Brigitte Bardot, ícone do cinema francês, morre aos 91 anos

Brigitte Bardot

A atriz francesa Brigitte Bardot, símbolo sexual dos anos 1950 e 1960 e uma das figuras mais emblemáticas do cinema mundial, morreu neste domingo, 28 de dezembro de 2025, aos 91 anos, em sua residência em Saint-Tropez, no sul da França. A informação foi confirmada pela Fundação Brigitte Bardot, organização de proteção animal criada e presidida pela atriz. A causa da morte não foi divulgada, mas Bardot havia sido hospitalizada em outubro deste ano em Toulon para passar por uma cirurgia, recebendo alta no mesmo mês.

Uma revolução no cinema mundial

Nascida em 28 de setembro de 1934, em Paris, Brigitte Anne-Marie Bardot se tornou, ainda jovem, uma das figuras mais reconhecidas do cinema mundial. Sua trajetória começou aos 15 anos, quando posou para a capa da revista Elle, chamando a atenção do roteirista e futuro cineasta Roger Vadim, com quem se casou em 1952.

O marco definitivo de sua carreira veio em 1956, com o filme “E Deus Criou a Mulher” (Et Dieu… créa la femme), dirigido por Vadim. Aos 22 anos, Bardot protagonizou uma produção que chocou o mundo ao retratar uma jovem sexualmente liberada que desafiava as convenções sociais da época. A icônica cena em que a atriz dança descalça, com cabelo solto, em cima de uma mesa, com a saia aberta até a cintura, provocou escândalo internacional. O filme foi censurado em Hollywood e proibido em diversos países conservadores, mas consolidou Bardot como símbolo sexual e a lançou ao estrelato global.

“Ela anda com os pés descalços, ela vira as costas aos vestidos elegantes, joias, perfumes, maquiagem, a todos esses artifícios. (…) Ela faz o que lhe agrada e é isso que é perturbador”, escreveu a filósofa feminista Simone de Beauvoir sobre a atriz.

Ao longo de sua carreira, Bardot estrelou cerca de 50 filmes, tornando-se uma das artistas mais fotografadas e comentadas de sua geração. Entre suas produções mais notáveis estão “A Verdade” (La Vérité, 1960), de Henri-Georges Clouzot, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro; “O Desprezo” (Le Mépris, 1963), de Jean-Luc Godard, considerado um dos clássicos da Nouvelle Vague francesa; “Viva Maria!” (1965), de Louis Malle, ao lado de Jeanne Moreau; e “Vida Privada” (1962), que refletia suas próprias lutas com a fama.

Influência cultural e estilo inconfundível

Brigitte Bardot não influenciou apenas o cinema, mas também a moda e o comportamento de uma geração inteira. Seu cabelo loiro platinado, propositalmente desalinhado, e o delineado preto marcante nos olhos se tornaram sua assinatura estética, copiada por mulheres em diferentes países. Seu estilo despojado — que incluía biquínis, vestidos leves de algodão, sapatilhas de ballet, bandanas e calças cropped — rompeu com o glamour pomposo de Hollywood e estabeleceu uma nova linguagem de feminilidade livre e natural.

O impacto de Bardot foi tão significativo que ela apareceu de biquíni no Festival de Cannes em 1953, ajudando a popularizar a peça de roupa que até então era contestada pela sociedade conservadora. Anos depois, compareceu ao Palácio do Eliseu usando calças, em um período em que mulheres eram esperadas em saias ou vestidos em eventos oficiais.

Sua influência extrapolou as fronteiras francesas. Em 1964, Bardot visitou Búzios, então um pequeno vilarejo de pescadores no litoral do Rio de Janeiro, transformando radicalmente o destino do local. Durante os quatro meses que passou na cidade, a atriz caminhou livremente pelas praias, encantada com a tranquilidade do balneário. Após sua passagem, Búzios ganhou projeção internacional e se tornou um dos 10 destinos turísticos mais visitados do Brasil. Em sua homenagem, a cidade criou a Orla Bardot e instalou uma estátua da atriz que se tornou ponto turístico.

Carreira musical e relacionamentos

Bardot também teve uma carreira paralela como cantora. Em 1967, iniciou uma parceria com o compositor Serge Gainsbourg, com quem teve um breve relacionamento. Juntos, gravaram músicas que se tornaram populares na França, como “Harley Davidson” e “Bonnie and Clyde”. A canção mais famosa dessa colaboração foi “Je t’aime… moi non plus”, escrita por Gainsbourg especialmente para Bardot em 1967. No entanto, a versão original com a atriz nunca foi lançada na época por pressões de seus empresários e do Vaticano, que temiam que a letra explicitamente erótica prejudicasse sua imagem. A canção só foi lançada oficialmente em 1969, na versão com Jane Birkin, então nova parceira de Gainsbourg.

A vida amorosa de Bardot foi intensa e amplamente coberta pela imprensa. Ela teve quatro maridos: Roger Vadim (1952-1957), Jacques Charrier (1959-1965), com quem teve seu único filho Nicolas, o milionário alemão Gunter Sachs (1966-1969), e Bernard d’Ormale, ex-conselheiro da Frente Nacional, com quem se casou em 1992 e permaneceu até os últimos dias. Também se envolveu com diversos atores e músicos, vivendo seus relacionamentos sem discrição e sem pedidos de desculpas, o que contribuiu para que fosse vista como símbolo de autonomia feminina em plena revolução sexual.

Aposentadoria e ativismo animal

Em 1973, aos 38 anos, Bardot anunciou sua aposentadoria do cinema após seu último filme, “Colinot Trousse-Chemise”. Cansada da perseguição implacável dos paparazzi, da objetificação e dos escândalos sentimentais, ela decidiu dedicar-se integralmente à causa animal. “Dei minha beleza e juventude aos homens. Agora vou dar minha sabedoria e experiência aos animais”, declarou na época.

Em 1986, Bardot criou a Fundação Brigitte Bardot, que se tornou uma referência internacional na luta contra a crueldade e exploração de animais. Para financiar seu projeto, ela leiloou grande parte de suas joias, objetos pessoais e lembranças de sua carreira cinematográfica, incluindo o vestido que usou em seu casamento com Roger Vadim.

A fundação expandiu-se ao longo de quase quatro décadas, atuando em mais de 70 países e apoiando projetos como santuários de elefantes na África, programas de proteção a coalas na Austrália e centros de resgate de ursos na Bulgária. Atualmente, a organização reúne cerca de 12 mil animais acolhidos em quatro grandes unidades, emprega aproximadamente 300 funcionários, conta com centenas de voluntários e tem cerca de 40 mil doadores.

Entre suas campanhas mais emblemáticas, Bardot viajou até o Ártico em 1977 para denunciar o massacre de filhotes de foca no Canadá, obtendo sucesso na aprovação da proibição do comércio de produtos derivados da caça às focas com menos de quatro semanas. Ela também lutou contra touradas, consumo de carne de cavalo, experimentos laboratoriais com animais e brigas autorizadas de cães.

“Tenho muito orgulho da primeira parte da minha vida, que foi um sucesso e que agora me permite ter uma fama mundial, que me ajuda muito na proteção dos animais”, declarou a artista em 2024 à agência de notícias France Presse.

Controvérsias e posições políticas

Apesar de ter sido símbolo de libertação feminina nos anos 1960, Brigitte Bardot protagonizou controvérsias significativas nas últimas décadas de sua vida. Declarações públicas sobre imigração, islamismo e homossexualidade a levaram a uma série de condenações por incitação ao ódio racial. Entre 1997 e 2008, ela foi multada seis vezes pela Justiça francesa, especialmente por comentários dirigidos à comunidade muçulmana da França.

Em um dos casos mais notórios, um tribunal de Paris a condenou a pagar uma multa de 15 mil euros por descrever os muçulmanos como “essa população que está nos destruindo, destruindo o nosso país ao impor seus costumes”. Em 1999, escreveu que sua “terra natal é invadida por uma superpopulação de estrangeiros, muçulmanos”, e em 2021 foi condenada a pagar 20 mil euros por insultos racistas após chamar os habitantes de uma ilha francesa de nativos que “preservaram seus genes selvagens”.

Em 1992, Bardot se casou com Bernard d’Ormale, ex-conselheiro do partido de extrema direita Frente Nacional, posteriormente renomeado União Nacional. Ao longo dos anos, apoiou publicamente os líderes do partido, Jean-Marie Le Pen e sua filha Marine Le Pen, a quem chegou a chamar de “a Joana d’Arc do século 21”. Em 2012, Bardot defendeu publicamente a candidatura presidencial de Marine Le Pen, afirmando: “É a única mulher que tem um par de colhões”.

A atriz também rejeitou a associação ao feminismo. Questionada pelo canal francês BFM TV em maio de 2025 se ela se considerava um símbolo da revolução sexual, respondeu: “Não, porque antes de mim muitas coisas ousadas já tinham acontecido — não esperaram por mim. O feminismo não é a minha praia; eu gosto de homens”.

Em 2018, Bardot criticou atrizes que denunciavam abusos por meio do movimento #MeToo, afirmando: “Muitas atrizes vão provocando os produtores para conseguir um papel. Depois, para que se fale delas, dizem que sofreram assédio… Na realidade, mais do que beneficiá-las, isso as prejudica”.

Legado e homenagens

A morte de Brigitte Bardot repercutiu internacionalmente, com homenagens de líderes políticos, personalidades artísticas e milhares de admiradores. O presidente francês Emmanuel Macron prestou uma homenagem nas redes sociais: “Seus filmes, sua voz, sua fama deslumbrante, suas iniciais, suas tristezas, sua generosa paixão pelos animais, seu rosto que se tornou Marianne — Brigitte Bardot personificava uma vida de liberdade. Uma existência francesa, um brilho universal. Ela nos tocou. Lamentamos a perda de uma lenda do século”.

O rosto de Bardot foi usado como modelo para um busto oficial de Marianne, figura feminina alegórica que simboliza os valores da República Francesa, instalado nas prefeituras de todo o país a partir do final da década de 1960. Marianne representa a liberdade, igualdade, laicidade e soberania popular, e ter sido escolhida para encarná-la foi um dos maiores reconhecimentos à importância cultural de Bardot na França.

Marine Le Pen declarou que a França perdeu “uma mulher excepcional, pelo seu talento, a sua coragem, a sua franqueza e a sua beleza. Uma mulher que escolheu terminar uma carreira incrível para se dedicar aos animais”. O ator francês Pierre Arditi, amigo próximo da atriz, afirmou que “as pessoas que amamos nunca morrem” e declarou-a “a mulher mais bonita do mundo”.

A Société Protectrice des Animaux prestou homenagem à “figura emblemática e apaixonada da causa animal”, lembrando que desde os anos 1970 Bardot “consagra a sua vida a defender aqueles que não têm voz”.

Em Saint-Tropez, flores frescas, cartas manuscritas e pequenas lembranças acumularam-se desde a manhã de domingo junto a La Madrague, a villa onde Bardot viveu durante décadas e onde faleceu. Admiradores pararam, fotografaram e deixaram mensagens em uma comoção que se espalhou rapidamente muito para além do sul da França.

A Fundação Brigitte Bardot afirmou em comunicado: “Com imensa tristeza, a Fundação Brigitte Bardot anuncia a morte de sua fundadora e presidente, Madame Brigitte Bardot, atriz e cantora de renome mundial, que escolheu abandonar sua prestigiada carreira para dedicar sua vida e sua energia à defesa dos animais e à sua fundação”.

Brigitte Bardot deixa um legado complexo e multifacetado. Ícone de uma era que redefiniu padrões de beleza e comportamento feminino, ela transformou o cinema francês, influenciou a moda global e tornou-se símbolo de liberdade sexual em plena revolução dos anos 1960. Ao mesmo tempo, suas posições políticas controversas e declarações polêmicas nas últimas décadas mancharam sua reputação, dividindo opiniões sobre sua figura.

Ao ser questionada sobre que atriz poderia interpretá-la em um filme, foi direta: “Nenhuma. Não há uma capaz de fazê-lo. O que falta? Minha personalidade”. De fato, Brigitte Bardot foi uma personalidade singular e inimitável, cuja trajetória marcou profundamente a cultura do século 20 e cujo nome permanecerá eternamente associado à história do cinema mundial, à defesa dos animais e a uma França que personificava liberdade, beleza e contradição.

FAQ

Quem foi Brigitte Bardot?
Atriz, cantora e ativista francesa, ícone do cinema mundial e símbolo cultural dos anos 1950 e 1960.

Quando Brigitte Bardot morreu?
Ela morreu em 28 de dezembro de 2025, aos 91 anos.

Qual foi o filme que marcou a carreira de Brigitte Bardot?
“E Deus Criou a Mulher” (1956), dirigido por Roger Vadim.

Por que Brigitte Bardot deixou o cinema?
Para se dedicar integralmente à causa animal, após anunciar aposentadoria em 1973.

O que é a Fundação Brigitte Bardot?
Uma organização internacional dedicada à proteção e defesa dos animais, criada em 1986.

RAIO-X

  • Fato Principal: Morte de Brigitte Bardot aos 91 anos

  • Entidades Envolvidas: Fundação Brigitte Bardot; governo francês; comunidade artística internacional

  • Dados Críticos: Nascimento em 1934; morte em 28/12/2025; cerca de 50 filmes; fundação criada em 1986

  • Consequência / Status Atual: Repercussão internacional e homenagens oficiais

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