Vivenciando uma jornada afetiva de novas experiências em sua terra natal, a soprano ítalo-brasileira Carla Cottini volta ao palco do Festival Vermelhos em 15 de novembro (sábado), às 20h30, apresentando em dueto com o pianista Ricardo Ballestero, parceiro de longa trajetória, o recital Paisagens Líricas, que inclui composições de Helza Camêu, Claude Debussy, Xavier Montsalvatge, Villa-Lobos e Ernani Braga. Sediado em Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, o festival chega à 8ª edição celebrando dez anos do Instituto Baía dos Vermelhos, organizador do evento.
Há mais de uma década a soprano se destaca nos principais palcos de ópera e de concertos do mundo e se consolida como uma das grandes vozes da atualidade. Nascida em São Paulo, Carla tem conquistado crítica e público com sua expressividade marcante e técnica refinada na interpretação de personagens que têm em comum a genialidade de compositores como Verdi, Mozart, Bellini, Puccini, Villa-Lobos, Schumann e Schubert, entre outros.
A apresentação de Paisagens Líricas em Ilhabela coroa um percurso que percorreu alguns dos principais palcos do país. Radicada em Berlim desde 2019, Carla abriu a temporada de 2025 em maio, no Theatro Municipal de São Paulo, onde voltou a interpretar Zerlina, de Don Giovanni, 12 anos após sua estreia profissional no mesmo palco. A montagem inédita teve regência de Roberto Minczuk, maestro com quem a artista já havia colaborado durante a edição de 2024 do Festival Vermelhos, sendo uma das vozes de Gala Puccini, recital que celebrou a memória de Giacomo Puccini por ocasião do centenário da morte do compositor italiano.
No final de setembro a soprano participou do show de abertura da turnê 50 anos de Poesia, de Jorge Aragão, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, interpretando Ave Maria, de Bach e Gounod, ao lado de um quarteto de cordas, além da banda que acompanha o mestre Aragão.
“Anos atrás interpretei Ave Maria em dueto com o Jorge ao cavaquinho. A Tânia Aragão (filha do artista e produtora da turnê) ficou emocionada e me contou que essa música tinha um valor especial para sua família. Sabendo que eu estaria me apresentando no Brasil, Tânia me convidou para fazer essa surpresa para a plateia do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi um momento maravilhoso.”
Em 15 de outubro, também em dueto com Ballestero, Carla apresentou um recital no Auditório Olivier Toni, do Departamento de Música da Universidade de São Paulo (USP), interpretando canções de Debussy, Montsalvatge, Villa-Lobos e da pianista e musicóloga Helza Camêu — compositora de Saudade, peça adaptada do poema de Vicente de Carvalho que, em breve, será lançada como single por Carla e Ballestero.
Dias antes do recital em Ilhabela, em 7 e 9 de novembro, Carla foi um dos destaques de A Profissão da Senhora Warren, adaptação lírica da peça do dramaturgo Bernard Shaw, com música de Maurício De Bonis e libreto assinado por Eliane Coelho, Viviane Sabag e Gabriel Rein-Shirato. O espetáculo, principal atração do Festival de Música Erudita do Espírito Santo, marcará também um reencontro da soprano com uma de suas grandes mestras, Eliane, que é coprotagonista da ópera inédita em português e mãe de Vivie, sua personagem.
Encerradas as apresentações no festival do Espírito Santo, Carla retorna a Berlim para gravar com a Orchester des Wandels, entre 24 e 28 de novembro, as Bachianas Brasileiras no. 5, de Heitor Villa-Lobos, obra que se tornou uma de suas marcas registradas. As sessões também incluem uma releitura de Melodia Sentimental. Com poema de Dora Vasconcellos, a canção de 1958 — que integra a obra A Floresta do Amazonas — é uma das últimas composições de Villa-Lobos e foi comissionada pela Metro-Goldwin-Meyer para o filme Green Mansions (no Brasil, A Flor que Não Morreu), dirigido por Mel Ferrer e estrelado por Audrey Hepburn e Anthony Perkins.
“Fico contente quando tenho a oportunidade de cantar no Brasil, porque gosto de trazer para o meu país um pouco do que aprendo pelo mundo. O público brasileiro é caloroso e receptivo. Gosto de reencontrar colegas, de me conectar com pessoas que não conhecia, de conhecer novos talentos brasileiros”, conclui a soprano.
PROGRAMA DO RECITAL PAISAGENS LÍRICAS
Carla Cottini, soprano & Ricardo Ballestero, piano
O recital percorre diferentes idiomas e sonoridades que marcaram o final do século XIX e o início do século XX, desenhando um mapa de experiências musicais e poéticas. As canções brasileiras de Heitor Villa-Lobos, Helza Camêu e Ernani Braga mostram como a tradição popular inspirou novas formas de expressão na música do país.
Helza dialoga de modo sensível com o universo de Claude Debussy, explorando timbres e atmosferas que aproximam poesia e música, enquanto Braga e Manuel de Falla revelam, cada um à sua maneira, o impulso nacionalista que valorizou ritmos e melodias de suas terras. Debussy, criando uma linguagem moderna ainda no final do século XIX, serve como ponto de passagem para outros mundos sonoros, abrindo espaço para novas relações entre som e sentido. Já Xavier Montsalvatge, ao se inspirar na literatura e na cultura de Cuba, transforma o exotismo tradicionalmente empregado na música europeia em reflexão crítica.
PROGRAMA
Heitor Villa-Lobos (1887–1959) Bachianas Brasileiras nº 5
- Ária (Cantilena)
- Dança (Martelo)
Camargo Guarnieri (1907 – 1993) Melancólico (mov. 2 da Sonatina 4 para piano)
Helza Camêu (1903–1995) Toada da chuva
Saudade
Noitinha
Ernani Braga (1888–1948) Ô, Kinimbá
Capim de Pranta
Nigue-nigue-ninhas
Engenho Novo
Intervalo
Claude Debussy (1862–1918) Rêverie, para piano solo
Ariettes oubliées
- C’est l’extase langoureuse
- Il pleure dans mon cœur
- L’ombre des arbres
- Chevaux de bois
- Green
- Spleen
Manuel de Falla (1876-1946) Danza de La Vida Breve, para piano solo
Xavier Montsalvatge (1912–2002) Cinco canciones negras
- Cuba dentro de un piano
- Punto de habanera
- Chévere
- Canción de cuna para dormir a un negrito
- Canto negro
Carla Cottini, soprano
Carla Cottini é uma renomada soprano brasileira, reconhecida por suas performances no cenário operístico internacional. Destacou-se pela interpretação de papéis em obras de compositores como Mozart, Puccini, Bellini, Verdi, Donizetti, Humperdinck, Massenet, Händel, Lehár, Bernstein, entre outros. Já se apresentou em algumas das principais casas de ópera e salas de concerto do mundo, como o Theatro Municipal de São Paulo, Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Sala São Paulo, Palau de la Música de Valência, Deutsche Oper Berlin e Teatro Regio di Parma.
Além de seu trabalho operístico, Carla Cottini é membro líder da Orchester des Wandels, na Alemanha, atualmente em turnê com as Bachianas Brasileiras nº 5. Dedica-se também a dois projetos de música de câmara: em duo com o pianista Ricardo Ballestero, mantém intensa atividade artística e grava atualmente seu primeiro álbum; e, em parceria com Elenora Pertz, realiza turnês pela Europa com o recital DUAS.
Ricardo Ballestero, pianista
Nascido em São Paulo, Ricardo Ballestero dedica-se principalmente à música de câmara e à colaboração musical. Apresenta-se regularmente nas principais salas e teatros do Brasil (Sala Cecília Meirelles, Sala São Paulo, Theatro Municipal de São Paulo e Theatro São Pedro) e tem participado de vários projetos de gravação para promover a música vocal e instrumental de compositores brasileiros como Alberto Nepomuceno, Camargo Guarnieri, Gilberto Mendes, Francisco Mignone, Osvaldo Lacerda e Ronaldo Miranda.
Como pianista e diretor musical tem explorado novas formas de apresentação da canção e da música câmara, que resultaram em diversas colaborações com a São Paulo Companhia de Dança e Theatro São Pedro. Em 2022, foram lançadas gravações suas pelos selos SESC (Projeto Toda Semana) e Music and Arts (Chosen Eyes: Nepomuceno and his European Contemporaries). Em 2024, foi lançado de forma independente o álbum Auroras, incluindo obras de Fanny Mendelssohn e Clara Schumann, com a colaboração da flautista Sarah Hornsby.
Foi professor na Universidade de Colorado-Boulder, realizou recitais, palestras e cursos nos Estados Unidos, Alemanha, Itália, Espanha, Portugal, Canadá, Sérvia e Argentina. É livre-docente pela Universidade de São Paulo (USP), onde trabalha desde 2006, e doutor em Música pela Universidade de Michigan, onde estudou Piano Colaborativo e Música de Câmara com Martin Katz. Estudou também no Westminster Choir College (mestrado) com Dalton Baldwin e na USP (bacharelado) com Gilberto Tinetti. Foi integrante do Houston Grand Opera Studio em 2003-04.
SERVIÇO
Festival Vermelhos – Recital Paisagens Líricas, de Carla Cottini e Ricardo Ballestero
Sábado, 15 de novembro, às 20h30
Para programação completa e ingressos, acesse: vermelhos.org.br/
Saiba mais em: carlacottini.com/