Da favela para Berlinale: Cineasta paulista Rosa Caldeira tem filme selecionado para o Festival Internacional de Cinema de Berlim 2025

Rosa Caldeira

O cinema brasileiro tem mais motivos para comemorar. O cineasta e roteirista paulista Rosa Caldeira teve o seu curta “Anba dlo”, uma co-produção Brasil, Cuba e Haiti, em que assina direção, roteiro e co-produção, escolhido para concorrer na Berlinale Shorts, a competição oficial de curtas do Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale), um dos maiores e mais prestigiados festivais de cinema do mundo, sendo o único filme brasileiro na disputa. O anúncio foi realizado nesta segunda (13).

Rosa Caldeira ainda participará da Berlinale Talents, uma plataforma internacional de networking e de desenvolvimento de talentos voltada para profissionais emergentes da indústria cinematográfica, criada pelo Festival de Berlim em 2003. Formado em Sociologia e especializado na Escuela Internacional de Cine y TV (EICTV), em Cuba, Rosa é cineasta da favela de São Paulo e já dirigiu e roteirizou filmes, videoclipes de artistas como Irmãs de Pau e campanhas para grandes empresas como Latam, Amazon, Ambev e Mercado Livre. Transporta para os seus filmes suas vivências periféricas e transmasculinas. Também é um dos fundadores da APTA (Associação de Profissionais Trans do Audiovisual):

Recebi a notícia de que o filme tinha sido selecionado e custei a acreditar. É um dos festivais mais importantes do mundo, com mais de 5 mil inscritos só na nossa categoria, e apenas 20 selecionados”, comemora o diretor e roteirista.

Sendo um artista de origem periférica, Rosa tem ainda mais motivos para celebrar a escolha do curta, co-dirigido e roteirizado com a cineasta Luiza Calagian e produzido pela Ursana Filmes, Maloka Filmes, Mata Fechada Filmes e Kinolakay.

O universo das artes é elitista e excludente, então essa seleção já é um prêmio enorme. É uma validação para a carreira de qualquer um, especialmente para mim, um cineasta trans e favelado. Mesmo com prêmios e conquistas que muitas pessoas com mais sobrenome, dinheiro e acessos não conseguiram alcançar, ainda sinto que tenho que me provar o tempo todo. Espero que o Brasil veja essa vitória como merece: um símbolo da qualidade e da vanguarda artística de artistas dissidentes das favelas e quebradas”, escancara.

Seu filme anterior, “Perifericu”, recebeu mais de 35 prêmios e foi exibido em cerca de 200 festivais, incluindo o Festival de Tiradentes e o Curta-Kinoforum. Rosa também já participou do Festival de Málaga, Festival de Locarno, da renomada oficina de roteiro do Cine Qua Non Lab, no México, e do Festival de Cannes com o projeto Ocupatrans.

‘Anba dlo’ foi rodado em Cuba e fala sobre temas como perda e migração

Anba dlo” é um curta que mostra a história de Nadia (Berline Charles), uma bióloga do Haiti que pesquisa a flora e a fauna nativas de Cuba. Um dia, a floresta cubana parece diferente, algo aconteceu. O filme foi rodado quando o cineasta concluiu sua especialização em Cuba, coincidentemente no mesmo período em que perdeu o seu pai, assim, o tema da perda aparece fortemente, bem como a experiência migratória e a espiritualidade.

Espero que o público e a crítica se conectem com a essência do filme, porque ele aborda algo universal: o luto e a maneira como lidamos com a perda. Perder alguém que amamos é algo profundamente humano. O filme também carrega uma camada política muito importante, porque para nós a morte também é política, afinal, quem tem o direito ao luto? ‘Anba dlo’ fala sobre a experiência migratória, sobre barreiras que nos separam, mas que no fundo são fictícias, e sobre como a espiritualidade não-cristã e a comunidade podem nos ajudar a atravessar essas barreiras”, diz Rosa.

Criador da Maloka Filmes, Rosa está preparando um novo curta-metragem gravado na Zona Sul de São Paulo, “Saudades, Maloqueira”, e também possui um longa já escrito, que está procurando financiamento, “Felicidade”. Ele comemora o excelente momento do cinema brasileiro, impulsionado principalmente pelas vitórias de Fernanda Torres e “Ainda Estou Aqui” em festivais e premiações mundo afora.

Estamos no momento ideal para que mais cineastas recebam o reconhecimento que merecem, mas isso exige oportunidades. A seleção em Berlim é importante, mas não precisamos esperar validação internacional para valorizar nossos artistas. Temos talentos incríveis espalhados pelo Brasil, mas ainda faltam investimentos, produtoras e políticas públicas que nos apoiem. Queremos arte feita pelo e para o povo também. O futuro das artes no Brasil é agora!”, conclui.

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