Depois de atuar na série Dois Irmãos, Munir Kanaan faz sucesso na direção da peça Dois Papas

por Waleria de Carvalho
Munir Kanaan

Munir Kanaan é o diretor da peça “Dois Papas”, estrelada por Celso Frateschi e Zé Carlos Machado, em cartaz no Sesc Santo Amaro, em SP, até 27 de abril. No palco, os artistas dão vida ao cardeal Jorge Bergoglio e ao Papa Bento XVI. O texto inédito no Brasil ganhou adaptação cinematográfica na Netflix, dirigida por Fernando Meirelles e indicada ao Oscar em 2019.  Com 45 anos de idade e 26 de carreira, o paulistano ganhou projeção nacional em 2017 ao atuar na prestigiada série “Dois irmãos”, de Luiz Fernando Carvalho, na TV Globo. Para este ano, está prevista a estreia do segundo espetáculo teatral que leva a sua assinatura. 

Fundador da Gengibre Multimídia – uma produtora teatral com 8 anos de existência no mercado, Munir Kanaan estreou em 2017 seu primeiro projeto autoral: o espetáculo “Hotel Mariana”, indicado ao Prêmio Shell de Teatro. Em 2022, o paulistano estreou seu primeiro solo, a peça ‘Horror Lavanda’, que está em fase de adaptação para um longa-metragem, no qual ele também irá protagonizar e co-produzir.

Formado em artes cênicas e produção executiva de cinema, Munir Kanaan ainda tem em seu currículo de ator 16 espetáculos, como o sucesso “Dogville”, e cinco filmes, como “Nome Próprio”, de Murilo Salles, pelo qual foi indicado como Melhor Ator no Festival de Cinema de Gramado em 2008. Na TV, ele atuou nas novelas “Duas Caras” e “O Profeta”, da Globo, foi protagonista da série “Os Figuras”, do Multishow, e apresentou o programa “Futura Profissão”, do Canal Futura. Em entrevista ao site SOPA CULTURAL, ele fala mais sobre sua carreira.

SOPA CULTURAL:  Você está dirigindo o espetáculo “Dois papas”, em cartaz em SP até 27 de março.  O que pode contar sobre esse projeto que está sendo montado pela primeira vez no país, sendo estrelada por dois grandes nomes? 

Munir Kanaan: Dois Papas é um projeto muito especial para mim, não apenas pela grandiosidade do texto de Anthony McCarten, mas também pelo desafio de trazer essa história para o teatro brasileiro. Desde que pensei em dirigir e produzir essa peça, imaginava que ela despertaria interesse, mas confesso que estou surpreso, pois as expectativas foram superadas – muitas pessoas querem assistir, a peça já é um sucesso, tem muito boca a boca e está sendo altamente recomendada. 

A peça mergulha nesse encontro fascinante entre Bento XVI e Francisco, dois homens com visões muito diferentes sobre a Igreja e o mundo, mas que compartilham uma humanidade profunda. Contar essa história com atores do calibre de Zé Carlos Machado e Celso Frateschi é um privilégio. O espetáculo não é sobre religião, mas sobre diálogo – a possibilidade de diálogo entre pessoas que pensam diferente –, e sobre como lidamos com mudanças e legados. Estamos muito felizes com a recepção do público e com a oportunidade de apresentar essa montagem em São Paulo até 27 de abril.

SOPA CULTURAL:  Para quem assistiu o longa, qual a diferença poderá notar do projeto nos palcos?

Munir Kanaan: A linguagem do teatro é completamente diferente da do cinema, e as soluções cênicas permitem uma liberdade muito maior, mais lúdica. O teatro é a mais alta tecnologia que existe: é ao vivo, presencial, um pacto silencioso entre a plateia e o elenco. Só quem está ali, naquele dia, pode presenciar — no dia seguinte, já é outra coisa, outra energia. A peça acontece no entre, no meio, entre a plateia e o palco. Esse risco, essa experiência irrepetível, nenhuma tela é capaz de proporcionar. Por isso, nada supera o teatro. Mas, antes disso, é importante destacar que, apesar de o roteiro do filme ser uma adaptação da peça, as narrativas são parecidas, mas não idênticas. No espetáculo, a voz feminina ganha espaço, algo que não acontece na versão cinematográfica. 

Aqui, a presença feminina se dá por meio de duas freiras, de gerações e posturas diferentes. A freira mais jovem é uma moça ativista e idealista, que nutre admiração pelo Cardeal Bergoglio – futuro Papa Francisco. Já a outra freira, amiga de longa data de Bento XVI, é uma mulher conservadora que dedicou sua vida a preservar os valores tradicionais. A encenação da peça também contribui para essa dualidade. Busquei imprimir em cena o contraste entre o teatro tradicional e o contemporâneo, representando, dessa maneira, os próprios personagens e suas visões de mundo.

SOPA CULTURAL: “Dois papas” é uma obra fictícia sobre dois líderes da igreja católica. Como é fazer esse projeto sem levantar questões ligadas à uma religião específica justamente num momento de muita intolerância religiosa no mundo?

Munir Kanaan: Acredito que Dois Papas é, antes de tudo, uma obra sobre humanidade e escuta. E quando falamos em escuta, qualquer vínculo com uma religião específica se dissolve. A intolerância religiosa é justamente um dos motivos pelos quais esse espetáculo se torna tão necessário. Precisamos voltar a dialogar, a ouvir. As redes sociais criaram uma falsa sensação de que estamos sendo ouvidos, mas, na verdade, apenas falamos e nos isolamos. No máximo, conseguimos formar bolhas que nos privam, entre tantas outras coisas, de desenvolver um pensamento crítico genuíno. 

Além disso, escondidos atrás de um avatar, protegidos por uma tela de celular ou computador, tornou-se muito fácil esbravejar e atacar. Infelizmente, hoje a disputa é de narrativas — trata-se de qual ‘verdade’ tem mais likes, e não de uma apuração real dos fatos. Os algoritmos são um perigo, e a sociedade não estava preparada para lidar com isso. Por isso, capitanear esse projeto é dar continuidade ao que sempre fiz no teatro: usar a arte para iluminar questões urgentes, que precisam de atenção.

SOPA CULTURAL: “Dois papas” marca sua estreia na direção teatral. Como tem sido essa experiência? É mais fácil dirigir ou ser ator?

Munir Kanaan: Tive algumas experiências na direção ao longo dos anos, dirigindo web séries e alguns institucionais. Quando fui dirigir minha primeira peça, chegou a pandemia e precisei transformá-la em um peça-filme, ou seja, continuei no audiovisual. No ano passado, dirigi o ensaio teatral Apesar de Tudo, uma peça singela e um processo muito enriquecedor, que considerei um ‘aquecimento’ para um projeto da magnitude de Dois Papas. Por isso, considero Dois Papas minha verdadeira estreia como diretor de teatro – e acho que comecei bem, com grandes atores no elenco e com a parceria do Sesc-SP, que tanto faz pela cultura. Já participei de muitos espetáculos no Sesc como ator e assisti a centenas de peças de grandes diretores, então estrear lá como diretor tem um significado muito especial para mim. A experiência tem sido maravilhosa. Estou apaixonado pela direção, quero dirigir mais peças, já penso em novos projetos e espero também dirigir trabalhos de outros produtores. Não sei dizer se é mais fácil atuar ou dirigir – são processos bem diferentes –, mas me sinto muito à vontade na direção. 

Como ator e como diretor, há momentos de total fluidez e outros de angústia. No começo, temos um texto, mas não gosto de algo pronto na cabeça. Preciso experimentar, caminhar, mexer na matéria, testar possibilidades. Tento ser o mais honesto possível no processo, porque o teatro permite muitas escolhas. Minha maior atenção como diretor é me manter sensível o suficiente para que a própria obra encontre seu caminho, sem forçá-la ou desviá-la de sua essência, minhas escolhas de encenação partem desse princípio.

SOPA CULTURAL: E por falar nisso, quando poderemos ver você atuando novamente?

Munir Kanaan: Vou te dizer que dirigir Dois Papas despertou ainda mais minha vontade de dirigir novos espetáculos, mas, na mesma medida, reacendeu meu desejo de voltar aos palcos ou às telas como ator. E quando esse sentimento vem – ou melhor, esse desejo, porque acho que prefiro chamá-lo assim –, as coisas começam a acontecer. Hoje mesmo recebi uma mensagem de um teatro oferecendo pauta para o meu solo Horror Lavanda. Adoro fazer essa peça, até porque nunca tinha feito um monólogo antes. Então, se a conversa avançar, em abril estarei reestreando meu solo. E, quem sabe, logo depois já engato em alguma nova produção para cinema ou série. Dirigir me deixou com saudade de atuar (risos), e olha que faz bem pouco tempo que terminei a última temporada do meu solo.

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