Realizado pelo cantor e ator Carmim, o projeto Meio século de “Eu não sou cachorro não” – A importância de Waldick Soriano para a música popular brasileira é uma homenagem a Waldick Soriano, conhecido como rei do brega e da dor de cotovelo. Quem nunca ouviu o famoso verso que deu nome à canção? Iniciado com a regravação de “Eu não sou cachorro não”, com data de lançamento nas plataformas digitais em 15/02/2023, Carmim vem pesquisando o repertório e a história de Waldick Soriano desde maio de 2022. Está em produção do álbum intitulado “Torturas de amor – Carmim interpreta Waldick Soriano”, que contará com 11 canções, entre sucessos e músicas não tão conhecidas, e do respectivo show, com arranjos criados para o projeto, em arrocha (ritmo derivado do brega bem conhecido e dominante do Nordeste). Ainda, gravou no entre os dias 13 e 16 de janeiro/2023, o clipe da canção, carro-chefe do projeto.
Sopa Cultural: Você assinava, como ator, o nome Tairony Novais e agora, como cantor, assina Carmim. Qual o motivo da mudança?
Carmin: Eu tenho 16 anos de carreira artística, completados em novembro de 2022. Me dediquei ao meu ofício dramático que é a atuação. Quando eu estou cantando, também, estou interpretando. Sou um artista de palco e é onde mais me sinto confortável nesta vida. Minha mãe, Carminda, fez a passagem para o outro mundo em 2021. Nossa ligação era tremenda, a pessoa que mais amo. A vida, a percepção e a arte mudam muito após este acontecimento, sabe? Em uma homenagem a ela, e à Nossa Senhora do Carmo, de quem sou devoto, decidi mudar meu nome artístico, para carregar comigo, para onde for, o nome dela. Em todas as vezes que eu for anunciado, ela também será. Carmim é Carminda.
Sopa Cultural: Como surgiu a ideia de fazer esta homenagem a Waldick Soriano?
Carmin: Waldick era o cantor favorito de minha mãe. Cresci escutando as músicas. Me lembro de, na infância, minha mãe colocar um vinil dele e me ensinar a dançar, sobre os seus pés. Então, ele é muito querido para mim e foi (e é ) trilha sonora de momentos maravilhosos da minha vida. Como a canção “Eu não sou cachorro não” completou meio século, decidi que era o momento oportuno para contar a história deste rei da música popular brasileira. Em homenagem a isso, tirei do meu coração um grande desejo de cantar, e tocar os corações das pessoas com a obra maravilhosa do Waldick. O projeto, que se chama “Meio século de EU NÃO SOU CACHORRO NÃO – a importância de Waldick Soriano para a música popular brasileira”, é múltiplo: regravei a canção, em arranjo de brega, parecido com o original, mas com os toques da minha personalidade. Estou gravando um clipe, com direção da Jessica Voguel, pela SC Filmes, e apoio do Rio Scenarium, nas cidades de Maricá e do Rio de Janeiro, estou gravando um álbum com 11 canções, entre grandes sucessos e músicas lindas, mas não tão conhecidas, e em ensaio do show “Torturas de amor”, ambos produzidos pelo Mansur Santos. Além disso, vou disponibilizar uma playlist com as músicas maravilhosas dele, que ficaram de fora do projeto, para que todas as pessoas possam ouvir as lindas canções que eu queria cantar, mas que infelizmente tiveram que ficar de fora do projeto. Ah! E ainda tem um curta-metragem de ficção, baseado na canção.
Sopa Cultural: Trata-se de um projeto bem interessante. Por que você resolveu começar pelo Waldick Soriano? Qual a importância dele para a música brasileira?
Carmin: Existe uma invisibilidade da música brega no Brasil. O Waldick foi um dos maiores vendedores de discos da nossa coletânea musical brasileira. Com a estimativa de mais de 700 canções e 80 discos, tornou-se um ídolo popular entre as décadas de 1960 e 1970, com uma vasta obra que muitas vezes se confundiu com a sua própria vida. E, como um cantor popular (sempre foi assim que ele se definiu), que cantava a poesia simples, mas intensa e profunda, envolta pelo amor e por baladas açucaradas, melodramáticas e boleros, fez um grande sucesso. Ele cantava para o povo. Para as pessoas como ele. Pessoas que também trabalharam quando crianças, que não tiveram acesso ao estudo e que laboravam nas lavouras, com a enxada, como faxineiros, engraxates, peões, empregados domésticos, do lar, motoristas, ou seja, outros tantos brasileiros e brasileiras com histórias humildes.
Sopa Cultural: A quem interessa o sucesso de Waldick?
Carmin: Ao povo. E por isso, amargou o desprezo das elites culturais. Considerada como música menor, nunca coube no padrão estético da nobre MPB. Infelizmente. Pesquisando sobre a nossa história musical, nada se fala sobre o brega e tantos cantores incríveis. E eu me pergunto: Qual é a memória da música popular brasileira que está sendo construída em nosso país? Seria apenas a música dos festivais, as canções de protesto? E as canções populares de amor? A memória da música popular que está sendo construída no Brasil é escrita pela elite cultural e, à medida que o tempo passa, Waldick estará fadado ao esquecimento? As gravadoras não relançaram a maioria de seus discos. Não toca nas rádios. Não se fala sobre ele nos programas de tv. É importante dizer que a sua morte é recente: data de 2008. Hoje é tão pouco mencionado. Em alguns anos, falaremos sobre ele? Ou melhor, o ouviremos? No que depender de mim, sim.
Sopa Cultural: Sua ideia, então, é resgatar a memória do cantor que faleceu em 2008?
Carmin: Sim. Ele é injustiçado. Waldick merece todas as homenagens póstumas possíveis. O meu objetivo com este projeto é de fato dar à voz deste artista para amenizar o seu esquecimento nesta luta tão desigual pela memória. E trazer o afago de um tempo que foi tão presente para as pessoas ouvirem. É apresentar este artista e o seu ritmo para a nova geração, com arranjos contemporâneos de arrocha. É ocupar o espaço público das praças das periferias. É cantar as dores de amores do Waldick. É trazer a sua poesia em forma de música. É fazer as pessoas a voltarem a procurar pelas suas canções e, quem sabe, sua música se fazer presente nas rodas de canto entre amigos. Waldick, para sempre, Waldick. Este é o meu lema. E o que vou fazer.
Sopa Cultural: Você pretende fazer o mesmo com outros cantores brasileiros?
Carmin: Sim! Com certeza! Eu tenho um grande desejo de cantar Dick Farney. Fazer uma homenagem a ele! Mas também, quero muito regravar canções de ícones do brega brasileiro e conectá-los com o tempo presente. Devemos muito a eles! Enquanto artista, sinto-me tocado a dar valor a quem hoje é tão esquecido. Tem muita música boa para gente ouvir e cantar.
Sopa Cultural: Você gravou um clipe da canção aqui no Rio de Janeiro, de 13 a 16/01/2023. O roteiro traz a história de um cantor, que se mistura com a sua história de vida. Como surgiu a ideia e por que você escolheu as cidades do Rio de Janeiro e Maricá para a gravação?
Carmin: Como ator, eu quis contar uma história. E eu queria que fosse a história de um artista. A ideia é que seja um cantor que teve seu apogeu, mas que caiu no esquecimento. Já teve sucesso, mas hoje recebe poucos aplausos (quando os recebe). Ao mesmo tempo em que que é impulsionado pelo desejo de cantar e fazer a sua arte, tem que promover a ilusão nas redes sociais de que ainda está no auge. Não tem uma casa fixa, vive em hotéis – agora os mais simples. O seu único espaço é o seu camarim, onde tem as suas coisas pessoais e onde pode se ver como realmente é: solitário. Tem uma canção, lindamente interpretada pela Ângela Maria, que fala “quem mais sabe de mim é o espelho do meu camarim”. Partindo desta canção e de “Bastidores” (na interpretação dramática e fenomenal do Cauby Peixoto), construímos a narrativa do clipe. Tem uma história de amor, tem o prazer em cantar, tem a dor e a solidão de se olhar no espelho, tem o vício no álcool, tem a construção de uma falsa imagem nas redes sociais, tem a preocupação com a estética, mas tem muita solidão.
Sopa Cultural: Você acredita que os cantores/atores são pessoas solitárias. A que você atribui essa, digamos assim, tristeza?
Carmin: Totalmente! Somos solitários quando somos cerceados pelas pessoas, quando só temos nós acreditando nos nossos sonhos, muitas vezes quase inalcançáveis, quando enfrentamos a frustração de não conseguir fazer os projetos pelas dificuldades impostas, quando não conseguimos viver com dignidade dos ganhos provenientes da nossa arte. Somos solitários quando estamos em busca de inspiração. Ou quando a
temos. Quando estamos trabalhando mas não os nossos colegas. Quando fazemos arte na rua e quase ninguém vê. Quando estamos numa super produção, mas temos a própria cobrança de que temos que fazer tudo perfeito ou pode ser a última oportunidade. Quando criticam nosso trabalho de maneira avassaladora. Quando expõe as nossas dores e dificuldades e inseguranças. O nosso coração precisa ser tocado para tocar o do outro. É como um ciclo. E para abrirmos o nosso coração, precisamos mergulhar em nós mesmos. Solitariamente.
Sopa Cultural: Já tem data para os demais lançamentos?
Carmin: O single “Eu não sou cachorro não” será lançado nas plataformas dia 15/02/2023, o clipe, na primeira semana de março, o álbum, no dia 18 de abril e, minha produtora Telma Queiroz, da 100 jabá, e eu estamos trabalhando para estrear o show em 14 de maio, Dia das Mães.
Idéia maravilhosa, desejo todo sucesso ao projeto é torço pelo reconhecimento deste talentoso jovem.