).
Sofia integra a equipe Gracie Barra / São João Del Rei, que tem polo nesta cidade mineira – para aonde ela viaja a cada 15 dias para sessões de treinamentos intensivos. Ainda hoje, segue treinando duas vezes por semana no projeto social-esportivo que funciona na Praça PEC, em Mesquita, município da Baixada Fluminense (RJ).
A jovem tem um portfólio recheado de medalhas conquistadas em competições relevantes, como o Mundial de Abu Dhabi (ouro em 2022); o Sul-Americano IBJJF (ouro em 2022 e 2024); o Mundial ADCC (ouro em 2023); o Mundial Newbreed (ouro em 2023); o Brasileiro CBJJ (ouro em 2022); além da medalha de prata no Campeonato Europeu (2023), disputado na Irlanda; e da medalha de bronze no Pan-Americano Kids (2023), disputado em Orlando (EUA), entre outras conquistas no Brasil e mundo afora.
Superação também fora dos tatames
No ano passado, sem recursos financeiros para disputar duas importantes competições internacionais (o Pan Kids, nos EUA, e o Campeonato Europeu, na Irlanda), Sofia Azevedo não desanimou: arregaçou as mangas do quimono e foi vender doces na Praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Sua persistência e a vontade de seguir em frente renderam uma prata e um bronze, mas ela não conseguiu dinheiro para viajar, em 2023, ao Mundial de Abu Dhabi, de onde trouxe o ouro em 2022.
“Mesmo ainda muito jovem, olho para trás e percebo o quanto evolui esportivamente nos últimos anos. Isso não seria possível sem o apoio de tanta gente que agora está apostando no meu potencial e acredita que ainda tenho muita coisa a conquistar”, diz Sofia, destacando ter o sonho de chegar ao UFC e, no futuro, abrir um projeto social que seja capaz de oferecer oportunidades para crianças e jovens nos esportes.
A trajetória vitoriosa da jovem Sofia Azevedo tem sido construída com a ajuda de muita gente. Sua mãe, a técnica de enfermagem Fernanda Damásio, divide seu tempo entre o trabalho e os cuidados com a “campeã” da casa, que conta ainda com o incentivo do padrasto, o operador industrial Ulisses Ferreira, um praticante de jiu-jitsu que estimulou a entrada de Sofia no esporte, além da torcida do irmão, Miguel, de 10 anos.
A importância de um mutirão de apoio
Atualmente, a jovem competidora conta com o apoio de uma equipe multidisciplinar, formada por médico do esporte, fisioterapeuta, nutricionista, massoterapeuta, psicólogo, dentista e profissional de educação física, além de professores de jiu-jitsu e luta livre. Esse suporte à jovem atleta é possível graças aos recursos financeiros que vêm sendo disponibilizados por apoiadores como a Secretaria de Esporte e Lazer do Estado do Rio de Janeiro; a madeireira Flaviense GMAD; e o empresário Francisco Soares Brandão, por intermédio de patrocínio oferecido pela Equipe Santo Antônio.
É com esse apoio e o sonho de um dia morar nos EUA, e trilhar uma carreira de sucesso no UFC, que Sofia Azevedo segue se dedicando a uma rotina prazerosa e desafiadora, com as manhãs dedicadas aos estudos e as tardes e noites preenchidas por treinamentos e outras atividades desenvolvidas pela equipe multidisciplinar de profissionais que a acompanha.
“Amo o jiu-jitsu e a luta livre, e meu objetivo é continuar me dedicando muito aos treinamentos e seguindo os conselhos que recebo dos meus pais e da equipe que tem me acompanhado. Os bons resultados que venho alcançando me motivam ainda mais a lutar pelos meus sonhos. Ser esportista no Brasil não é fácil, mas desistir não faz parte da minha vida e da vida dos meus pais”, diz a jovem campeã.