Cabaré Incoerente comemora 10 anos com espetáculo “A Guerra dos Bichos”

A Guerra dos Bichos Cabaré - Foto Bê Riley

O Cabaré Incoerente, grupo de pesquisa da Universidade Federal Estadual do Rio de Janeiro (UNIRIO) completa 10 anos. Sob a batuta de Christina Streva, o projeto ganhou a adesão de professores, alunos pesquisadores e uma legião de fãs na última década, chegando a romper as fronteiras da universidade. Como espetáculo comemorativo, o elenco de 2024 apresenta “A Guerra dos Bichos”, que tem como inspiração a história da contravenção. O jogo do bicho e o carnaval, tão presentes no imaginário popular carioca, voltam à tona mais uma vez. O espetáculo estreia dia 14 de agosto na UNIRIO, em curta temporada.

Das fezinhas aos caça-níqueis, os bichos vão tomando conta da cidade e lutando para se manter no topo. Com música ao vivo e texto contemporâneo, “A Guerras dos Bichos” é um espetáculo teatral inédito, que conta de forma bem humorada os caminhos macabros das disputas de poder entre duas famílias tradicionais de bicheiros, revelando diversas matanças e reviravoltas que marcaram o noticiário carioca. A peça mistura teatro, música, dança e performance. São vinte e dois atores em cena, acompanhados de uma banda de seis músicos.

Segundo Christina Streva, diretora e coordenadora do projeto, o teatro-cabaré é uma linguagem que tem compromisso com a atualidade, que reflete o próprio tempo sem abrir mão de abordar temas espinhosos e questões complexas da comunidade no qual está inserido. “O espetáculo surgiu como resultado de um processo de experimentação artística desse grupo de jovens, uma geração marcada pela escalada da violência urbana, pela ousadia cada vez maior das milícias, pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, pela impunidade que se tornou um câncer na “Cidade Maravilhosa”, comenta.

Assinada por Leonardo Medeiros, a dramaturgia parte de documentários recentes como o “Vale o Escrito”, sucesso de audiência da Globoplay. e vai além, contando um pouco sobre o que acontece depois de tudo aquilo. Séries documentais como Doutor Castor, Lei da Selva e o livro “A república das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro” de Bruno Paes Manso também foram importantes fontes de pesquisa para a montagem do espetáculo. Tudo isso envolvido pela linguagem do cabaré, que para Streva, é onde tudo é possível: 

“O Cabaré pode praticamente tudo. É uma linguagem híbrida, eclética, elástica que toca nas feridas abertas da sociedade e denuncia a hipocrisia. É um gênero transgressor que não se prende as normas da dramaturgia clássica e mistura linguagens como a dança, a performance, a música, a poesia. Na sua origem, na Belle Époque francesa, o cabaré foi uma tentativa de jovens artistas e estudantes de encontrarem uma forma nova de expressar as contradições e as ambiguidades do seu tempo. Trata-se de uma poética dos opostos, onde nada é uma coisa só. Festa, celebração e glamour misturam-se com angustia, violência, medo e morte”, revela a diretora.

Coordenação e Direção: Christina Streva

Além de diretora, Christina é também pesquisadora e performer. PhD. em Teatro, é Professora Associada na Escola de Teatro e no programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da UNIRIO. Streva é fundadora e foi diretora artística do coletivo SerTão Teatro, grupo de pesquisa que circulou por mais de uma centena de cidades brasileiras, participando dos principais eventos teatrais do país, com destaque para o Palco Giratório do SESC Nacional (2016).  É pesquisadora de direção e interpretação teatral com foco em teatro de grupo, performance popular, cabaré artístico e metodologias colaborativas. Fundou, coordena e dirige, desde 2014, o projeto de pesquisa Cabaré Incoerente. Já dirigiu mais de 30 espetáculos teatrais e apresentou trabalhos, palestras e oficinas em várias cidades do Brasil, nos Estados Unidos, no Canadá e no México. 

“Eu venho de uma trajetória de dez anos de teatro popular e de teatro de rua. Ingressei no doutorado com projeto de pesquisa sobre o teatro popular. Foi nesse momento que entrei em contato com a linguagem do cabaré. Foi um grande achado porque o cabaré é um gênero que além de popular e musicado, que utiliza o humor e faz crítica político-social, também faz isso de uma forma transgressora, com picardia, com insinuação sexual. Então, realmente foi encantadora essa descoberta porque, apesar de utilizar toda a experiência que eu já trazia na bagagem, investigar o cabaré fez com que eu saísse da minha zona de conforto”, comenta.

Cabaré Incoerente: o projeto

Com o passar dos anos, o Cabaré Incoerente se tornou um celeiro de formação de novos talentos. Na última década, o projeto viajou para outros estados, participando de festivais Brasil afora. Dentre os trabalhos mais marcantes estão:

“O Gato Preto”:  baseado no conto de Edgar Allan Poe e nas pesquisas sobre o Le Chat Noir, o primeiro cabaré artístico que se tem notícia. A peça deu origem ao projeto e inaugurou o Cabaré Incoerente;

“Cabaré Carioca”: a pesquisa se volta para o cabaré no Brasil, para a Lapa dos anos vinte, o Rio Antigo, a Belle Époque Carioca. Exploramos figuras fascinantes como Madame Satã e Luz del Fogo. Nos debruçamos sobre a origem do samba, na Casa de Tia Ciata, na Pequena África, nos duelos musicais e na disputa entre Noel Rosa e Wilson Batista pela dama dos cabarés carioca, a Ceci; investigamos a chegada e a popularização da cocaína na Cidade a relação do cabaré com a prostituição.

“Cabaré Sade”: espetáculo de cinco anos do Cabaré Incoerente, inspirado na investigação do cabaré Alemão. A peça, só com músicas autorais, foi inspirada no texto de Peter Weiss “A Perseguição e Assassinato de Jean-Paul Marat encenado pelos internos do Hospício de Charenton sob direção do Senhor de Sade” e recebeu convites para todos os festivais universitários da cidade, apresentando-se em três teatros no Rio (Teatro Nathalia Timberg, Teatro SESI FIRJAN – Centro, Teatro Cacilda Becker – FUNARTE.) Em seguida, a peça foi para o FETO – Festival Estudantil de Belo Horizonte, e se apresentou no tradicional teatro Francisco Nunes, no centro de BH. Logo depois, foi selecionada por edital nacional pela ponte_festivaldoteatrouniversitario, promovido pelo Itaú Cultural, em São Paulo. Apresentar em um teatro lindo e lotado na Avenida Paulista foi uma grande realização para todos os envolvidos na trajetória

“O Cabaré Phoenix”: convite de residência artística no Festival Internacional de Teatro de Campinas – FEVERESTIVAL. A diretora Christina Streva e a Equipe Incoerente aplicaram a metodologia desenvolvida no projeto fora da universidade, em uma residência artística durante o Festival.

“Ladeira A Bausch” Grupo profissional de Belo Horizonte, o Cabaré das Divinas Tetas, composto por mulheres palhaças e drag queens, descobriu a pesquisa do Cabaré Incoerente pelo site do grupo (www.cabareincoerente.com) e entrou em contato, convidando o grupo para dirigir um espetáculo. A peça estreou em BH, apresentou-se em dois espaços distintos da cidade e, posteriormente, foi selecionada para se apresentar no espaço FUNARTE em BH, e para participação no FIT – Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte. Em 2024, conseguimos trazer o espetáculo para o Rio de Janeiro, durante a primeira edição do FINC – Festival Incoerente de Cabaré.

“O Jardim dos Espantos I e II” Espetáculo de teatro-cabaré sobre a comemoração de duzentos anos da Independência do Brasil, por uma perspectiva crítica e racial. Com a ajuda do fomento da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, o projeto entrou em uma fase mais profissional. O espetáculo ficou em cartaz na cidade do Rio de Janeiro, em duas temporadas: a primeira no ateliê Desterro, no Centro da cidade, e a segunda, no Auditório Murilo Rosa, no Teatro Glauce Rocha, da FUNARTE.

“Festival Incoerente de Cabaré – FINC”. A primeira edição do FINC aconteceu em novembro de 2023, e reuniu artistas de cabaré do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba e da Cidade do México. O Festival promoveu a apresentação de onze espetáculos de cabaré, além de oficinas e uma residência artística. O projeto foi realizado graças ao fomento da Secretaria de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro, através do Edital FOCA.

“A Guerra dos Bichos”:  espetáculo de comemoração de dez anos, baseado na história da contravenção na cidade do Rio de Janeiro. Estreia dia 14 de agosto de 2024 em curta temporada, na Unirio.

O projeto tem um site próprio (www.cabareincoerente.com), onde são produzidos arquivos e um banco de dados de cabaristas que marcaram a história do cabaré em várias partes do mundo. Outro plano futuro do Cabaré Incoerente é o lançamento de um livro que trata da história do cabaré no Brasil e da metodologia desenvolvida nesses últimos dez anos pelo projeto.

“Eu acredito que a gente vai assistir muito cabaré no Brasil pelos próximos anos, acredito que cada vez mais esta linguagem será usada como instrumento de reflexão artística. A gente ainda sabe muito pouco sobre o cabaré brasileiro então é fascinante ter um grupo de pesquisa na Universidade Federal do Rio de Janeiro que nos permita criar pontes, criar intercâmbio e ser também um centro de referência da pesquisa do cabaré e principalmente do cabaré brasileiro”, conclui Christina Streva.

Duração: 1 hora e 30 minutos

Classificação etária: 18+

SERVIÇO

Local: Sala Glauce Rocha, UNIRIO – Av. Pasteur, 296 – Botafogo, Rio de Janeiro – RJ, 22290-250

Data: 14, 15, 16 e 17 de agosto

Horário: 20h

Ingressos:  Gratuito. Distribuição de senhas 1h antes do início do espetáculo.

Contatos: Instagram: @cabareincoerente Site: https://cabareincoerente.com ; E-mail: cabareincoerente@gmail.com

FICHA TÉCNICA 2024

  • Idealização, Direção e Coordenação Geral: Christina Streva
  • Assistentes de direção I: Luisa Rumchinsky
  • Assistente de direção II: Plínio Morais
  • Preparação Corporal, Direção de Movimento e Coreografias: Lucas Baptista/ Ravínia Sobrinho
  • Direção de Produção: Dudu Gehlen
  • Produção Executiva: Jota Fontenele
  • Assistentes de Produção: Nicole Marcelino / Wallasse Macedo / Mariane Chamarelli
  • Dramaturgista: Leo Medeiros
  • Contribuição cena 10: Nádia Bittencourt
  • Direção Musical: Rohl Martinez
  • Assistente de Direção Musical: Maria Baixaria
  • Designer e operadora de som: Lívia Félix
  • Orientação Musical: Marcos Lucas
  • Sonoplastia: Nigga Albuquerque / Rohl Martinez
  • Preparação vocal: Rohl Martinez / Plínio Morais
  • Iluminação: Beatriz Abiéri, Lia Ximenes, Kay Lima e Marcela Morelli
  • Orientação de Iluminação: Adriana Milhomem Schmitt
  • Operação de luz: Lia Ximenes
  • Cenografia: Davsun Santos
  • Orientação de Cenografia:  Luiz Henrique Sá
  • Assistente de Cenografia: Sandro Roberto Xukuru / Rayane Flaviano / Aghata Trigo / Haru Vieira / Samir Alves
  • Contrarregra: Roberty Flores
  • Visagismo: Triz Charles
  • Figurino: Betina de Bem
  • Assistentes de figurino: Eduarda Sanques e Yan Calixto
  • Orientação de Figurino: Carlos Alberto Nunes
  • Mídias sociais: Mavi Bello / Franco Albuquerque / Bia Bernardo
  • Projeto Gráfico: Franco Albuquerque
  • Fotografia: Sarah Sanfins
  • Assessoria de Imprensa: Marcella Freire
  • Assessoria Jurídica: Victor Losso

Elenco: Bia Bernardo, Beatriz Lago, Clara Roza, Deivison Bruno, Dudu Gehlen, Isabella Brookes, Isis Gadelha, Julia Emilene, Julianna Cassan, Kako Leitão, Kath Alvez, Lucas Baptista, Mavi Bello, Nicole Marcelino, Pedro Danilo Roma, Plínio Morais, Ravínia Sobrinho, Raphaela Branco, Sandro Aliprandini, Vinícius Rocha, Victoria Brandão, Vitória Arruda, Wallasse Macedo, Zé de Moraes.

Banda: Rohl Martinez, Nigga, Caio Storni, Bruna Saraiva, Xandão Viana, Maria Baixaria

Fotos: Bê Riley

Canções originais:

Duelo das Gêmeas

(Rohl Martinez / Clara Roza / Mavi Bello)

 

A Selva Vai Te Pegar

(Rohl Martinez / Clara Roza / Mavi Bello / Isabella Brookes / Vinícius Rocha / Vitória Arruda / Sandro Aliprandini)

 

Paródias:

 

Chatterton (Seu Jorge)

Versão: Rohl Martinez / Plínio Morais / Vinícius Rocha

 

Um Ita do Norte – Explode Coração na Maior Felicidade (Tuninho do Salgueiro)

Versão: Rohl Martinez

 

Lança Perfume (Rita Lee / Roberto de Carvalho)

Versão: Raphaela Branco

 

Agradecimentos: Vinicius Lavall, João Vitor Linhares e Celso André.

EQUIPE INSTITUCIONAL (UNIRIO)

Direção de Produção: Marcio Oliveira / Graziela Kazaoka

Eletricista de espetáculo: Anderson Ratto/ Wellington Fox

Acervo de figurino: Catia Vianna

Acervo de contrarregra: Clarisse Terra

Contrarregra: Paulo Barbeto 

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