Cometa interestelar 3I/ATLAS exibe ‘anticauda’ inédita e mobiliza defesa planetária global

Visitante cósmico fará sua aproximação máxima em 19 de dezembro, servindo de palco para o maior exercício de rastreamento de asteroides da história, enquanto estrutura anômala divide opiniões na comunidade científica

por Redação
Reprodução/NASA, ESA, David Jewitt

Um evento astronômico raro marcará os céus nesta semana. O cometa interestelar 3I/ATLAS, apenas o terceiro objeto confirmado a visitar nosso sistema solar vindo de outro sistema estelar, atingirá seu ponto de maior proximidade com a Terra no dia 19 de dezembro. Embora passe a uma distância segura de 270 milhões de quilômetros, o objeto se tornou o centro de um intenso debate científico devido a uma “anticauda” massiva que aponta, inexplicavelmente, em direção ao Sol.

A passagem do 3I/ATLAS não é apenas uma curiosidade visual; ela ativou o maior exercício de defesa planetária já coordenado pela ONU, envolvendo cientistas de 23 nações.

O mistério da estrutura de 500 mil quilômetros

O que torna o 3I/ATLAS único não é apenas sua origem alienígena, mas sua morfologia. Descoberto em 1º de julho pelos telescópios do sistema ATLAS, no Chile, o cometa desenvolveu uma estrutura que desafia as observações convencionais. Dados coletados entre 13 e 15 de dezembro por observatórios na Tailândia, Estados Unidos e Itália confirmam a existência de uma cauda que se projeta em direção à nossa estrela.

Com uma extensão estimada em 500.000 quilômetros — superando a distância média entre a Terra e a Lua (384.400 km) —, essa formação gerou divergências imediatas entre astrofísicos de renome.

Avi Loeb, astrofísico da Universidade de Harvard conhecido por suas teorias sobre objetos interestelares, argumenta que o fenômeno é físico e não uma ilusão de ótica causada pela perspectiva de observação terrestre.

“Nunca antes se observou uma anticauda desse tamanho em um cometa”, afirmou Loeb.

Segundo suas análises, para que a cauda atingisse tal magnitude nos 45 dias após o periélio, o material ejetado precisaria viajar a uma velocidade de 130 metros por segundo em relação ao núcleo do cometa.

Em contrapartida, David Jewitt, professor da UCLA e especialista em cometas, oferece uma visão mais conservadora. Em entrevista à Sky and Telescope, Jewitt sugeriu que o comportamento, embora impressionante, obedece à física térmica convencional: o lado do núcleo voltado para o Sol aquece e libera partículas de poeira nessa direção, criando a estrutura observada.

O maior teste de defesa da história

Aproveitando a visita do 3I/ATLAS, a Rede Internacional de Alerta de Asteroides (IAWN) das Nações Unidas iniciou uma campanha de observação sem precedentes. Desde o fim de novembro, mais de 80 observatórios globais monitoram o objeto.

Este é o oitavo exercício de defesa planetária realizado pela IAWN desde 2017, mas o primeiro a focar em um alvo interestelar. O objetivo não é desviar o cometa — a NASA e a Agência Espacial Europeia (ESA) confirmaram que ele não representa risco de colisão —, mas sim testar a capacidade de resposta da humanidade.

“A ideia é fortalecer as capacidades técnicas de astrometria, ou seja, a medição precisa de posições no céu”, explicou James Bauer, da Universidade de Maryland e um dos líderes da IAWN. A coordenação global visa garantir que, caso um objeto perigoso real seja detectado no futuro, os sistemas de rastreamento operem em perfeita sincronia.

Como acompanhar o fenômeno

Para astrônomos amadores e entusiastas, a janela de observação está aberta. O 3I/ATLAS pode ser visto através de pequenos telescópios no céu da pré-alvorada.

Quem não possui equipamento poderá acompanhar a passagem através da transmissão ao vivo do Virtual Telescope Project, sediado na Itália, que começa às 4:00 UTC (1h da manhã no horário de Brasília) do dia 19 de dezembro.

Após sua passagem, o cometa permanecerá visível para telescópios no Hemisfério Norte até a primavera de 2026, antes de seguir sua trajetória de volta à escuridão do espaço interestelar, levando consigo os segredos de sua formação.

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