As cores estão em tudo e nos comovem. Tingem roupas e paredes, iluminam o céu, motivam emoções. Na infância, em especial, são destacadas em livros ilustrados, roupas, brinquedos. Inspirada pelos múltiplos significados e pela força da materialidade de cada uma delas, a poeta e pesquisadora Ciça Brandi lança Cores, álbum no qual interpreta treze canções de sua própria autoria, cada uma sobre uma cor. O trabalho, que marca sua estreia na música, chega às plataformas digitais no dia 29 de agosto. Pré-save: http://tratore.ffm.to/corescb .
Com dois singles lançados previamente, “Amarelo” e “Preto no branco”, o álbum Cores propõe, de modo sinestésico, uma abordagem musical para as cores (incluindo até um espacinho para “Transparência”), buscando conjugar diversão com estímulos culturais e sensoriais. Cuidadosamente pensado para ser curtido por pessoas de todas as idades, Cores é focado no público infantil, dos 04 aos 12 anos de idade. A produção musical é de Guilherme Gê.
“A criação das músicas é inspirada por emoções e ideias, às vezes contraditórias, despertadas pelas cores, e também pela materialidade delas: qual o som e a pulsação de cada cor? Onde elas aparecem em nossas vidas? As letras reúnem elementos, expressões e situações que remetem às cores, por vezes criando narrativas em torno delas. As melodias imprimem um ritmo e uma temperatura para cada cor”, explica Ciça.
Ela conta que buscou inspiração em álbuns como “A Arca de Noé”, de Vinícius de Moraes, “Os Saltimbancos”, de Chico Buarque, e “Partimpim”, de Adriana Calcanhotto, todos eles encantadores para pessoas de todas as gerações. “Buscando um som para cada cor, a música sobre o laranja é um frevo, sobre o vermelho um rock, sobre o amarelo um xote, por exemplo”, ela complementa.
As canções incorporam referências musicais (Alcione, cujo apelido é Marrom; “A cor amarela”, de Caetano Veloso), gastronômicas (“eu quero fios d’ovos, banana, quindim / eu quero pão de queijo, batata e aipim”), religiosas (“e na minha prece / a prata é rosário / e balangandã / tô entre a baiana / e a moça cristã”) e literárias (por ex., “Cinza é a pedra / que cruza o nosso caminho / Drummond cantou essa pedra / E não estava sozinho / Cinza parece tormenta / Arrumando o desalinho”). Ou seja, “é um disco inicialmente concebido para o gosto musical de crianças, sempre buscando honrar a inteligência, a curiosidade e a sensibilidade delas”, finaliza Ciça Brandi, convidando todos a ouvi-lo.
Avigorado no processo de composição musical – em que além de listas dispersas de coisas de cada cor, notas em cadernos e gravações no celular, Ciça Brandi se deparou, por exemplo, com escritos de Goethe e Kandinsky relacionando as cores, as artes plásticas e a música – o interesse dela pelo tema continuou se expandindo. Sua tese de doutorado, um desdobramento do projeto musical, é sobre como as cores nos afetam em suas múltiplas dimensões e envolve a presença delas na literatura e na música. Alguns pontos bastante curiosos, podem ser encontrados aqui. Além de escutar o disco, também vale dar uma lida.
Certamente ao menos uma dessas cores irá te surpreender!
Bora começar?
Sobre as faixas
O álbum abre com Preto no branco, um pop rock dançante que brinca com a expressão e com a ideia de que essas cores são um par complementar.
Na sequência, Vem verde, outro pop rock, em que o contraste sonoro (começa com viola, depois entram guitarra e bateria) dialoga com a esperança e o caráter dúbio da cor (“a cor mais alegre, a cor mais triste”, disse Leminski).
A rosa e o rosa trata do universo feminino da infância à maturidade (“Será que a rosa é dos ventos / e não vai mais a reboque? / Será que ainda é doce grude, bubblegum chiclete ploc?”).
Prata da casa é um baião e brinca com o metal nobre versus a cor em objetos de uso corrente (talher, maçaneta). O arranjo inclui instrumentos metálicos, como o triângulo.
O roxo pede licença é um rock e aborda os lados febril e místico da cor (“Roxo de fome, de raiva, de paixão / Roxo é também quaresma e reflexão”). No refrão, alerta: “Senso comum, o roxo pede licença!”.
Infinita mente azul é serena e tem uma escaleta que remete ao apito de um navio. Traz ondas de “tudo azul” (bem-estar) e outras de melancolia (do blues estadunidense).
Vermelhor é rock’n’roll e fala da cor no universo das crianças (“Pirulito de cereja, Minnie Mouse, catapora / Vermelho parte da infância e aumenta a toda hora”), em sentimentos (vergonha, amor, irritação), lugares (“a China, o planeta Marte”), comidas etc.
Raiz marrom é um coco delicioso, que tem raízes (terra, tronco), sabores (chocolate, café), animais (aranhas, pardais) e desgostos (imprensa marrom).
Transparência é delicada e reflete sobre a cor, ou a falta dela, em coisas palpáveis e nas palavras (“na unha deixa a farpa aparecer” e “numa briga às vezes pode resolver”).
Laranjeiras é um frevo e esse ritmo imprime a potência e os lugares heterogêneos da cor (“É mecânica no filme / é safado no jornal / suco no copo / sol no final / do dia / Alegria laranja”).
Amarelo é um xote-reggae solar. Tem abacaxi, brilho, Van Gogh, Yellow Submarine. Tem alguém que viaja sozinha (e feliz), pois quem ia junto amarelou. Tem o alto astral das crianças conversando sobre coisas amarelas.
A doce Agenda em branco traz muitas referências à cor: nuvem, neve, “pé depois do banho”, “susto que eu apanho”, “papel que não diz nada”, “o meio da jabuticaba”, “coelho da Páscoa” etc. No refrão, enaltece a “agenda em branco” de férias ou feriados, quando se pode fazer o que quiser (“toma picolé, passeia no Centro a pé, pula réveillon de branco e cheio de fé”).
A canção Cinza coitado conjuga as agruras da cor (“coração nublado por um amor terminado”, “a pedra que cruza o nosso caminho” etc.) com o cinza da infância (Dumbo, Ratatouille).
A artista
Ciça Brandi nasceu no Rio de Janeiro e é autora dos livros de poesia Atacama (2012, 7 Letras) e A esponja dos ossos (2018, 7 Letras). Traduziu, entre outros, Percurso livre médio, de Ben Lerner (Jabuticaba, 2020); Rastejando até Belém, de Joan Didion (Todavia, 2021); O direito ao sexo, de Amia Srinivasan (Todavia, 2021); Pássaros da América, de Lorrie Moore (José Olympio, 2021); e República surda, de Ilya Kaminsky (Companhia das Letras, 2023). É mestre em Letras – Estudos da Linguagem (PUC-Rio) e doutora em Literatura, Cultura e Contemporaneidade (PUC-Rio) com tese sobre as cores e como elas nos afetam. Atualmente é pós-doutoranda em Letras, com ênfase em tradução de canção (UFPR). Cores é seu primeiro trabalho musical, como compositora e intérprete. Um pouco do seu trabalho está no instagram @cores.e.letras
Álbum Cores – ficha técnica:
Ciça Brandi – compositora (letra e melodia), intérprete e produtora fonográfica
Felipe Schuery – parceiro compositor em Vermelhor
Guilherme Gê – produção musical, arranjos, músico (instrumentos variados em todas as faixas), vocais em coro e mixagem
Cecília Spyer – preparação vocal de Ciça Brandi e vocais em coro
Marcos Suzano – percussão em Amarelo (caxixi, zabumba e ganzá), Raiz marrom (pandeiro, triângulo, MPC e ganzá) e Prata da casa (handsonic, caxixi e triângulo)
Cláudio Infante – bateria em Agenda em branco, Vermelhor, Cinza coitado, Laranjeiras, Preto no branco, O roxo pede licença e Vem verde
Rodrigo Sha – sax tenor, sax barítono e flauta píccolo em Laranjeiras
Leticia Brandi Leite, Carolina Carvalho Solberg, Joana Carvalho Pádua e Mauricio Masaki Brandi – diálogo de crianças em Amarelo
Alexandre Rabaço – masterização
Distribuidora – Tratore
Capa dos singles e do álbum:
. Fotógrafo: André Valentim
. Ilustrações/ projeto gráfico: Sandra Jávera
. Maquiagem: Marcelo Hicho
Faixas:
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Preto no branco
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Vem verde
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Prata da casa
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Cinza coitado
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Amarelo
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A rosa e o rosa
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Infinita mente azul
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Agenda em branco
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Raiz marrom
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Laranjeiras
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O roxo pede licença
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Vermelhor
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Transparência