Nesta quinta-feira, 19 de dezembro, a atenção de astrônomos ao redor do globo estará voltada para um evento singular no sistema solar. O cometa interestelar 3I/ATLAS fará sua aproximação máxima da Terra, carregando consigo um mistério que persiste há meses: uma estrutura luminosa atípica, tecnicamente chamada de “anticauda”, que desafia a visualização comum dos cometas ao apontar em direção ao Sol.
O objeto passará a uma distância segura de aproximadamente 273 milhões de quilômetros do nosso planeta — quase o dobro da distância entre a Terra e o Sol. Embora não represente qualquer risco de colisão, a visita oferece uma oportunidade rara para pesquisadores analisarem materiais formados muito além das fronteiras do nosso sistema solar.
O mistério da cauda que aponta para o Sol
Diferentemente das caudas convencionais, que são sopradas para longe do Sol pela pressão da radiação e pelo vento solar, o 3I/ATLAS exibe uma projeção persistente voltada para a nossa estrela.
Identificada primeiramente pelo Telescópio Espacial Hubble em julho e confirmada por observatórios na Tailândia até meados de dezembro, essa característica gerou debate na comunidade científica. Um estudo recente revisado por pares, assinado pelos pesquisadores Eric Keto e Abraham Loeb, propõe uma explicação física detalhada.
Segundo a dupla, o fenômeno é resultado de uma “ejeção anisotrópica”. O cometa está expelindo grãos de gelo maiores, derivados da sublimação de dióxido de carbono.
“São partículas volumosas que refletem a luz solar dramaticamente, que então derivam para trás apenas por causa de sua inércia”, aponta a análise do estudo.
Outros especialistas sugerem uma analogia visual: o efeito se assemelha à fumaça de uma locomotiva em movimento. Enquanto o cometa se afasta rapidamente do Sol, o material ejetado semanas antes cria uma curva que, devido à perspectiva da Terra, parece apontar para a estrela, tratando-se de uma ilusão de ótica orbital.
Mudança de cor: tons avermelhados dão lugar ao verde
Além da cauda peculiar, o 3I/ATLAS passou por uma evolução química visível. Antes de atingir seu periélio (ponto mais próximo do Sol) em 29 de outubro, o objeto apresentava coloração avermelhada. Nas últimas semanas, porém, observações do telescópio Gemini North, no Havaí, registraram uma mudança para um verde intenso.
Essa alteração cromática é a assinatura de moléculas de carbono diatômico emitindo luz à medida que o núcleo do cometa aquece e libera novos gases no vácuo, confirmando a natureza dinâmica deste visitante interestelar.
Campanha global de monitoramento e dados
A passagem do 3I/ATLAS ativou a Rede Internacional de Alerta de Asteroides (IAWN) das Nações Unidas em uma campanha de observação massiva. Até janeiro de 2026, mais de 171 participantes estarão rastreando o objeto para refinar técnicas de astrometria.
James Bauer, investigador principal da IAWN na Universidade de Maryland, ressaltou à imprensa especializada o valor estratégico da missão: “A ideia por trás dessas campanhas é realmente fortalecer as capacidades técnicas para medir posições no céu com precisão”.
Para capturar dados deste terceiro objeto interestelar confirmado na história, a NASA mobilizou seus principais instrumentos, incluindo o Hubble e o Telescópio Espacial James Webb, em conjunto com o XMM-Newton da Agência Espacial Europeia.
Equipamentos necessários para observação
Para os entusiastas da astronomia, observar o 3I/ATLAS exigirá equipamento intermediário. Com magnitude entre 10 e 12, ele é invisível a olho nu. Será necessário o uso de telescópios com abertura de 150mm a 200mm (6 a 8 polegadas) ou superiores, preferencialmente em locais com baixa poluição luminosa, para registrar a passagem deste viajante cósmico antes que ele retorne à escuridão do espaço profundo.