O espetáculo “DeNegrir” chega à cidade do Rio de Janeiro com uma proposta provocadora e urgente: revelar como expressões do nosso vocabulário cotidiano — como “denegrir”, “criado mudo” e “fazer nas coxas” — carregam conotações racistas que atravessam séculos e ainda impactam diretamente a vida da população negra. A montagem circulará por equipamentos culturais entre os dias 19 e 30 de novembro, e convida o público a refletir sobre a linguagem como ferramenta de opressão — e também de resistência. Este é mais um projeto do DeBonde, que foi contemplado no edital Fluxos Fluminenses, da SESEC, tem direção de Fábio França e Salasar Junior, que também assina a idealização e está em cena. A produção é da eLabore.Kom.
Idealizado e dirigido por Salasar Junior, em sua estreia como solista, “DeNegrir” é uma obra multilinguística que une dança, teatro, poesia, videografismo e linguagem de sinais. A estética afro-diaspórica guia a concepção da peça, que se estrutura como um território de denúncia e celebração: Denuncia o racismo estrutural presente na língua portuguesa e celebra a memória, os saberes e as tecnologias da ancestralidade negra.
“A provocação começa pelo título. Em muitos dicionários, ‘denegrir’ é associado a algo sujo ou negativo, quando na verdade significa ‘tornar negro’. Isso revela como a sociedade ainda opera com pilares racistas, inclusive na linguagem”, explica Salasar. Para ele, o espetáculo é um grito poético, um ato político e também um gesto de cura.
A montagem se inspira em pensadores como Lélia Gonzalez, Frantz Fanon, Neusa Santos, Gabriel Nascimento e Achille Mbembe, que apontam como a linguagem legítima estruturas racistas e ataca subjetividades. “Esses autores nos convocam a incorporar o discurso sobre nós. Denegrir é retomar a autonomia e o valor que nos foram roubados”, afirma Salasar.
O diretor teatral Fábio França, que também assina a direção, reforça que “DeNegrir” é um chamado para reconhecer o protagonismo negro na construção do Brasil. “O povo negro não inventou o racismo, mas todos os dias precisa lutar contra ele. Queremos dizer ao público que ser negro é ser parte fundamental da ciência, da cultura, da política, da arte, da religião e de todos os campos da vida. Mais do que um espetáculo, ‘DeNegrir’ é uma convocação para que o Brasil reconheça a dignidade e a grandeza de sua população negra.”
A produção realizou um levantamento de palavras e expressões que desvalorizam a história e os costumes negros, ainda presentes no senso popular. Salasar acredita que não há fórmula mágica para eliminar esses termos, mas que a prática diária pode transformar o modo como falamos e pensamos. “A dicotomia entre claro e escuro, branco e preto, se disfarça de inofensiva, mas mina nossas subjetividades. Precisamos retomar a narrativa sobre o que nos descreve”, pontua.
O espetáculo também homenageia nomes fundamentais da arte e da luta negra no Brasil, como Abdias do Nascimento, Zezé Motta, Hilton Cobra, Elisa Lucinda, Grace Passô, Zezé Maria, Evani Tavares de Brito, Onisajé (Lucélia Sérgio) e Márcio Meirelles. “Essas trajetórias são sementes que floresceram em resistência, ousadia e criação, abrindo caminhos para que novas gerações ocupem os palcos com dignidade e pertencimento”, conclui Fábio França.
“DeNegrir” é, acima de tudo, um canal de afirmação da identidade e da memória negra. Uma obra que educa, emociona e incomoda — e que convida o público a não sair da mesma forma como entrou.
Ficha Técnica
- Idealização, direção, roteiro, dramaturgia e direção de movimento: Salasar Junior
- Direção Teatral: Fábio França
- Assistente de direção: Leandro Melo
- Videografismo e Produção Audiovisual: Karineli
- Figurino: Rona Neves
- Cenografia e Cenotécnico: Édson de Lima Miguel
- Iluminação: Lilian da Terra
- Trilha Sonora: Gian Saru
- Preparação Física: Camila Holanda
- Criação do Videomapping: Thaina Iná
- Operação de Videomapping: Tais Almeida e Thaina Iná
- Direção de Produção: Kirce Lima
- Produtor Executivo: Ruan Peixoto
- Gestão Administrativa: Jacqueline da Silva e Antonia Rodrigues
- Fotografia: Amichavy
- Consultoria e Capacitação em Libras: Thamires Alves
- Articuladora Cultural: Luana Bezerra
- Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa
- Ilustração e Designer: Isabelle Czar
- Gerenciamento de Mídias sociais: Wagner Cria
- Colaboração artística:Mendi Gouveia, Dandara Patroclo, Luana Bezerra, Tais Almeida e Wagner Cria.
- Apoios: CEFET, Areninha Cultural Herbert Vianna, Redes da Maré, Teatro Cacilda Becker, Varal da Val, Carvalho JPC Iluminação, Prego E Racha Carpintaria,
- Marcenaria e Espaço Ginga
- Realização: Debonde
- Produção: eLabore.Kom
Serviços:
Espetáculo DeNegrir
Dia: 19 de Novembro – Voltado para Estudantes –
Local: Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca
Horário: 10h30 e 13h30
Entrada: Gratuita
Classificação Etária: 16 anos
Dias: 22 de Novembro
Local: Areninha Cultural Herbert Vianna
Horário:18h
Entrada: Gratuita
Classificação Etária: 16 anos
Dias: 28 e 29 de Novembro, às 19h
Dia : 30 de Novembro, às 18h
Local: Teatro Cacilda Becker
Entrada: Gratuita
Classificação Etária: 16 anos
