O Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro apresenta a exposição coletiva ‘Da Beleza ao Caos – a cidade que habita em nós’, com curadoria de Osvaldo Carvalho, convidando a pensar na cidade como um espaço vivo, afetivo e em constante transformação.
Inspirada pela ideia de que “a cidade não é apenas um espaço físico, mas uma forja de relações”, como afirma o escritor moçambicano Mia Couto, a exposição reúne artistas cujos trabalhos exploram a tensão — e a harmonia — entre ordem e desordem, encanto e turbulência, memória e cotidiano.
Ao percorrer os trabalhos do conjunto expositivo — independentemente dos suportes e técnicas utilizados — experimentamos múltiplas vertentes que compõem o convívio humano: identidade, pertencimento, aprendizagem, memória e transformação. Os diálogos visuais se entrelaçam como um grande mosaico, onde o belo e o caótico se complementam, à maneira do Yin Yang, revelando que cada extremo é, também, parte essencial do outro.
A exposição quer transportar a um entendimento quase filosófico de que beleza e caos caminham lado a lado, constituindo uma trama emocional tão complexa quanto fascinante. A temática atravessa diversas expressões culturais ao longo do tempo: da música — como em Rio 40 Graus, de Fernanda Abreu, Fausto Fawcett e Laufer — ao cinema, com o documentário Neville D’Almeida – Cronista da Beleza e do Caos; da literatura, em A Beleza do Caos, de Thales Amaral, ao teatro, na obra homônima de Nelson Baskerville. Em todos esses casos, emerge uma narrativa que revela os movimentos íntimos e coletivos da vida urbana, onde serenidade e inquietação coexistem como forças complementares.
Participam da mostra, que tem Lia do Rio como homenageada, os seguintes artistas: Andréa Facchini, Anita Fiszon, Benjamin Rothstein, Bruno Castaing, Daniela Marton, Fátima Vollú, Gloria Seddon,Helena Trindade, Heloisa Alvim, Jabim Nunes, Kacá Versiani, Laura Bonfá Burnier, Leila Bokel, Luís Teixeira, Luiz Badia, Luiz Bhering, Marcela Wirá, Maria Eugênia Baptista, Marilou Winograd, Mario Camargo, Marcelo Rezende, Osvaldo Carvalho, Osvaldo Gaia, Petrillo, Roberto Tavares, Rodrigo Viana, Rose Aguiar, Regina Hornung, Sanagê, Sandra Gonçalves, Sandra Passos, Sonia Guaraldi, Stella Mariz e Vania Pena C.
Além da exposição, haverá uma vídeo performance Sonora com os artistas André Sheik, Luiz Badia e Osvaldo Carvalho, que tem um projeto de criar trilhas sonoras ao vivo de imagens de vídeo arte criadas por Badia, que mesclam pintura e filmagens, resultando numa imersão sensorial, usando imagens da natureza em vídeo projetado, no caso, paisagens que são sonorizadas ao vivo pela banda, através de sintetizadores, pianos, guitarras e percussão eletrônica. A proposta para o café do Museu do Parque da Cidade é exibir durante a vernissage, um ato de arte sonora que vai tocar no sensorial do espectador com duração de 25 minutos.
A abertura acontece no dia 13 de dezembro, das 11h às 16h, e pode ser visitada até o dia 08 de fevereiro de 2026, com entrada franca.
TEXTO CURATORIAL
Da beleza ao caos – a cidade que habita em nós
‘A cidade não é apenas um espaço físico, mas uma forja de relações’ – Mia Couto
Podemos entender quase como um conceito filosófico que a beleza e o caos andam de mãos dadas, nos permitindo apreciar o encanto mesmo sob circunstâncias imperativamente complexas. Não é de agora que o tema perpassa trabalhos diversos tanto na música, ‘Rio 40 Graus’, uma canção composta por Fernanda Abreu, Fausto Fawcett e Laufer, quanto no cinema com o documentário ‘Neville D’Almeida – Cronista da Beleza e do Caos, seguindo pela literatura, “A Beleza do Caos”, de Thales Amaral, e pelo teatro, “A Beleza do Caos”, de Nelson Baskerville. Em todos os casos observamos a descrição de intrincados jogos de relacionamento pessoal e coletivo numa montanha-russa de sentimentos e emoções que vão do meditativo sereno ao incômodo turbulento revelando pelo caminho idiossincrasias peculiares do excepcional ao trivial.
Ao propor tecer histórias sobre a cidade (e porque não cidades outras), o grupo de artistas aqui reunido pretendeu trazer seu olhar único para questões que nos envolvem desde um simples objeto visual de memórias subjetivas carregadas de afeto, até a matéria bruta e implacável de imagens cotidianas que nos cercam, porém, ganhando conotações íntimas. Em todos os casos, aqui e ali, há um olhar distinto que recorta a paisagem urbana; um vagar contemplativo que insinua um momento, uma lembrança; uma reflexão sobre paradigmas; uma busca pela essência de qualquer gesto da cidade e de seus habitantes.
Não é difícil conjecturar as “Cidades Invisíveis”, de Italo Calvino, pensando quantas cidades imaginárias criamos para nós mesmos. Todos possuímos uma compreensão particular do mundo em que vivemos, tornando plural as facetas sociais, conforme afirma o escritor moçambicano Mia Couto. É a dinâmica das relações interpessoais que dá vida à cidade para muito além de sua estrutura material, do concreto, do aço, do tijolo, etc. É um “organismo vivo” que se molda e se redefine em constante adaptação, “é o centro de um tempo onde se fabricam e refabricam as identidades próprias”, reitera Mia Couto.
As interações diárias — formais e informais, intencionais e acidentais — que produzem trocas culturais, econômicas e afetivas são também os agentes da diversidade e do conflito, mas desse atrito social surgem inovações – a complacência no lugar da intolerância, a coexistência no lugar da segregação, o reconhecimento no lugar da indiferença. É a teia invisível de conexões gerando presença e sentido à configuração física da cidade (que habita em nós) estruturada a partir de nossas concepções individuais.
Ao observar cada um dos trabalhos que compõem a mostra, independentemente da escolha técnica, somos levados a contemplar as múltiplas vertentes que cercam nossa percepção e entendimento daquilo que chamamos convívio, essência do desenvolvimento humano. Lado a lado vão se escalonando e se complementando, formando laços, implicando elos, constituindo
valores, permitindo ao observador aplicar/absorver conceitos basilares de identidade, pertencimento e aprendizagem: como no Yin Yang o belo está no caos, o caos está no belo.
Osvaldo Carvalho, 2025
SERVIÇO
Exposição: Da beleza ao caos — a cidade que habita em nós
- Artistas: coletiva
- Artista homenageada: Lia do Rio
- Curadoria: Osvaldo Carvalho
- Abertura: 13 de dezembro de 2025 (sábado), das 11h às 16h
- Visitação: de 13 de dezembro de 2025 a 08 de fevereiro de 2026
- De terça a domingo – das 9h às 16h
- Local: Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro – MHC RIO
- Estrada Santa Marinha, s/nº — Gávea, Rio de Janeiro – RJ
- 2º e 3º andar do pavilhão de exposições
- Assessoria de Imprensa: Paula Ramagem
- Entrada franca
- Censura livre