Carolina Maria de Jesus, Diário de Bitita, volta aos palcos mais uma vez na Alemanha. Desta vez, o espetáculo, que já rodou várias cidades do Brasil e esteve naquele país em 2020, participará do Festival Sommerwerft 2025 na Weseler Werft, em Frankfurt, Alemanha, na margem leste do rio Main. O evento acontece até 10 de agosto e a atriz Andréia Ribeiro, que há 10 anos, interpreta Carolina com maestria, se apresentará no dia 3 de agosto, domingo, às 21h, horário da Alemanha. Após a apresentação, haverá uma roda de conversa. Vale lembrar que a escritora será enredo da escola de samba Unidos da Tijuca.
A peça conta a história de Carolina Maria de Jesus, descendente de escravizados, moradora de favela, que escrevia em papéis encontrados no lixo. A infância miserável, a fome, a prisão, e o amor pelos livros que mudou sua vida. Sua obra foi publicada na época da ditadura militar no Brasil. Durante muitos anos tentaram apagar suas palavras, mas a poesia de Carolina resistiu e ganhou o mundo.
A encenação, que tem a direção de Ramon Botelho e contribuição textual de Gabriela Caladinho, segue o fluxo de memória de Carolina, refazendo sua infância miserável em Sacramento, no interior de Minas Gerais, quando a chamavam de Bitita, até o lançamento do seu primeiro livro – com enorme sucesso. Para Andréia Ribeiro é de suma importância a peça ‘ganhar o mundo’.
“Apresentar nosso espetáculo Carolina Maria de Jesus, Diário de Bitita no Festival Internacional de Teatro Sommerwerft em Frankfurt, na Alemanha, é reafirmar que a voz da periferia também tem seu lugar no mundo. Mais do que subir ao palco ou viajar, é um momento muito especial na minha caminhada. A voz de Carolina, que nasceu entre barracos e livros, agora vai ecoar às margens do Rio Main. Um Brasil profundo cruza o Atlântico comigo. Tudo em mim é amor e gratidão”

Carolina Maria de Jesus e Ramon Botelho (Foto: Arquivo pessoal)
O diretor Ramon Botelho também fala da obra. ” Eu cursei Literatura Africana com a grande mestra Laura Padilha na UFF em 2005. Ela me apresentou a obra da escritora Carolina Maria de Jesus, na época pouco conhecida. Tinha muito preconceito com a escritora preta e seu português marcado pela oralidade. Carolina escreveu em papeis encontrados no lixo. O primeiro livro foi publicado em 1960, bateu recorde de vendas no Brasil e ganhou o mundo. Porém, tentaram apagar a poesia dura que vinha da favela. Começamos a ensaiar nosso espetáculo, baseado nos livros Quarto de Despejo e Diário de Bitita, em 2013. Era difícil encontrar seus livros, raridades. Muita coisa mudou durante nossa trajetória. Carolina voltou a ter destaque e sua obra o devido reconhecimento. Com muita alegria recebemos o convite para levar nossa peça ao Festival Internacional de Teatro Sommerwerft em Frankfurt, na Alemanha. Ela estava certa quando dizia: Eu não posso ser apagada! “, afirma Ramon Botelho.
Carolina foi incluída na Antologia de Escritoras Negras de Nova York, no Dicionário Mundial de Mulheres Notáveis de Lisboa e no livro “Extraordinárias Mulheres que Revolucionaram o Brasil”, que escolheu, dentre todas as brasileiras, 44 mulheres que impactaram a nossa história.
Mais sobre o Festival
Desde o início, o Sommerwerft defende uma cultura teatral aberta, distante dos teatros tradicionais, em prol da interação social e do diálogo intercultural – e essa atmosfera se deve, sobretudo, ao fato de o projeto ser, e precisar ser amplamente apoiado por um compromisso voluntário. Hoje, mais de duas décadas após o lançamento do festival, ele se tornou uma presença constante na cena teatral independente. Cerca de 200 artistas e grupos contribuem com música, dança, teatro, poesia e performance para um dos maiores festivais de teatro em espaços públicos da Alemanha – com mais de 100.000 visitantes. O festival é um evento anual de artes cênicas, com teatro, dança, música e performances, transformando o espaço em um palco vibrante para artistas locais e internacionais