Três décadas depois de sacudir as praias da Região dos Lagos, a Banda Afrika voltou aos palcos em 2025, provando que o samba-reggae permanece vivo e pulsante. Fundado em 1992 pelos músicos Sandro Lustosa (percussionista) e Júlio Gamarra (baterista), com direção musical do contrabaixista Cláudio Rosa, o grupo reuniu alguns dos músicos mais talentosos da cena fluminense e marcou época com apresentações memoráveis em Arraial do Cabo, Cabo Frio, São Pedro da Aldeia, Búzios e Macaé.
A reestreia aconteceu em setembro de 2025, no Festival Brasilidades, realizado no jardim do Museu da República. Com integrantes originais como Eduardo Canto, Ronnie Marruda e Sandro Lustosa, a banda demonstrou que sua sonoridade atravessa gerações sem perder potência.
As raízes: Como nasceu a Banda Afrika
O Cenário musical dos anos 1990
O início da década de 1990 testemunhou uma explosão cultural sem precedentes na música brasileira. O samba-reggae — gênero nascido na Bahia da fusão entre samba, reggae jamaicano, merengue, salsa, soul, funk e toques de candomblé — dominava o país. Enquanto Salvador vivia o apogeu de seus blocos afro, a Região dos Lagos fluminense fervilhava com uma cena musical própria, misturando lambada, axé music e samba-reggae.
Foi nesse contexto efervescente que surgiu a Banda Afrika. Em 1992, Sandro Lustosa e Júlio Gamarra articularam a formação de um grupo diferenciado, reunindo profissionais que já haviam acompanhado grandes estrelas da MPB.
A dormação original: Um elenco de peso
A escalação inicial da Banda Afrika impressiona pela qualidade técnica. Com direção musical de Cláudio Rosa no contrabaixo (que havia trabalhado com Emílio Santiago), a banda contava na linha de frente com os cantores Eduardo Canto e Ronnie Marruda, além de Marcelo Lima nos teclados. Logo depois se juntaram ao grupo o guitarrista Marco Lima e o baterista André Amon.
Outros músicos também integraram a formação original: Julinho Silva na guitarra (ex-guitarrista de Zé Ramalho), Wanderley Silva na percussão (que já havia tocado com Milton Nascimento), Cleber Renno também nos teclados (parceiro de Fagner), Marcos Nimerinchter nos teclados (que acompanhou o virtuoso Stanley Jordan) e Aretha nos vocais (filha da cantora Vanusa).
Essa formação estelar elevou o padrão do samba-reggae na Região dos Lagos, trazendo sofisticação técnica para um gênero predominantemente festivo.
A estreia triunfal em Arraial do Cabo
A Banda Afrika estreou em 1992 no Espaço Cultural Manoel Camargo, em Arraial do Cabo, com dois shows de lançamento em noites consecutivas, ambos com lotação máxima. O sucesso imediato confirmou que o público estava pronto para abraçar aquela sonoridade contagiante.
Em seguida, o grupo firmou residência na casa de shows Rancho Gaúcho, onde se apresentou por um longo período, sempre com grande público. A partir daí, tornou-se presença constante nos principais eventos da Região dos Lagos.
Os anos de glória na Região dos Lagos
Conquistando o Litoral Fluminense
Durante cinco anos intensos de trabalho, a Banda Afrika consolidou-se como atração principal em cidades como Cabo Frio, São Pedro da Aldeia, Búzios e Macaé. Com o sucesso regional, o grupo expandiu suas apresentações para o Rio de Janeiro e Niterói, alcançando novas oportunidades.
A banda marcou presença em inaugurações de espaços públicos, nos principais clubes da Região dos Lagos (como o Costa Azul), nos Carnavais e nos shows de fim de ano em Cabo Frio e Arraial do Cabo. Durante esse período, gravou um EP que repercutiu positivamente nas rádios locais.
A sonoridade Úúnica: Entre a Bahia e o Rio
O repertório da Banda Afrika dialogava diretamente com os grandes blocos afro baianos — Olodum, Ilê Aiyê e Ara Ketu —, mas com um tempero inconfundivelmente carioca. Os arranjos privilegiavam a percussão vigorosa, linhas marcantes de baixo, guitarras suingadas e teclados envolventes, criando um som dançante e moderno.
Diferentemente de muitos grupos da época, a Afrika não se limitava ao samba-reggae. A experiência dos músicos em samba de raiz, MPB e música pop permitia transições fluidas entre estilos, ampliando o alcance do grupo e celebrando a música popular e tradicional da Bahia.
Evandro Terra e a cena local
Um nome fundamental para entender a Banda Afrika é Evandro Terra, cantor e compositor que liderava o Grupo Terra. Evandro foi responsável por sucessos marcantes do samba-reggae regional, incluindo “Salvador pra você” (vencedora do Prêmio de Melhor Composição do Carnaval de 1991), “Coração de Tambor”, “Fuzuê” e “Vem vindo da áfrica”, esta última gravada pela Banda Beijo.
Sandro Lustosa e outros músicos da cena colaboraram tanto com a Banda Afrika quanto com projetos de Evandro Terra, criando uma rede artística vibrante na Região dos Lagos.
A pausa estratégica (1994-1997)
Após cinco anos intensos de trabalho, a banda fez uma pausa para que seus integrantes investissem em projetos pessoais. Muitos seguiram acompanhando artistas consagrados da MPB e internacionais, como Emílio Santiago, Pepeu Gomes, Baby do Brasil, Blitz, Manu Chao, David Byrne, Lila Downs e João Donato. Os cantores participaram de programas de TV, novelas e peças de teatro, evidenciando o talento de cada um.
Os protagonistas: Trajetórias notáveis
Sandro Lustosa: O Mestre da Percussão
Fundador e coração da Banda Afrika, Sandro Lustosa construiu uma das carreiras mais respeitadas da música brasileira. Sua jornada começou nos anos 1980, quando integrou a banda Blitz, um dos maiores fenômenos do rock brasileiro da época.
Após fundar a Afrika em 1992 e liderar o grupo durante cinco anos, Sandro seguiu em diversos projetos. Sua carreira se expandiu exponencialmente: gravou com artistas como Isabela Taviani, Eduardo Costa, Alessandra Maia, Pepeu Gomes e Baby do Brasil, além de integrar a banda base do lendário Bêco das Garrafas, sob direção do maestro Aécio Flávio.
No Bêco das Garrafas, Sandro acompanhou ícones da Bossa Nova e MPB, consolidando-se como um dos percussionistas mais versáteis do Brasil. Seu domínio abrange ritmos latinos, africanos, regionais brasileiros, samba, jazz e música popular. Trabalhou também com artistas internacionais como Manu Chao e David Byrne.
Eduardo Canto: A voz marcante do samba
Nascido em 1962, Eduardo Canto é o vocalista principal da Banda Afrika desde a fundação. Sua voz de barítono característica tornou-se uma das marcas registradas do grupo.
A carreira de Eduardo começou em 1981, quando foi descoberto por Oswaldo Montenegro, iniciando uma parceria duradoura no teatro musical. Em 1996, gravou três faixas no CD “Canções para um Mago”, produzido por Roberto Menescal e J.C. Costa Neto.
No teatro, participou de montagens memoráveis como “A Pequena Loja dos Horrores” (ao lado de Claudia Raia e Eduardo Dusek) e “Orfeu” (sob direção de Aderbal Freire-Filho). Na televisão, atuou nas novelas “A Viagem”, “Uga Uga” e “Porto dos Milagres”.
Os reconhecimentos vieram: em 2008, recebeu a Medalha Pedro Ernesto, a mais alta honraria da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Em 1999, foi eleito pelo Prêmio da Música Brasileira um dos três Melhores Cantores Populares do Brasil, direcionando então seu trabalho ao resgate da música brasileira.
Eduardo desenvolveu projetos importantes de valorização da música brasileira, incluindo “Histórias & Canções” (tributos a Lupicínio Rodrigues e Tom Jobim), “Um Canto Negro” (celebrando artistas como Jamelão, Ataulfo Alves, Emílio Santiago, Dona Ivone Lara e Wilson Simonal) e “Canto do Samba”, roda de samba mensal que acontece na Cidade do Rio de Janeiro.
Sua carreira internacional também impressiona: realizou apresentações em Miami, Washington, Geórgia e Nova York, passando por lugares consagrados como Kennedy Center, Nublu, Sam Ashe e Metropolitan Room, além de palcos cariocas icônicos como Morro da Urca, Canecão, Teatro Rival e Imperator.
Em dezembro de 2010, foi criada a EC Produções Culturais para administrar a carreira do cantor Eduardo Canto. Atualmente, além da Banda Afrika, a EC Produções é responsável também pela produção de diversos projetos, entre eles o Festival Brasilidades e o Canto do Samba.
Ronnie Marruda: Da música para a televisão
Nascido em 30 de dezembro de 1954 no Rio de Janeiro, Ronnie Marruda foi vocalista da Banda Afrika desde a fundação e posteriormente construiu carreira sólida como ator.
Na música, Ronnie seguiu ativo após a pausa da Afrika: assumiu os vocais da Banda Bel após a saída de Toni Garrido, atualmente canta na Banda da Cabeça de Nego, participa do grupo teatral musical O Barra e criou o espetáculo “Zé com a Mão na Porta”.
A televisão, porém, trouxe fama nacional. Entre 2004 e 2005, Ronnie ficou conhecido como Cigano na novela “Senhora do Destino”, da TV Globo. Seguiram-se trabalhos marcantes: Micael Pedreira em “Caminhos do Coração” (Record, 2007-2008), Baltazar em “Guerra dos Sexos” (Globo, 2012) e um policial em “Verão 90” (Globo, 2019). Também atuou em “Alma Gêmea”, “Paixões Proibidas” e “Vidas em Jogo”.
Júlio Gamarra: O inspirador saudoso
Júlio Gamarra foi cofundador da Banda Afrika ao lado de Sandro Lustosa, sendo um dos grandes inspiradores do projeto. Baterista fundamental na concepção original do grupo, Júlio deixou um legado importante na formação da identidade sonora da banda. Infelizmente, o músico já faleceu, sendo homenageado pelos colegas no retorno do grupo aos palcos.
2025: O Grande Retorno
A Nova Formação
Após mais de 25 anos afastada dos palcos, a Banda Afrika retornou em 2025 com parte da sua formação original, com exceção do saudoso Júlio Gamarra. Os integrantes, mais experientes e com carreiras consolidadas, prometem um show envolvente, celebrando o samba-reggae e a música popular e tradicional da Bahia:
- Sandro Lustosa – Percussão e fundador
- Eduardo Canto – Voz
- Ronnie Marruda – Voz
- Andrea Mon – Bateria
- Marco Lima – Guitarra
- Mauro Lima – Baixo (irmão de Marco Lima)
- Rafael Sena – Teclados
Festival Brasilidades: A Reestreia histórica
A volta oficial aconteceu em 7 de setembro de 2025, domingo às 15h, no jardim do Museu da República, no Catete. O show “Banda Áfrika Canta Bahia” integrou a segunda edição do Festival Brasilidades, parte do calendário Rio Capital Mundial do Livro 2025, promovido pelo Circuito Carioca de Artes e Culturas.
O evento gratuito celebrou a diversidade cultural brasileira com apresentações de carimbó, folia de reis, folclore gaúcho e o samba-reggae da Banda Afrika, reunindo públicos de diferentes gerações.
Repertório que atravessa o tempo
O repertório da banda transporta o público no tempo, evocando memórias positivas e trazendo a energia que sempre caracterizou o grupo. As apresentações celebram não apenas o samba-reggae, mas toda a riqueza da música popular e tradicional da Bahia, mantendo viva a conexão entre as tradições baianas e a identidade musical carioca.
Outros shows e projetos
Em novembro de 2025, o grupo se apresentou no Museu Histórico Nacional, dentro do Projeto Conexões Afro, novamente com o repertório “Banda Afrika Canta Bahia”. Desde então, a banda tem realizado apresentações regulares em diversos espaços culturais do Rio de Janeiro.
Repercussão e reconhecimento
A crítica especializada recebeu o retorno com entusiasmo, descrevendo-o como uma volta “em grande estilo” após 29 anos. Músicos e produtores presentes elogiaram a energia e qualidade das apresentações, destacando que o samba-reggae da banda “continua atual, vibrante e politicamente potente”.
Nas redes sociais, especialmente no Instagram (@bandaafrika.oficial), o grupo compartilha registros de ensaios, shows e bastidores, fortalecendo o vínculo com fãs antigos e conquistando novos admiradores.
O legado cultural da Banda Afrika
Pioneirismo no Litoral Fluminense
A Banda Afrika foi fundamental para popularizar o samba-reggae na Região dos Lagos durante os anos 1990. Enquanto o ritmo explodia na Bahia e ganhava projeção nacional, o grupo trouxe essa sonoridade para o litoral fluminense, adaptando-a à identidade musical carioca.
Excelência técnica como diferencial
O que distinguia a Afrika de grupos contemporâneos era o alto nível técnico. Com músicos que haviam acompanhado Emílio Santiago, Milton Nascimento, Fagner, Zé Ramalho, Stanley Jordan e posteriormente Pepeu Gomes, Baby do Brasil, Manu Chao, David Byrne, Lila Downs e João Donato, a banda elevou o padrão das apresentações de samba-reggae no Rio de Janeiro, provando que música dançante também pode ser sofisticada.
Ponte entre tradições musicais
A Banda Afrika representa uma síntese única entre a tradição do samba-reggae baiano e a música popular carioca. Mantendo a pulsação característica dos blocos afro da Bahia, o grupo incorporava elementos da MPB, do samba de raiz e da bossa nova, criando identidade sonora própria.
Valorização da cultura Afro-Brasileira
Tanto na fase original quanto no revival atual, a Banda Afrika mantém compromisso com a celebração da cultura afro-brasileira. Os shows “Banda Afrika Canta Bahia” e as apresentações no Projeto Conexões Afro reforçam essa missão, honrando a herança africana na música brasileira.
Contexto Histórico: Os anos 1990 na música brasileira
O fenômeno do Samba-Reggae
A década de 1990 testemunhou o auge do samba-reggae no Brasil. Grupos como Olodum, Ilê Aiyê, Timbalada, Ara Ketu e Banda Mel alcançavam sucesso nacional. A lambada e o axé music dominavam rádios e festas populares. Na Bahia, o carnaval de Salvador consolidava-se como o maior do mundo, impulsionado pelos blocos afro.
A efervescência da Região dos Lagos
No litoral fluminense, a cena musical fervilhava. Bandas como Kaoma (que incluía a cantora Loalwa Braz, tragicamente assassinada em 2017 em Saquarema), Evandro Terra e o Grupo Terra, além da própria Banda Afrika, levavam esses ritmos para um público ávido por música dançante e festiva.
Profissionalização da Música Popular
Os anos 1990 também marcaram a profissionalização crescente da música popular brasileira. Músicos com formação técnica sólida passaram a integrar bandas de baile e grupos regionais, elevando a qualidade das apresentações e criando novo patamar para o entretenimento musical.
Distinções importantes
É fundamental distinguir a Banda Afrika (do Rio de Janeiro) de outros grupos com nomes similares:
- Z’África Brasil: Grupo de rap e hip-hop paulista, formado em 1995
- Afrika Gumbe: Projeto dos irmãos Lobato focado em música africana tradicional e moderna (anos 1980)
- Dois Africanos: Dupla de rappers que participou do programa SuperStar
Perspectivas para o fFuturo
O sucesso do retorno em 2025 demonstra que o samba-reggae permanece relevante para novas gerações. A Banda Afrika tem mostrado capacidade de dialogar com o público jovem através das redes sociais, mantendo qualidade técnica com músicos experientes e preservando a memória musical dos anos 1990 sem soar datada.
O grupo continua celebrando a cultura afro-brasileira de forma contemporânea, abrindo possibilidades para novas gravações, turnês e participações em festivais culturais pelo Brasil. Com a produção da EC Produções Culturais e eventos regulares como o Festival Brasilidades e o Canto do Samba, a banda mantém presença ativa no cenário cultural carioca.
Mais que música, um símbolo de resistência cultural
A Banda Afrika representa capítulo fundamental na história musical da Região dos Lagos e do Rio de Janeiro. Fundada em 1992 por Sandro Lustosa e Júlio Gamarra, com direção musical de Cláudio Rosa, e reunindo músicos de altíssimo calibre como Eduardo Canto e Ronnie Marruda, o grupo foi pioneiro em adaptar o samba-reggae baiano à identidade musical carioca.
O retorno aos palcos em 2025, após mais de 25 anos de pausa, provou que a banda mantém relevância e capacidade de emocionar públicos diversos. Com integrantes originais e novos músicos talentosos, a Banda Afrika segue celebrando a música afro-brasileira e mantendo viva a tradição do samba-reggae.
Mais que um grupo musical, a Banda Afrika simboliza resistência cultural, excelência técnica e celebração da brasilidade, conectando gerações através do ritmo contagiante que nasceu na Bahia e encontrou lar especial nas praias e palcos da Região dos Lagos fluminense. O repertório que transporta o público no tempo e evoca memórias positivas continua provando que a energia da banda permanece atual, vibrante e essencial para a música brasileira.
Próximos shows
A Banda vai participar dia 20 de Dezembro, às 18h, do Natal de Luz no Palácio de Cristal em Petrópolis.
E dia 27 de Dezembro, às 15h, estarão no Festival de Verão no Arpoador, com show de graça no Parque Garota de Ipanema
Contato e Informações
Para contratações e informações sobre a Banda Afrika:
- Email: bandaafrika@gmail.com
- Instagram: @bandaafrika.oficial
- Produção: EC Produções Culturais
- Contato: Karla Maria Costa – (21) 99225-8546