Os 100 anos de nascimento do mestre foram marcados por exposição e cinco projetos selecionados em edital
Ciclo de debates na Biblioteca Parque Estadual encerra as comemorações em novembro
As comemorações pelo centenário de nascimento do antropólogo, historiador, sociólogo, escritor e político brasileiro Darcy Ribeiro chegam ao fim em novembro, com o ciclo de debates “O Centenário de um personagem Irrequieto: Darcy Ribeiro em Vários Cenários – Política, Educação e Fazimentos”, que vai acontecer nos dias 10 e 17 na Nave do Conhecimento do Oi Futuro, na Tijuca, e no dia 24 na Biblioteca Parque Estadual, justamente no lugar onde as homenagens começaram, em 2022, com a exposição “Darcy Ribeiro: dos Kadiwéu ao Quarup”. Na abertura da exposição, que teve curadoria do antropólogo, fotógrafo e pesquisador Milton Guran, foi lançado o edital “100 anos Darcy Ribeiro”, realizado pela Muriqui Cultural, em coprodução com a Zucca Produções, apoio do Oi Futuro e patrocínio da Oi com uso da Lei Estadual de Incentivo à Cultura – Lei do ICMS. Foram premiados cinco projetos de empreendedores culturais do Estado do Rio de Janeiro. Cada um recebeu R$ 50 mil.
Os projetos selecionados foram de dois espetáculos teatrais, um livro, oficinas e mosaico. A peça “Cartaz de Darcy” foi apresentada durante o mês de junho deste ano, na Casa de Cultura Laura Alvim. Também em junho, foi lançado o livro “Darcy Ribeiro de cá e de lá” na própria Biblioteca Parque. Em julho, depois de meses de oficinas gratuitas para fazer mosaicos, Darcy Ribeiro ganhou um mural, feito de azulejos em mosaico no muro da Coordenadoria Regional de Educação, no bairro da Saúde, zona portuária do Rio de Janeiro. Já em agosto, foi lançado um podcast com cinco episódios documentais contando a trajetória de Darcy, e a peça “Os Brasis de Darcy” circulou por escolas e comunidades, finalizando com uma apresentação na Biblioteca Parque.
“Foi um prazer enorme realizar este projeto junto com a Luiza Carino, da Muriqui Cultural, e a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do RJ. Aprendemos muito sobre Darcy, suas ideias e realizações. Dos seus primeiros passos como antropólogo na aldeia do povo Kadiwéu até seu legado que continua fundamental para o Brasil, passando pelo Quarup em sua homenagem no Xingu, conseguimos dar nossa contribuição para a celebração e a preservação de sua memória. Além das exposições que realizamos, o edital de premiação que promovemos resultou em projetos sensacionais de literatura, teatro, podcast e um mural de azulejo no centro do Rio. Encerramos agora com os seminários sobre educação, tudo em sua homenagem. E ainda temos o prazer de anunciar que doaremos para a secretaria a estrutura que montamos para a exposição da Galeria Darcy Ribeiro, na Biblioteca Parque Estadual, de forma que outras atividades culturais possam se aproveitar do espaço”, resume Julio Zucca, da Zucca Produções.
Sobre os palestrantes do ciclo de debates
Lincoln de Araújo Santos é professor da Faculdade de Educação – FEBF/UERJ e do Programa de Pós-Graduação em Educação, Cultura e Comunicação em Periferias-PPGECC, e tem pós-doutorado em História Social pela UFF. Foi coordenador do grupo de pesquisa Pensamento Social e Educação – PENSEUERJ, secretário municipal de Educação de Niterói (2022), e publicou, em 2022, o livro: “O pensamento social de Celso Furtado: desenvolvimento, planejamento e educação no Brasil (1950-1960)”.
Leandro Marins Sarmento tem Mestrado Acadêmico em Educação, Cultura e Comunicação pelo Pela Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (Febef-Uerj). Especialização em Educação Especial e Inclusiva pelo Centro Universitário Celso Lisboa. Graduação em Pedagogia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Servidor público da Universidade do Estado do Rio de Janeiro de 2013 até os dias de hoje. Foi professor dos anos iniciais no município de Mesquita (2006 – 2015), professor de Educação do Campo no município de Nova Iguaçu (2008-2013) e secretário municipal de Educação de Niterói (2022).
Mauro Fernandes é graduado em Ciências Sociais pela UFRJ, pós-graduado em gênero e diversidade e em gênero e sexualidade pela Uerj e em gestão educacional pela UFF, mestre em Sociologia da Educação pela Universidade Católica de Petrópolis e doutor em História da Educação pela UERJ. Leciona pela Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC-RJ), na qual foi Superintendente Estadual de Educação e Diretor do C.E. Presidente Dutra e do CIEP 155 Mª Joaquina de Oliveira, colégios que deram origem a sua tese intitulada: “A pedagogia da festa: memórias dos CIEP Mª Joaquina de Oliveira e CIEP Brigadeiro Sérgio Carvalho”. É também autor dos livros: “Raça e gênero na Educação: a cor e os cabelos na construção da identidade da mulher”; “Da beleza dos cabelos crespos ao racismo inconsciente” e “Violência e racismo: relatório sobre o extermínio de crianças e adolescentes no Rio de Janeiro”.
Serviço
100 ANOS DE DARCY RIBEIRO – CICLO DE DEBATES
- “O Centenário de um personagem Irrequieto: Darcy Ribeiro em Vários Cenários – Política, Educação e Fazimentos”
- Dias 10 e 17 de novembro, às 14h
- Local: Nave do Conhecimento do OI Futuro ]
- Endereço: rua Uruguai 204 – Tijuca
- Dia 24 de novembro, às 14h
- Local: Biblioteca Parque Estadual
- Endereço: Av. Presidente Vargas 1261 – Centro
Edital e os projetos selecionados
O projeto “100 anos Darcy Ribeiro” teve como objetivos celebrar e marcar o centenário do genial personagem da história do Brasil recente; fomentar a produção cultural do Estado do Rio, com estímulo a produtores culturais de todo o estado fluminense; estimular pesquisas e realizações culturais sobre a importante obra e a vida de Darcy Ribeiro; proporcionar uma imersão em uma das culturas indígenas mais instigantes do Brasil; e promover um ciclo de palestras e debates sobre as ideias e atuações de Darcy no campo da educação.
O edital foi marcado pela diversidade. Entre os 191 projetos inscritos no edital, 42 contaram com indígenas em suas equipes, uma feliz coincidência em se tratando de uma homenagem a um antropólogo que tanto se preocupou com os povos originários. Vale destacar também que 94,2% das inscrições foram propostas por equipes que contavam com mulheres, 78% com negros, 61,3% com representantes da comunidade LGBTQIA+, e 15,7% com PCDs.
“Cartas de Darcy – peça
Realização do grupo Poeira da História, a peça “Cartas de Darcy” aborda a trajetória de Darcy Ribeiro a partir das memórias de infância de um professor. O que diria Darcy Ribeiro, um dos maiores intelectuais brasileiros do século 20, sobre o Brasil na atualidade? E se pudesse escrever cartas ao povo brasileiro? Essas reflexões são o ponto de partida do espetáculo, que fez temporada de 2 a 25 de junho, com sessões de sexta a domingo, no Espaço Rogério Cardoso, na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema.
Com idealização, dramaturgia e atuação de Max Oliveira, o processo de criação deu-se na sala de ensaio por meio de experimentações cênicas com direção de Carmen Frenzel e supervisão dramatúrgica de Fabrício Branco. O grupo Poeira da História produziu uma concepção cênica e dramatúrgica baseada no teatro documentário e no biodrama para a construção de uma história pública para e com a plateia, em uma perspectiva historiográfica de autoridade compartilhada.
O biodrama levou para a cena as memórias familiares de Max Oliveira, atravessadas pelo cenário político, econômico e social das décadas de 1980 e 1990. Além da sua rotina como professor de história da rede pública de ensino a partir de 2020, num jogo cênico que mescla memória, história, critical fabulation e autoficção.
“Cartas de Darcy” teve cenários e figurinos assinados por Oswaldo Eduardo Lioi, iluminação de Hebert Said, pesquisa da antropóloga Daphne Cordeiro e produção de Gaby Freitaz, Max Oliveira e Thiago Prado.
“Darcy Ribeiro de cá e de lá” – livro infanto-juvenil
A história de um dos educadores mais importantes do Brasil – Darcy Ribeiro – agora está ao alcance das crianças. Em janeiro deste ano, o livro “Darcy Ribeiro de cá e de lá”, escrito pela indígena Auritha Tabajara, foi laçado pela Bambual Editora. Esta primeira obra infanto-juvenil sobre Darcy Ribeiro foi desenvolvido e escrito em cordel, contando sobre o nascimento, a infância, a juventude, os feitos e as criações na vida adulta, e também elaborando sobre como Darcy Ribeiro foi recebido no outro plano quando virou ancestral.
A espiritualidade está presente no livro de forma leve e emocionante. O livro é indicado tanto para Educação Infantil (5 anos), com a abordagem focada nas ilustrações, quanto para o Ensino Fundamental I (de 6 a 11 anos). Pensadores como Darcy Ribeiro devem ser conhecidos pelas novas gerações desde cedo. Darcy foi exemplo de um homem múltiplo, que enfrentou batalhas árduas para a construção de um Brasil justo e com educação de qualidade. Como ele viveu com os indígenas e lutou muito pelas causas dos povos originários, foi fundamental convidar uma indígena para escrever este livro.
A autora é Auritha Tabajara, da aldeia Serra dos Cocos – Ipueiras – Ceará. Ela é escritora, contadora de histórias e a primeira indígena brasileira a escrever cordel. As ilustrações foram feitas por Caio Zero que é artista-educador, quadrinista e ilustrador, graduado em Licenciatura em Artes na UFRRJ. A pesquisa foi feita pela historiadora e mestranda em antropologia social, Bruna Elia. A idealização do projeto e produção executiva é de Mariana Kapps, pós-graduada em Educação e formada em Comunicação Social.
Mural Darcy Ribeiro e o povo brasileiro
Os artistas John Souza e Natalia Reyes, do Ateliê Cosmonauta Mosaicos, inauguraram, em julho deste ano, um painel de mosaico de azulejos em homenagem a Darcy Ribeiro no muro da Coordenadoria Regional de Educação, no bairro da Saúde, na zona portuária do Rio de Janeiro. A inspiração para o mural foi um dos principais livros do antropólogo: “O povo brasileiro”, de 1995. O painel mostra Darcy e um mapa do Brasil formado por rostos de todas as cores e biotipos, exatamente como é o brasileiro.
Durante a feitura do mural, entre abril a junho, foram oferecidas 12 oficinas gratuitas nas quais os 50 participantes aprenderam a fazer mosaico e contribuíram com o painel.
“Os Brasis de Darcy” – peça
A peça-manifesto “Os Brasis de Darcy” trouxe à cena a história de um país diverso e em constante transformação, valorizando as culturas populares, combatendo as desigualdades sociais e buscando uma sociedade inclusiva. O espetáculo retratou a vida de Darcy Ribeiro desde a cidade natal Montes Claros, passando por momentos cruciais que marcaram a história do Brasil, ressaltando a identidade multifacetada do país e questionando: qual é a cara do Brasil?
Com um elenco composto por sete jovens artistas periféricos, a peça foi apresentada para mais de 1.000 estudantes da rede pública, em apresentações nas periferias do Estado do Rio de Janeiro. A realização foi Projeto Cria, instituição sem fins lucrativos atuante desde 2018 no Caju, que tem como missão promover o pensamento autônomo de indivíduos em situação de risco social por meio do teatro como ferramenta educacional. Através do Cortejo Favela, o projeto fomenta a criação autoral e capacita jovens periféricos para o mercado de trabalho.
Durante o mês de agosto deste ano, a peça “Os Brasis de Darcy” foi apresentada no Caju, nas favelas Pavão-Pavãozinho, Vidigal, Tuiuti e Vigário Geral, e também na cidade de Bom Jardim, interior do Rio, e na Biblioteca Parque Estadual.
“Darcy Ribeiro do Brasil – um documento narrado” – podcast
Cinco episódios documentais contam a incrível trajetória do antropólogo que participou de momentos fundamentais para a história recente brasileira neste podcast produzido pelo Instituto Saudiversidade e pela Clímax Conteúdo. Os cinco episódios foram lançados em agosto nas plataformas digitais Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts, além de ter sido divulgado pelas redes sociais do Saudiversidade (@saudiversidade) e do Cultura Transviada (@culturatransviada), o podcast de Cultura e diversidade do Instituto.
Os cinco episódios do podcast são:
1 – Quem foi este brasileiro?
2 – Darcy Ribeiro e a sua obra imortal
3 – Darcy Ribeiro e os povos originários
4 – Darcy Ribeiro e o Rio de Janeiro
5 – O legado de Darcy Ribeiro e seus reflexos no Brasil de hoje
Idealizado pelo jornalista Pedro Neves em parceria com a médica infectologista Vivian Avelino-Silva, o podcast mergulha em uma pesquisa documental sobre a vida e o legado de Darcy Ribeiro, personalidade que trilhou uma trajetória tão múltipla quanto representativa ao estudar, defender e lutar pelo Brasil e por toda a diversidade do povo brasileiro.
Saudiversidade é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que visa a promover a educação, a informação e a comunicação sobre saúde integral com foco nas diversidades. Fundado em março de 2021, o Instituto Saudiversidade foi originado a partir de uma série de episódios de podcasts sobre saúde integral em população LGBTQIA+.