Borda – mais alguma poesia

Flávia Souza Lima reafirma sua vocação poética em novo livro, no qual imprime seu olhar sobre a vida, o ato de escrever, o amor e suas marolas e maremotos

por Redação
Borda

“das coisas tristes/ as coisas mais bonitas/nascem”. Assim reza Flávia Souza Lima em um dos poemas de Borda – mais alguma poesia. O ato de bordar implica em entrelaçar fios que, unidos, compõem uma malha (de linhas e caminhos). A borda é também a beira entre duas superfícies – a terra (firme?) e o mar. E não por acaso ele está presente nas seis seções pelas quais a poesia da autora se espraia. O mar faz-se presente como cenário,personagem, pano de fundo ou na (an)coragem para a poeta ir adiante. A coletânea chega em junho às livrarias pela  Numa Editora e traz, na orelha, comentários de Leila Pinheiro e de Joyce Moreno, artistas profundamente ligadas à poesia. A edição é apresentada ainda pela designer Nana Pontes, para quem a autora “tem a escuta e o olhar extremamente atentos às palavras – seus significados e desdobramentos”.

Bem-vindos contornos, margens, beiradas com que Flávia nos envolve fortemente” (Leila Pinheiro)

A relação da autora com sua vocação é a tônica de “Beira”, primeira das seis seções entre as quais o livro divide-se. “isso não é hora de escapar/digo ao poema/e mesmo assim/a palavra derrete/ e o verso escorre/por entre os dedos da tarde”, lamenta ela sem entregar os pontos, ainda que o poema seja, como ela reconhece, “pura neblina”.

Flávia Souza Lim

Flávia Souza Lima – foto Cris Lopes)

Neblina não foi o encontro repentino da escritora com Antonio Cicero (1945-2024) numa livraria. O episódio é rememorado em “Guardar uma cosia”, crônica poética como outras  incluídas em “Vaga”, segundo porto do livro. “aqui a hospedo/em silencioso cuidado/e sigo por ela/iluminada”, constata. E assim ela segue, acendendo crepúsculos apesar de suas dores.

“uma contemplação em movimento/ o amor era isso”. O amor, esse outro danado, dá as cartas (e as caras) em “Linha”, seção dedicada a ele – e a seus lampejos e clarões. ”não é menos imenso/bordar o mar/do que dançar/ na borda de um olhar”, pondera a autora, que tratará dos ocasos do amor na seção seguinte,  “Arrebentação”: “nuvens carregadas/ pela tortuosa estrada/ movediça e maviosa/ de olhares palavras/ e restos de gestos – raiva ilusão tormento”.

O amor é aluvião e, em certos casos, ilusão. E a poeta recolhe seus estilhaços após um desencontro (“não é reta a estrada/nem a tua nem a minha”) na penúltima seção da coletânea. “apalpo ainda o assombro/ sem alerta de salto – o seu// ou de queda – a minha”, avalia em interlocução com Circe, a quem assegura, esperançosa, ver ainda o mar (ele aí de novo).

A enxurrada poética deságua e provoca Espuma – nome do último grupo de poemas da obra. Ali, a autora reverencia nomes fundamentais à sua formação artística como Ledusha Spinardi, Gal Costa (1945-2022) e Rita Lee (1947-2023), além de apresentar poemas curtos e diretos. “em caso de/coração partido/ aplique um poema/ na área afetada”, recomenda, rediviva.

Uma mulher aos 53 é muito mais vivida do que uma mulher aos 17, quando ela faz sua estreia literária. E, sim, “das coisas tristes/as coisas mais bonitas/nascem/uma carta uma fotografia uma alucinação”. Um livro também. Miragem (ele) não é.

A autora:

Flávia Souza Lima é jornalista, produtora cultural, realizadora e agente artística. Formou-se em Jornalismo,pela PUC-Rio, onde também graduou-se em Letras, pós-graduando-se ainda em  “Escritas performáticas: invenção e procedimentos artísticos”, na mesma universidade. Com passagens por veículos como O Dia e pela TVE, dedica-se há mais de duas décadas a criar projetos pela  Planetário Produções Culturais, empresa que dirige.  Integra a Academia Volta-redondense de Letras desde 2022. É autora de “Sobre-viver” (1989), “O avesso do grão” (1991 ), “Caixa vermelha” / “Caixa preta” (2009 e de “Desjeitos – alguma poesia” (2002/Numa Editora). Atualmente está à frente do podcast Chiado, com conversas sobre artes e do canal “Prosa Poética”, no YouTube, onde exibe a série “Poesia de quarentena”. Faz a curadoria e a produção do Festival Poemúsica, dedicado à música e à poesia brasileiras, já na terceira edição e, atualmente, é curadora e coordenadora  do ”Terças no Ipanema”, no Teatro Ipanema, Rio de Janeiro.

Título: “Borda – mais alguma poesia

Autora: Flávia Souza Lima

Editora: Numa

Lançamento: junho de 2025

Formato:  11 X 16cm

Número de páginas: 160

Preço: R$ 53,00

Vendas: www.numaeditora.com

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