Camarote Portela homenageia o enredo “Um Defeito de Cor” com obras inéditas na cenografia

Artistas e profissionais envolvidos na produção do projeto cenográfico do Camarote Portela

A Portela levou para a Marquês de Sapucaí o enredo “Um Defeito de Cor” na madrugada desta terça-feira (13), inspirado no romance histórico de Ana Maria Gonçalves. A homenagem ao livro ultrapassou as grades da avenida e chegou ao Camarote Portela – o único ligado a uma Escola -, que teve sua cenografia construída em torno do enredo. Foram 13 pessoas dedicadas a contar esta história, sendo quatro cenógrafos, dois curadores e sete artistas pretos.

“O livro nos tocou e nos fez modificar totalmente o processo de construção cenográfica. A ideia foi entregar a história a quem pertence a história, ocupando o Camarote por artistas e profissionais pretos que assinaram cada lugar. Mudar o processo foi um passo fundamental para sairmos do raso e entregarmos experiência verdadeira pro público. As paredes cenográficas foram sendo levantadas a medida que esses artistas e profissionais, foram ocupando seus espaços dentro do Camarote, são eles: Pandro Nobã, Nega Fulô, Alma Retinta, Dna Black, Kaoká, Luccas Xaxará, entre outros artistas”, contou a cenógrafa Júlia Paula, diretora criativa do projeto.

O objetivo da equipe foi fazer com que os foliões realmente mergulhassem no livro, transformando as palavras das quase mil páginas em experiências sonoras, visuais e olfativas. Na entrada, as pessoas já eram impactadas pela sonoplastia de Luccas Xaxará, que trouxe sons de atabaques. No primeiro andar, o Camarote Portela instalou 13 obras de Philipe Kaoká, artista que elabora projetos que denotam sua vivência no candomblé, fazendo referência à religião e aos orixás. Uma das obras foi criada exclusivamente em homenagem ao enredo da Portela.

Em parceria com o historiador Jonathan Raymundo e com Nega Fulô, o Camarote procurou por um cheiro que representasse a história de “Um Defeito de Cor”, que virou o cheiro do ambiente. Artes com folhas sagradas, assinadas por Arajany, da Nega Fulô, também compõem a cenografia, que combina paisagismo com religião. No banheiro, por exemplo, é possível encontrar um cheiro de eucalipto junto com símbolos do candomblé, possibilitando um mergulho experimentativo no enredo.

“Esse ano, o Camarote foi além e trouxe artistas que nunca fizeram nada ligado com as escolas. Trazer essa excelência negra é um movimento necessário para que os outros camarotes também tenham essas iniciativas”, afirmou William Reis, que assina a curadoria social do projeto.

O primeiro artista visual a embarcar na proposta foi Pedro Nobã, que pintou à mão livre 90m² de paredes com texturas e objetos simbólicos do enredo. Larissa Chagas, da Alma Retinta, assinou o espaço lounge, onde passam nos televisores colagens digitais de todos os trabalhadores que participaram do processo de construção do Camarote. As colagens representam uma luta contra a dialética da invisibilidade daqueles que estão por trás dos holofotes. Na parede adjacente dos cinco televisores, há uma águia espelhada, símbolo da Portela, assinada por Mário Marcos.

Fegê Rodrigues foi convidada para trançar obras de arte pela primeira vez. Especialista em trançar cabeças, Fegê pode ver seu trabalho eternizado em quadros. No segundo andar, a protagonista de “Um Defeito de Cor”, Kehindé, tem sua história contada de forma cronológica por meio de obras de arte feitas a partir de inteligência artificial, também criadas por Larissa Chagas. Nas obras, são representadas Kehindé criança ainda com sua irmã, Kehindé jovem, Kehindé segurando o filho e Kehindé idosa. Anna Vinhaes acrescentou adereços nas artes, como sementes e turbantes. Com o objetivo de homenagear a ancestralidade preta, a DNA Black confeccionou os turbantes de todos os profissionais pretos que iriam trabalhar no camarote e quisessem usar.

Além da presença de todos os sete artistas, o Camarote Portela contou com a visita da autora de “Um Defeito de Cor”, Ana Maria Gonçalves e pôde conferir de perto o projeto. “O enredo homenageia as mães pretas do Brasil, que é a história que ‘Um Defeito de Cor’ conta. Acho que o verso do samba ‘Nasci quilombo e cresci favela’ diz muito bem o que as mães pretas ainda passam no Brasil. Pra mim é uma grande felicidade que elas possam estar na avenida contando um pouquinho da sua história e fazendo disso a verdadeira história do Brasil. É um acolhimento extremamente carinhoso da Portela”, afirmou a autora.

PROJETO CENOGRÁFICO CAMAROTE PORTELA 2024

Curadoria:

William Reis @iamwilliamreis

Jonathan Raymundo @raymundojonathan

Artistas:

Grafite: Pandro Nobã @pandronoba

Colagens: Larissa Chagas @almaretinta

Adereços: Anna Vinhaes @annavinhaes

Atabaque: Luccas Xaxará @luccasxaxara

Pinturas digitais: Philipe Kaoká @philipekaoka

Paisagismo e religião: Arajany @negafuloh

Tranças: Fegê Rodrigues @trancamaisquetapouco

Direção Criativa:

Julia Paula

Equipe Cenografia:

João Boni

Bárbara Boy

Izabela Crescembine

Related posts

Musa da União da Ilha, Amanda Fernandes confraterniza com a escola em noite especial

Primeira noite de Camarote N°1 terá shows de Xand Avião e Felipe Amorim

Samba do Milton Cunha estreia na próxima sexta-feira (13), no Casarão do Firmino com os Puxadores do Samba