Coleção Gilberto Chateaubriand ganha nova leitura curatorial no MAM Rio

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) inaugura, em 13 de dezembro de 2025, 100 anos de arte: Gilberto Chateaubriand, segunda mostra dedicada ao centenário de nascimento de um dos maiores colecionadores da arte moderna e contemporânea no país. Reunindo cerca de 150 obras da Coleção Gilberto Chateaubriand, a exposição apresenta uma história da arte brasileira do último século organizada em torno de cinco linhas temáticas. O projeto, com curadoria de Pablo Lafuente e Raquel Barreto, e curadoria assistente de Phelipe Rezende, parte do olhar singular de Gilberto Chateaubriand (1925–2022), cuja coleção reúne mais de 8 mil obras adquiridas ao longo de sete décadas de diálogo com artistas.

Resultado de uma prática colecionista sustentada por convivência, escuta e atenção às dinâmicas da vida artística do país, esse conjunto reúne nomes de diversas regiões e linhagens. O acervo se expande por múltiplas linguagens — da pintura à fotografia, da escultura às investigações experimentais — compondo um panorama sensível da produção brasileira no qual vários temas funcionam como eixos estruturantes de um século de arte.

“Esta exposição tem um valor profundo na formação de público, porque permite que diferentes gerações se aproximem da complexidade da sociedade brasileira em seus diversos aspectos, contradições e possibilidades. A amplitude da Coleção Gilberto Chateaubriand oferece ao visitante uma leitura abrangente do país, reforçando o papel do MAM Rio como espaço de conhecimento e interpretação crítica do nosso tempo”, afirma Yole Mendonça, diretora executiva do museu.

De acordo com Raquel Barreto, curadora-chefe da instituição, “100 anos de arte: Gilberto Chateaubriand procura conjugar o desafio de pensar a história da arte brasileira a partir de uma coleção, interpelando essa história não de forma cronológica, mas conceitual, por meio de cinco grandes eixos temáticos que contemplam um século de produções artísticas”.

Diferente da exposição Gilberto Chateaubriand: uma coleção sensível, a primeira dedicada ao centenário, cujo foco esteve mais próximo do olhar do colecionador e de como suas escolhas revelavam preferências, gestos e aproximações temáticas, esta segunda mostra adota uma perspectiva ensaística da coleção. “O interesse aqui é pensar em alguns eixos, algumas linhas do século XX e XXI que ajudam a compreender a arte brasileira. Por isso fizemos recortes que nem sempre são usuais, como uma visão da história como conflito ou de obras que ultrapassam o realismo por meio de processos de experimentação simbólica”, explica Barreto. Dessa forma, a curadoria toma a coleção como matéria para formular posições críticas e perspectivas analíticas, ao mesmo tempo em que reconhece a presença estruturante do gesto colecionista de Gilberto Chateaubriand.

Cinco núcleos para ler um século de arte no Brasil

Os núcleos que estruturam a exposição formam percursos que se entrecruzam e se expandem, articulando diálogos sincrônicos entre obras de diferentes períodos, linguagens e perspectivas. Cada eixo aborda questões que atravessam o gesto colecionista de Gilberto Chateaubriand e refletem debates fundamentais da arte brasileira. Confira:

“Além do real”
Núcleo que reúne práticas que tensionam a representação ao recorrer ao simbolismo, ao inconsciente, ao sonho, ao automatismo e às metáforas visuais. Da influência do simbolismo ao surrealismo e às reinterpretações contemporâneas que incorporam cosmologias afro-brasileiras em formas abstratas ou geométricas, as obras apontam para modos de transcender o real por meio do imaginário, do espiritual e do subjetivo.

“Construindo paisagens”
A paisagem, tema persistente na história da arte brasileira, aparece aqui em sua diversidade: da documentação naturalista ao modernismo que reinventa a identidade nacional; das vistas exuberantes do Rio às leituras críticas sobre desigualdade, território e pertencimento. Representações contemporâneas incorporam deslocamentos, revisões e geografias pluralizadas que tensionam os símbolos tradicionais do país.

“Corpos relacionais”
O corpo — antes idealizado pelo academicismo — torna-se campo de afeto, desejo, intimidade, conflito e metamorfose. Desde os anos 1980, artistas expandem o corpo em direção ao não-humano, experimentando materiais e suportes que conectam corpo, máquina, animal, gesto e matéria. São corpos que olham de volta, que se reinventam e que desestabilizam normas.

“História como conflito”
Violências estruturantes da formação do Brasil — colonização, extermínio indígena, escravidão, repressão política, desigualdade social — são examinadas por artistas que investigam mecanismos de controle e ideologias que sustentam opressões. O período da ditadura militar, em particular, surge como capítulo recorrente, com obras que revelam tanto a violência física quanto os processos de silenciamento, censura e trauma. 

“Retratos brasileiros”
A construção de uma imagem do povo brasileiro atravessa toda a história da arte do país. Do idealismo modernista influenciado pelo mito da democracia racial às abordagens críticas que emergem nas décadas seguintes, o núcleo revela um retrato plural, contraditório e complexo. Futebol, festas populares, mundo do trabalho, autorrepresentação e imaginários sociais compõem um território de disputas visuais que revisita e tensiona a identidade nacional.

Conjunto tridimensional que completa a exposição

Além dos cinco núcleos principais, a mostra apresenta um conjunto tridimensional de esculturas que ocupa parte do espaço expositivo, como uma praça aberta. Esse agrupamento não constitui um núcleo temático, mas uma constelação autônoma que percorre diferentes relações entre espaço, peso, volume, materialidade e escala. As esculturas, colocadas em diálogo amplo, evidenciam a diversidade da produção tridimensional brasileira e desafiam qualquer tentativa de categorização rígida.

Artistas participantes

Reunindo mais de uma centena de artistas, a exposição apresenta obras de nomes fundamentais da arte moderna e contemporânea brasileira, atravessando diferentes gerações, regiões e linguagens. Entre os participantes estão Afonso Tostes, Alberto da Veiga Guignard, Anita Malfatti, Antonio Dias, Antonio Manuel, Arjan Martins, Artur Barrio, Carla Guagliardi, Candido Portinari, Cícero Dias, Claudia Andujar, Cristina Canale, Edival Ramosa, Efrain Almeida, Emiliano Di Cavalcanti, Ernesto Neto, Farnese de Andrade, Fernanda Gomes, Gustavo Speridião, Heitor dos Prazeres, Iole de Freitas, Jorge Guinle, José Pancetti, José Resende, Laura Lima, Leda Catunda, Leonilson, Luiz Zerbini, Marcos Chaves, Mestre Didi, Nelson Leirner, Rodrigo Braga, Rosângela Rennó, Rubem Valentim, Tunga, Victor Arruda, Wanda Pimentel, Waltercio Caldas e muitos outros que compõem a amplitude da Coleção Gilberto Chateaubriand.

Uma narrativa sincrônica para um país múltiplo

Ao reunir obras de diferentes períodos sem hierarquias temporais, a exposição propõe leituras simultâneas de trajetórias artísticas que se conectam, se contradizem e se iluminam mutuamente. Essa abordagem ecoa a própria maneira como Gilberto Chateaubriand construiu sua coleção: por meio de encontros, diálogos, escutas e afinidades que ultrapassaram estilos, gerações e geografias.

100 anos de arte: Gilberto Chateaubriand complementa a mostra Gilberto Chateaubriand: uma coleção sensorial, inaugurada em agosto de 2025, oferecendo um tributo duplo ao colecionador no ano de seu centenário. Ambas foram organizadas pelo MAM Rio em colaboração com o Instituto Cultural Gilberto Chateaubriand.

A exposição 100 anos de arte: Gilberto Chateaubriand tem patrocínio da Light através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro.

MAM Rio

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro promove experiências participativas e inclusivas a partir da arte. Fundado em 1948 com a premissa de ser um museu-escola, é referência como plataforma de criação e formação para artistas e públicos, alcançando diferentes gerações e territórios. O MAM Rio é responsável por um extenso acervo de arte moderna e contemporânea, com focos na arte brasileira e em fotografia. Atualmente, abriga três coleções de artes visuais, com um total de cerca de 16 mil obras.

As exposições do MAM Rio propõem relações entre artistas de diferentes gerações, conectando passado e presente em todas as linguagens e manifestações, pautados por temáticas diversas e equitativas do mundo e do fazer artístico. 

O prédio do MAM Rio no Parque do Flamengo, desenhado por Affonso Eduardo Reidy e com jardins projetados por Roberto Burle Marx, virou referência para a arquitetura mundial. O museu e seu entorno oferecem um espaço de convivialidade e experimentação que impulsiona processos de troca, circulação, vivências e cultura.

A Cinemateca do MAM oferece programação presencial e online, dando acesso à nova produção cinematográfica e a filmes históricos, brasileiros e internacionais. O acervo inclui filmes em múltiplos formatos, documentos, cartazes, publicações e equipamentos relativos à produção e à reprodução de cinema, desde sua criação até o presente. Por meio de projetos sustentáveis e inclusivos, o MAM Rio visa contribuir com o desenvolvimento da sociedade, atendendo às diretrizes estabelecidas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

O MAM Rio possui patrocínio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Petrobras, Instituto Cultural Vale, Itaú, Laranjinha do Itaú, Mattos Filho Advogados, Sergio Bermudes Advogados, BMA Advogados, Ferroport e Granado por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Light, Vivo e BAT Brasil por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura – Lei do ICMS RJ. Alta Diagnósticos, Concremat, Deloitte, Guelt Investimentos, Icatu, JSL, Multiterminais por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS RJ. E Bloomberg.

Agradecemos ao Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro e Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro.

SERVIÇO:

100 ANOS DE ARTE: GILBERTO CHATEAUBRIAND
Curadoria: Pablo Lafuente e Raquel Barreto
Assistente de curadoria: Phelipe Rezende

Abertura pública: 13 de dezembro de 2025
Encerramento: maio de 2026

Horários de visitação:
Quartas, quintas, sextas, sábados domingos e feriados, das 10h às 18h
Aos domingos, das 10h às 11h, visitação exclusiva para pessoas com deficiência intelectual

Ingressos: https://www.mam.rio/ingressos
Entrada gratuita para todos os públicos

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
End: Av. Infante Dom Henrique, 85
Aterro do Flamengo
Rio de Janeiro | RJ
Tel: (21) 3883-5600

Website: https://www.mam.rio/
Instagram: @mam.rio

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