Avós da Comunidade: Projeto audiovisual enaltece a oralidade e os saberes de personagens que guardam a memória das periferias do Rio

por Redação
Convidadas Serrinha

Revelando histórias potentes contadas diretamente por quem as viveu: Os idosos de seus próprios territórios, o projeto audiovisual “Avós da Comunidade” propõe uma escuta sensível e profunda aos griôs das comunidades cariocas. A iniciativa celebra os guardiões da memória e da sabedoria ancestral e transforma em imagem e som os saberes transmitidos pela oralidade nas periferias do Rio de Janeiro. O lançamento oficial do projeto está marcado para o dia 17 de outubro

Com o patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio do edital Pró carioca Linguagens, as gravações de Avós da Comunidade estão acontecendo no Morro da Providência, região Central do Rio, Morro da Serrinha, zona Norte, e Inhoaíba (Campo Grande), zona Oeste da capital fluminense, com o propósito de enaltecer, resgatar e preservar a memória e a história por meio de seus idosos fundadores.

No Morro da Providência, surgem relatos que vão das histórias mal-assombradas do zelador da primeira igreja da primeira favela do Rio ao Carnaval até memórias íntimas e afetivas. Eron, Rosieta e Dona Jura são os personagens centrais desse território.

Segundo Dandara Barbosa, a ideia de criar um programa que registrasse os conhecimentos desses griôs partiu de quando assistia alguns programas na internet e percebeu que não haviam pessoas com mais experiência envolvidos nesses processos, principalmente idosos negros.

“Vendo uma internet cada vez mais jovem, comecei a me perguntar: Cadê os nossos griôs? Falamos tanto de ancestralidade. Criei o Avós da comunidade para valorizar e deixar registrado aqueles que serão nossos futuros ancestrais”, afirma Dandara.

Durante séculos, somente a oralidade era utilizada para transferir o conhecimento dos griôs para as novas gerações e, de acordo com Wallace Silva, um dos produtores do projeto, aí vem a importância social e histórica de registrar essas conversas com os “avós“.

“É preciso, justamente, adaptar as práticas dos nossos antepassados para os dias atuais. Somente estamos dando continuidade ao legado dos nossos mais velhos e com isso reafirmando o valor dos saberes ancestrais. A importância é poder ouvi-los em primeira pessoa, hoje ou daqui a 50 anos. Um verdadeiro intercâmbio de gerações que não se perde com o tempo pois está em audiovisual”, analisa Wallace.

Expressão cultural afro-brasileira com raízes em Angola e República Democrática do Congo, o Jongo se fortificou e tornou-se tradição no morro da Serrinha, zona Norte do Rio, onde sua história se confunde com o ritmo. Por lá, as memórias de Vovó Maria e muitas tradições ainda são preservadas. Sanã, Raimunda e Eliana são os protagonistas do território.

Já na zona Oeste da Cidade Maravilhosa, em Inhoaíba, o Centro de Cultura Negra Fruta do Pé, personalidades que fundaram o bairro, mostra a importância da família, paternidade, disciplina e como é importante se reencontrar, não importa a idade. A equipe do projeto foi recepcionada pelos griôs Eloy, Paulo e Marly.

Depois de passar por alguns territórios periféricos e chegar a outros pontos da cidade, o planejamento é ampliar cada vez mais a área de atuação, ouvindo, acolhendo mais e mais griôs e suas respectivas comunidades.

“Criamos um projeto literário também, o Avós da Comunidade Roda de Conversa e Escrita Criativa que foi um sucesso. De crianças dos quatro anos aos idosos de 91 anos. E também pretendemos fazer uma edição especial sobre espiritualidade nas comunidades. O importante é enaltecer, valorizar e preservar essa sabedoria latente e coletiva dos nossos idosos. Não vamos parar”, finalizam Dandara e Wallace.

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