Arte e impacto social: A plataforma comadre traz diversas parcerias para a ArtRio 2023 em busca de transformação

Ana Clara Tito, Coração, 2022
Ana Clara Tito, Coração, 2022

O mercado da arte tem passado gradativamente por uma transformação notável em direção a iniciativas mais conscientes e engajadas. Essa mudança tem sido impulsionada por vários fatores, incluindo uma maior demanda por transparência, responsabilidade social corporativa e a crescente conscientização sobre questões nacionais e globais. É nesse contexto que a plataforma Comadre faz sua primeira participação na ArtRio 23, agendada para os dias 13 a 17 de setembro.

Com o objetivo de impulsionar a visibilidade e angariar recursos significativos para três organizações sem fins lucrativos, a Comadre apresentará uma diversa seleção de obras e uma rede de colaborações abrangente. Fundada em 2023 por Gabriela Davies e Maíra Marques, a Comadre tem como missão destacar temas pertinentes à atualidade por meio de projetos culturais e artísticos. “Esta marca a nossa estreia na ArtRio enquanto Comadre, e não estamos trabalhando sozinhas: estabelecemos colaborações com artistas e galerias em prol de três ONGs focadas na saúde da mulher e da criança“, explica Gabriela. “Acreditamos que vivemos em uma rede interligada e de mutualismo, onde o que afeta um indivíduo ou espécie impacta todos os outros. Portanto, a redução das disparidades sociais só ocorrerá por meio de uma participação generalizada“, completa Maíra.

Essa iniciativa não só reflete a crescente demanda por abordagens socialmente conscientes nesse setor, mas também demonstra a evolução do meio a um papel mais ativo na promoção de mudanças sociais positivas.

A primeira parceria desenvolvida foi com O Pequeno Colecionador, grupo que se propõe a pensar sobre a arte e a experiência do brincar em suas diversas formas, histórias e culturas. Serão lançados dois brinquedos de arte especialmente para a feira, duas máquinas de desenhar dos artistas Carlos Bevilacqua e Michel Groisman. Ambos os brinquedos são fruto de pesquisas significativas dos artistas. A máquina de Groisman faz parte da série “risco”, que está em desenvolvimento desde 2014 e será comercializada como objeto pela primeira vez. Já a máquina de Bevilacqua, chamada de Giropop, surge do interesse do artista nos domínios de tempo e movimento, e das suas explorações na mecânica quântica desde a década de 90 “Comecei a produzir movimentos de padrões aberrantes e achei interessante uma forma de registrar essas ocorrências de maneira a identificar certos padrões nesses eventos completamente indeterminados. Consegui fazer isso com duas peças, e o Giropop é uma delas. Embora seja uma obra para crianças, ela dialoga com crianças, adultos, enfim, com qualquer um.”

Uma parte das vendas dos dois brinquedos é destinada à organização Providência Agroecológica, iniciativa de mulheres no Morro da Providência que atua com educação, arte, agroecologia e saúde. Situada na área do quilombo urbano Pedra do Sal, no território Pequena África, a organização tem o seu trabalho voltado para crianças, adolescentes e mulheres do local.

Outro destaque da feira é a terceira edição do projeto “50×5”. Com curadoria da Comadre, artistas foram convidados a criar cinco obras de arte em formato múltiplo, com 50 edições de cada obra. Os artistas participantes desta edição são Anna Costa e Silva & Nanda Felix, Lenora de Barros, Mariana Palma, Marlon Amaro e Tainan Cabral. A maior parte dos recursos gerados pelo projeto “50×5” será destinada a duas organizações que se dedicam à saúde sexual e reprodutiva das mulheres: o Projeto Vivas, que auxilia mulheres brasileiras a acessarem serviços de aborto legal, e o Nosso Instituto, que promove educação sexual, acesso a contraceptivos de longa duração e capacitação de profissionais de saúde. “Eu me identifico profundamente com as pautas dos direitos das mulheres, pois percebo que qualquer grupo que seja considerado minoritário, mesmo que não o seja, acaba sendo marginalizado. Da mesma forma que as questões raciais são de extrema importância para mim, vejo a necessidade de unirmos forças em prol de uma liberdade mais ampla. Para mim, não faz sentido lutar por direitos para alguns e deixar de lado os outros.” explica Marlon sobre sua participação no 50×5.

Fomentando o apoio ao Nosso Instituto, algumas galerias e artistas participantes da feira estão doando uma porcentagem do valor de uma obra em exposição em seus respectivos estandes. Como é o caso da artista Leoa, representada pela galeria Nonada, que é uma das 15 artistas selecionadas do SOLO, um programa que apresenta projetos expositivos individuais dedicados a um único artista dentro da feira. “Iremos fazer um projeto solo, de uma mulher preta, de Bangu e que compreende as dificuldades de ser e se manter unicamente como artista. Essa iniciativa pode ajudar outras jovens como a Leoa, a alcançar autonomia em suas decisões e a esperança de um futuro mais alinhado com seus sonhos” afirma Paulo Azeco, um dos diretores da galeria Nonada.

O estande da Comadre também exibirá obras doadas por artistas para captação de recursos diretos. Irão compor as paredes do espaço trabalhos de Ana Clara Tito, Azizi Cypriano, Darks Miranda, Maria Antonia e Thix.

Organização e realização: Comadre. art
Curadoria: Maíra Marques e Gabriela Davies
Co-curadora: Mariane Klettenhofer (O Pequeno Colecionador)

Serviços
Data: 13 a 17 de setembro
Local: ArtRio 23, Marina da Glória, Pavilhão Mar, estande I13

Providência Agroecológica

A Providência Agroecológica é uma iniciativa de mulheres no Morro da Providência que atua com educação, arte, agroecologia e saúde, situada na área de abrangência do quilombo urbano Pedra do Sal, no território da Pequena África. Guiadas pelos princípios de valorização dos bens comuns e da diversidade das pessoas e do ambiente, nosso trabalho é direcionado para crianças, adolescentes e mulheres, com o propósito de promover saúde e dignidade por meio da agricultura urbana e atividades culturais. Catalogamos mais de 1.000 espécies diferentes de plantas em nossa sede. Até o momento, restauramos uma área de mais de 4.200 metros quadrados na favela, através da remoção de resíduos sólidos acumulados, plantio e compostagem. Nossa principal estratégia é a rede de apoio, que auxilia na viabilização de nossas ações.

Nosso Instituto

O Nosso Instituto, estabelecido em 2018 e liderado por Erica Tucherman e Ana Teresa Derraik, é uma organização sem fins lucrativos que facilita o acesso à informação qualificada sobre saúde sexual e reprodutiva, com o objetivo de prevenir gravidezes indesejadas, infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e situações de violência. As pessoas que participam de palestras educativas têm a oportunidade de agendar consultas ginecológicas, onde o método contraceptivo de escolha é prescrito ou inserido. Oferecemos também métodos reversíveis de longa duração, como DIU e Implante subdérmico, mesmo aqueles que não são cobertos pelo SUS. As consultas médicas incluem a capacitação dos profissionais de saúde da região. Dessa forma, além do atendimento direto, os profissionais envolvidos na assistência às jovens também treinam ginecologistas, médicos de família, clínicos e/ou generalistas. É um espaço de acolhimento, respeito e acesso, onde depositamos a esperança de um futuro com mais oportunidades para todos. Um espaço de inclusão, troca e transformação. Um espaço para todos, NOSSO.

Projeto Vivas

O Projeto Vivas é uma organização sem fins lucrativos que auxilia meninas, mulheres e pessoas com capacidade de gestar a acessarem os serviços de aborto legal dentro e fora do Brasil. Seu objetivo principal é trabalhar pelo acesso aos serviços de aborto legal e também pela descriminalização social do aborto, sempre baseados nos conceitos de justiça reprodutiva e direitos sexuais. Fundado em 2020 pela advogada e ativista pelos direitos sexuais e reprodutivos Rebeca Mendes, que em 2017 vivenciou a experiência de uma gestação não planejada e não desejada, foi a primeira mulher na América Latina a solicitar à Suprema Corte do país o direito de fazer um aborto legal sem condicionamentos.