A relação de Rogério Sganzerla (1946-2004) com o cinema era apaixonada e visceral. E começou cedo. Muito jovem, assinou em jornais críticas e ensaios sobre a sétima arte – e, assim, já estava fazendo cinema. O pulo para a direção dá-se em 1966, com o curta “Documentário” e, nos anos seguintes, dois longas o colocariam no panteão de nossos grandes cineastas: “O Bandido da Luz Vermelha” e “A mulher de todos”, lançados, respectivamente, em 1968 e 1969. Tropicalista, marginal, underground, experimental são adjetivos que não definiram o realizador que ele foi. Esse artista único é a quem a Cadernos de Cinema dedica o segundo número da sua coleção, iniciada com o cineasta Ruy Guerra. Cadernos de Cinema – Rogério Sganzerla será lançado dia 19 de fevereiro, no Estação NET, com direito a exibição de “O Bandido da Luz Vermelha”. A edição é realizada juntamente pela Azougue, Cavídeo e Oca (Portugal) com apoio da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine).
A edição dedicada a Sganzerla é estruturada em três partes. Depoimento é a primeira delas e traz uma entrevista com o homenageado. No caso de Sganzerla, que faleceu em 2004, é a edição de dois depoimentos inéditos, realizados em 1990. A segunda seção é o ensaio Ver com olhos livres, no qual a filmografia do diretor é minuciosamente analisada — desde “Documentário”, de 1966, a “O signo do caos”, sua última obra — pelo escritor e editor Sergio Cohn, conhecedor do legado de Sganzerla, com quem trabalhou na realização de seu livro “Por um cinema sem limite” (2001). A terceira e última parte traz um índice da filmografia do homenageado, entre longas, curtas e médias metragens. O volume traz cerca de 80 imagens do diretor e de seus filmes, muitas delas raras e inéditas.
Após “O Bandido da Luz Vermelha”, Sganzerla planejava realizar um musical que teria Gilberto Gil como protagonista. A prisão do compositor, em fins dos anos 1960, forçou-o a mudar de planos, levando-o a realizar “A mulher de todos”. Essa é uma das muitas revelações do diretor no depoimento que abre o volume. A entrevista e o ensaio complementam-se e, juntos, traçam um perfil revelador sobre a persona de Sganzerla. O que é trazido por um é complementado pelo outro – e vice-versa.
E o ensaio de Cohn é uma peça-chave para conhecer o temperamento de Sganzerla. Ele reproduz escritos do diretor – como a íntegra do “Manifesto Fora da Lei, criado por ocasião do lançamento de “O Bandido da Luz Vermelha” – e reproduz trechos de entrevistas contundentes como a concedida pelo cineasta e pela atriz Helena Ignez, sua mulher, a “O pasquim”, em 1970. E, assim, sabemos sobre seu rompimento com o Cinema Novo (por não querer estar amarrado a nenhuma corrente estética), sobre a rejeição à pecha de Maldito e sobre as realizações da Belair, produtora na qual Sganzerla e Júlio Bressane foram sócios.
Esse rico olhar sobre Sganzerla é complementado ainda por depoimentos de nomes que trabalharam ou que conviveram com ele. É o caso dos compositores Jorge Mautner, ator em “Carnaval na lama”, de 1970, e Caetano Veloso que incorporou a expressão “Sem essa, Aranha” (título de um dos filmes do diretor) na canção “Qualquer coisa”, lançada em 1975.
“Eu daria todos os filmes que fiz, toda a minha carreira, para poder saber porque é que eu me interessei por cinema desde a primeira infância”, declara Sganzerla no depoimento ao MIS. Talvez Sganzerla tenha vivido sem encontrar tal resposta. Ao homenageá-lo, a série Cadernos de Cinema acaba por responder a esse questionamento e vai além: expõe a grandeza daquele que é um dos realizadores do cinema moderno feito no Brasil. Com vocês, Rogério Sganzerla!
Título: “Cadernos de Cinema – Rogério Sganzerla”
Edição realizada pela Azougue, Cavídeo, Oca com apoio da Socine
Lançamento: fevereiro de 2022
Formato: 20 X 25cm
Número de páginas: 160
Valor assinatura: R$ 68
Assinaturas pelo site https://cadernosdecinema.com.br