Casa de Cultura Volta do Mundo fortalece protagonismo afro-brasileiro na Pequena África

por Redação
Casa de Cultura Volta do Mundo fortalece protagonismo afro-brasileiro na Pequena África

Instalada em um casarão histórico de três andares, em uma das áreas mais simbólicas do Rio de Janeiro, a Casa de Cultura Volta do Mundo se consolida como um polo de resistência, pertencimento e transformação social. Localizada no coração da Pequena África — território reconhecido por sua relevância cultural e histórica —, a instituição se destaca por unir tradição, arte e impacto social com protagonismo do povo preto.

Mais do que um espaço cultural, a Casa é um lugar de acolhimento. A decoração, as atividades e os projetos sociais criam uma atmosfera de pertencimento para a comunidade negra e periférica, que encontra ali oportunidades de formação, renda e ressignificação de suas histórias.

A gestão do espaço é feita por Simone Torres e Eduardo Escadão. Segundo Simone, produtora cultura, estar nesse território é simbólico e necessário. “Ali o protagonismo é do povo preto, sem excluir ninguém, mas garantindo prioridade a quem sempre foi invisibilizado”, explica. A Casa adota um critério de acesso afirmativo: em projetos com número limitado de vagas, 80% delas são reservadas para pessoas pretas e periféricas, e os 20% restantes são abertos ao público em geral. A ideia é assegurar que o espaço cumpra seu papel de reparação histórica, ao mesmo tempo em que permanece aberto a toda a comunidade.

Entre as iniciativas em andamento, ganha destaque o projeto Mulheres de Impacto, contemplado em edital da Secretaria de Cultura do Estado. O programa é direcionado a mulheres pretas, periféricas e mães solos, oferecendo capacitação em ofícios manuais e orientação empreendedora para geração de renda sem que elas precisem se afastar do cuidado com os filhos.

As incluem bijuteria afro, turbantes e tranças. Na oficina de bijuteria, as participantes aprendem técnicas de criação de acessórios, além de módulos online sobre comercialização, embalagem e parcerias. A oficina de turbantes alia prática e história, ensinando diferentes formas de amarração e o significado cultural de cada modelo. Já a oficina de tranças oferece formação prática voltada ao mercado de beleza e estética, uma área em constante crescimento e oportunidade. “E alinha prática à história, explicando cada tipo de trança e porque as mulheres andavam trançadas daquele jeito”, observa Simone.

Cada oficina é conduzida por especialistas em pautas negras, que contextualizam a relevância da mulher negra na sociedade e trabalham o fortalecimento identitário. Em todas as oficinas, Marcele Oliver, líder do movimento negro “Avança, Nega”, participa falando sobre a representatividade da milher preta na sociedade. O objetivo é que, além da capacitação técnica, haja também um fortalecimento pessoal e comunitário.

A Casa concorre ao edital da Pequena África, em parceria com o BNDES, para oferecer formação em produção cultural, incluindo gestão financeira, uso de redes sociais e aplicação de inteligência artificial para novos agentes culturais.

Outro pilar central da Casa de Cultura Volta do Mundo é a capoeira como ferramenta socioeducacional. As rodas e aulas não se limitam ao aspecto esportivo ou cultural: funcionam como instrumento de inclusão, oferecendo a jovens da periferia um caminho alternativo à criminalidade. Reconhecida como patrimônio cultural imaterial, a capoeira se transforma em agente de disciplina, pertencimento e perspectiva de futuro. Hoje, o espaço também acolhe jovens em cumprimento de medidas socioeducativas, reforçando seu papel de transformação real na vida de quem mais precisa.

A Casa também abriga rodas de conversa e encontros que estimulam a troca entre mulheres negras, promovendo um espaço de escuta e apoio. Nesses encontros, surgem redes de solidariedade, onde uma participante indica a outra para trabalhos, eventos e oportunidades. Essa rede comunitária contribui não apenas para a autoestima e saúde mental, mas também para a criação de uma base sólida de apoio mútuo.

“A Casa de Cultura Volta do Mundo é mais do que um espaço físico. É uma resposta à necessidade de reparação histórica e fortalecimento cultural da população negra, reafirmando seu protagonismo e promovendo inclusão em uma das regiões mais emblemáticas da cidade”, resume o capoeirista Eduardo Escadão.

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