A 18ª edição da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa aconteceu neste domingo (21), reunindo milhares de pessoas na orla da Praia de Copacabana, Zona Sul do Rio. O maior ato inter-religioso do Brasil mais uma vez se mostrou essencial, reafirmando sua importância como espaço de resistência, convivência pacífica e celebração da diversidade.
O encontro começou logo cedo, com um café da manhã no Hotel Pestana, na Avenida Atlântica, que reuniu patrocinadores, apoiadores, lideranças religiosas, culturais e sociais.
Entre os presentes estavam Fernanda Lemos Gonçalves, especialista em equidade racial do Instituto Ibirapitanga; Natália Damazio, assessora especial do Gabinete Ministerial do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania; o deputado federal e pastor Otoni de Paula (MDB-RJ); o Diretor de Equidade Racial e Relações Institucionais do Grupo Carrefour Brasil, Claudionor Alves; Clarice Coppetti, diretora executiva de Assuntos Corporativos da Petrobras; o secretário de Turismo de Nilópolis, Leandro Monteiro; o pastor e deputado federal Henrique Vieira; Suzi Clementino (Empório Ipiatti), Dário Aragão (UniFOA), Luis Fernando Nery, entre outros.
Nos discursos, a tônica foi clara: combater a intolerância religiosa e o racismo, ampliar o respeito mútuo e reforçar que a convivência entre diferenças é a verdadeira base de uma sociedade democrática. “Como cristão, sei que a palavra é o meu princípio, é a base da minha fé. Mas também sei que o que Cristo faria é exatamente o que estamos fazendo aqui: respeitar o próximo”, afirmou Otoni de Paula. O Pastor Henrique Vieira destacou que “quando um terreiro é invadido, uma mãe de santo é perseguida, essa violência começa muitas vezes em um púlpito. Precisamos enfrentar essa cultura racista e intolerante”.
Após o café, os participantes seguiram para o Posto 5, ponto de concentração da caminhada. Coordenada pelo CEAP (Centro de Articulação de População Marginalizada), CCIR e pelo professor doutor Babalawô Ivanir dos Santos, a manifestação consolidou-se ao longo de 18 anos como referência internacional na defesa do respeito às diferentes crenças.
Como lembrou Ivanir dos Santos: “Nossa caminhada simboliza o respeito à diversidade, a valorização das tradições e a defesa da convivência pacífica entre todos os credos. Estar aqui é dizer não à intolerância e sim à liberdade, à equidade, ao respeito e à união. É um ato democrático e legítimo.”
Única no mundo, a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) reúne representantes de praticamente todas as tradições religiosas em torno de uma causa comum. Em quase duas décadas, já levou cerca de 1,8 milhão de pessoas à praia de Copacabana pelo respeito, pela diversidade e pela defesa do Estado laico.
Os cicerones – Kenia Maria estreou no comando da 18ª edição da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, dividiu a apresentação com o veterano Nando D’ Oxaguian, também sacerdote, conduzindo falas, lideranças, artistas e grupos culturais.
Inúmeros grupos culturais e religiosos vieram de diferentes pontos do Brasil, como São Paulo, Minas Gerais, Salvador, entre diversas regiões do estado do Rio: Metropolitana, Médio Paraíba, Centro-Sul Fluminense, Serrana, Baixadas Litorâneas, Norte Fluminense, Noroeste Fluminense e Costa Verde. A presença plural demonstrou a força da mobilização nacional em torno da causa. Somaram-se ainda delegações internacionais, como a ONG HWPL (Cultura Celestial, Paz Mundial, Restauração da Luz), com sede na Coreia do Sul e dedicada a iniciativas de educação, fóruns e voluntariado para alcançar a paz mundial e pôr fim às guerras, Mannu Tamos e Totinho Capoeira da Subsecretaria de Igualdade Racial e Diretos Humanos de Campos.
Com a participação de líderes do candomblé, umbanda, evangélicos, católicos, budistas, muçulmanos, judeus, hare krishnas, wiccanos, ciganos, mórmons e inúmeros outros segmentos. Além do Padre Gegê e Frei Tatá, a caminhada comprovou que a representatividade ultrapassa o discurso: é no gesto coletivo, no encontro entre tradições distintas, que a mensagem ganha potência transformadora.
Durante o percurso, que seguiu até o Lido, a orla se transformou em um grande cortejo cultural. Atabaques, cantos, danças e apresentações de grupos como Filhos de Angola, Cia Malandros, Tissara – Luz de Oriente, Samba Delas, Filhas de Gandhi, Mineiro Pau, Omim Ayo, Agbara Dudu, Orumilá e companhias de Folia de Reis expressaram, cada um a seu modo, a beleza da fé em movimento. Cada apresentação simbolizava uma linha de trabalho espiritual, traduzida em música, dança e poesia — a diversidade como caminho de unidade.
A caminhada fechou com chave de ouro, concluiu com o evento “Cantando a Gente se Entende”, encontro inter-religioso que reuniu o padre Lázaro e Marquinhos de Oswaldo Cruz. Além do pastor Kléber Lucas, o, a banda Soul da Paz, encerrando o dia em tom de harmonia com o grupo Awurê.
Patrocinada pelo Grupo Carrefour e com apoio da CEDAE, Globo, Prefeitura do Rio, RioTur e Visit Rio, além de parceria da Petrobras, a caminhada reafirmou sua mensagem central: a liberdade religiosa é um direito fundamental previsto na Constituição Federal e na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Assim, mais uma vez, a Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa cumpriu seu papel: ser voz da pluralidade, ato de fé e celebração de um Brasil diverso que acredita na paz.
