Devora-me no Espaço Cultural Municipal Sergio Porto

DEVORA-ME

Pai e filha na vida real estão juntos pela primeira vez em cena, com direção de Pedro Kosovski. Pedro e Luiza são filhos de Ricardo.  

A peça conta a história de dois atores, pai e filha, afastados pela vida, que tentam se reconectar montando Rei Lear, de Shakespeare. Numa dramaturgia de autoficção, seis existências se entrecruzam na cena – de um lado o Pai-Ator-Lear e de outro a Filha-Atriz-Cordélia – para refletir sobre os afetos e jogos de poder na estrutura familiar, envelhecimento e finitude.

Luiza Kosovski viveu recentemente Eliana, uma das filhas de Eunice e Rubens Paiva no longa “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, vencedor do Oscar 2025 de Melhor Filme Estrangeiro.

DEVORA-ME traz uma peça de teatro dentro de uma peça de teatro. Pai e filha na vida real se encontram em cena como pai e filha ficcionais, sob o olhar do filho mais velho e diretor, Pedro Kosovski. Esta família, nascida e criada dentro do teatro, se reúne em mais uma empreitada artística para aprofundar a pesquisa da linguagem de autoficção iniciada no espetáculo TRIPAS – com texto e direção de Pedro Kosovski e atuação de Ricardo Kosovski, a peça foi vencedora do Prêmio Shell de Inovação.

Agora, através dos pontos de ruído e afinidade na relação entre pai e filha, a dramaturgia navega por temas como envelhecimento, cuidado, poder, finitude.

“DEVORA-ME possibilita um encontro único e transformador entre uma filha e um pai, Luiza e Ricardo Kosovski, experimentando-se para além dos laços consanguíneos e biográficos. Só o teatro é capaz de movê-los para além de si mesmos e desmontar essa estrutura social, por vezes tão asfixiantes, que nomeamos família. É nesta aguda fronteira da criação que ela e ele conseguirão se perceber não mais como pai e filha apenas, mas como dois artistas, duas pessoas, corpos pulsantes em um jogo afetivo mais horizontal e plural.”, reflete Pedro Kosovski, diretor.

SINOPSE

Um pai idoso e sua filha temporã, depois de anos afastados, tentam se comunicar. Ele, um experiente ator. Ela, uma jovem atriz. O pai oscila entre a fina lucidez e descontrolados delírios. A filha tenta se equilibrar entre os cuidados com este pai e a raiva e exaustão. Como estratégia de convivência, decidem ensaiar o personagem Rei Lear, antigo sonho dele. O véu da autoficção agora permite que Pai-Ator-Lear e Filha-Atriz-Cordélia descubram novas formas de expressar o que não pode ser dito, ao mesmo tempo em que vislumbram a finitude na figura do pai.

RELEMBRANDO REI LEAR DE SHAKESPEARE

“Acho que Shakespeare adora ser devorado. Pense: ter uma peça sua sendo esquartejada por uma família de teatro nos confins da América do Sul 420 anos depois de tê-la escrito! Melhor do que isso, só viver pra sempre – mas isso já é o que Lear diria, suponho.” (Marcia Zanelatto, dramaturga)

DEVORA-ME é uma releitura-síntese de Rei Lear centrada em dois personagens da trama: Rei Lear e sua filha caçula Cordélia. Na trama original de Shakespeare, Lear, rei da Bretanha, já velho, fragilizado e senil, decide dividir o reino entre suas três filhas, exigindo em troca que cada uma faça declarações de respeito e amor ao patriarca. Cordélia, filha mais nova e favorita do monarca, se recusa a bajular o pai com palavras vazias e acaba expulsa e deserdada pelo próprio. Anos depois, já velho e abandonado pelas outras duas filhas, Lear reencontra Cordélia.

“DEVORA-ME mistura arte e vida. É uma família convocada a empreender um desafio artístico lançando à plateia, corpo, voz, palavras, ação, linhas, cores e música. Um bando de artistas apaixonados pelo teatro, ávidos em tocar o coração da plateia.”, celebra o ator Ricardo Kosovski.

Rei Lear traz como pano de fundo a aparente associação entre virilidade, poder e hierarquia em um contexto familiar. A partir do clássico de Shakespeare, DEVORA-ME reflete sobre um mundo em transformação que atesta dia a dia a falência do patriarcado. E lançando um olhar sobre a senilidade e o consequente cuidado doméstico geralmente atribuído às figuras femininas, reflete sobre afetividades e o lugar social da mulher.

“Imagino que ser pai deva ser um papel difícil. Falo isso porque sei que ser filha é um papel difícil. Começamos o processo por um vetor do Rei Lear: a filha que se recusa a fazer juras de amor ao pai. E a partir daí pudemos desmontar, rasurar, remodelar esses papéis tão desgastados, tão injustos. O amor, a ira, a decepção, o cuidado, o riso, o carinho, o nojo. O pai e a filha em cena experimentam todos os lugares para tatear outras formas de existir.”, conta a atriz Luiza Kosovski.

A MONTAGEM

A cena traz uma grande mesa e estantes ao redor. Elas abrigam ferramentas e terrários(*) de diferentes tamanhos e formatos. Ao longo de cada apresentação e da temporada, a filha montará novos terrários, que irão se acumulando no cenário até o final da temporada. Haverá em cena uma câmera captando detalhes deste trabalho manual e o projetando em tempo real num telão em formato de semicírculo acima dos atores.

(*) recipientes de vidro com pedras, areia, terra e plantas de pequeno porte, criando um pequeno ecossistema.

Os terrários aludem ao contínuo ciclo do semear-brotar-crescer-morrer-enterrar-recomeçar, e seu cultivar minucioso sugere também o cuidado dedicado ao pai, já enfraquecido e oscilando entre realidade e delírio.

Este projeto é contemplado pelo edital Pró-Carioca, programa de fomento à cultura carioca, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Cultura.

Serviço

ESTREIA: dia 07 de junho (sábado), às 20h

ONDE: Espaço Cultural Municipal Sergio Porto

Rua Humaitá, 163 – Humaitá / RJ Tel: (21) 2535-3846

HORÁRIOS: sextas e sábados às 20h e domingos às 19h

SESSÕES EXTRAS: dias 14, 21 e 28 (sábados) às 17h, dias 22 e 29 (domingos) às 16h

INGRESSOS: R$40 e R$20 (meia) em https://riocultura.eleventickets.com/ ou na bilheteria de 4ª a dom das 15h às 21h / CAPACIDADE: 98 espectadores / DURAÇÃO: 100 min / GÊNERO: drama contemporâneo / CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 18 anos / ACESSIBILIDADE: sim / TEMPORADA: até 29 de junho

Apresentações com intérprete de libras nos dias 13, 14, 15, 20 e 21 de junho (dias 14 e 21 na segunda sessão)

FICHA TÉCNICA

  • Idealização: Ricardo Kosovski e Pedro Kosovski
  • Direção: Pedro Kosovski
  • Dramaturgia: Marcia Zanelatto
  • Atuação: Ricardo Kosovski e Luiza Kosovski
  • Assistência de Direção: Zaza Connas
  • Cenografia: Beli Araújo e Lidia Kosovski
  • Supervisão Técnica dos Terrários: Giselle Falbo
  • Iluminação: Lina Kaplan
  • Figurino: Fernanda Garcia
  • Assistência de Figurino: Mag Pastori
  • Direção Musical: Felipe Storino
  • Criação de Vídeo: Julio Parente
  • Assistência de Vídeo: Diego Avila
  • Direção de Movimento: Paulo Mantuano
  • Interlocução Artística: Janaina Leite e Carmen Luz
  • Professora de Dança: Brigitte Wittmer
  • Operação de Vídeo e Som: Diego Avila
  • Operação de Luz: Luana Della Crist
  • Mídias Sociais: Rafael Teixeira
  • Programação Visual: Ana Szwarcfiter e Marina Kosovski
  • Registros Fotográficos: João Julio Mello
  • Produção: Corpo Rastreado
  • Produção Local: Anne Mohamad
  • Produtor Assistente: Vini Portella
  • Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

MARCIA ZANELATTO – dramaturga

Escritora, dramaturga, diretora, libretista e roteirista. É autora comissionada pelo Royal Exchange Theatre (UK) para o Birth Project, para a qual escreveu a peça The Birth Machine. Escreveu dezenas de textos para teatro e recebeu prêmios e indicações para diversas montagens de suas peças. Sua obra é marcada por protagonistas femininas e temas sociais.

Atualmente, escreve a peça “O Caso Ruth Desane”, monólogo para a atriz Betty Faria, com direção de Guilherme Leme Garcia, com estreia prevista para julho de 2025 e a peça “Devora-me”, uma nova leitura do clássico Rei Lear, com direção de Pedro Kosovski, prevista para abril de 2025. Em setembro de 2023 estreou, como librestista, a ópera “Isolda.Tristão”, de Clarice Assad, com direção geral de Guilherme Leme Garcia, no Theatro Municipal de São Paulo.

Suas peças de teatro mais recentes são: 2024, “Infância Roubada”, com a Trupe de Truões, Uberlândia MG; 2023, “O canto das Sereias”, direção de Tania Pires, com Carla Marins e 5 atrizes de diferentes países, Teatro Glaucio Gil, RJ; “Diadorim”, dirigida por Guilherme Leme Garcia, com Vera Zimmermann, no Centro Cultural São Paulo, SP; “Chapeuzinho Esfarrapado”, dirigida por Camila Santanna, com Silvia Paes e Matoso Ribeiro, na Caixa Cultural de Brasília, BSB; 2022, “Lady X Macbeth”, dirigida por Marcio Aurélio e Mara Borba, com Guilherme Leme Garcia e Yara de Novaes, no SESC Consolação/ Teatro Anchieta, SP; “Outras Marias”, dirigida por Patrícia Selonk, com Clara Santhana, no SESC Tijuca, Rio de Janeiro; 2021; 2020, “ELA”, com a companhia de Teatro ACERT Trigo Limpo de Tondela, Portugal.

Da leva anterior à pandemia, destacam-se as peças “Menines, Genderless – um corpo fora da lei” e “Eles não usam tênis naique”. E os musicais “Merlin e Arthur”, dirigido por Guilherme Leme Garcia, com Vera Holtz, Paulinho Moska e grande elenco, e “Deixa Clarear”, dirigido por Isaac Bernat, com Clara Santhana.

No audiovisual, é criadora e roteirista da série “República do Peru” (2 temporadas, Amazon Prime e Loke, foi chefe de roteiros do Porta dos Fundos e corroteirista com Domingos Oliveira nas obras “Juventude”, longa-metragem com Paulo José, Aderbal Freire-Filho e Domingos Oliveira (Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Gramado); na série “Todo mundo tem problemas sexuais”, versão produzida para a TV (Band); e foi assistente de direção da versão longa-metragem do mesmo projeto.

PEDRO KOSOVSKI – diretor

Dramaturgo, diretor teatral e professor de artes cênicas da PUC-RIO e do Teatro O Tablado. Com mais de vinte peças encenadas no Brasil, apresentou suas criações na América do Sul e Europa. Recebeu indicações e foi vencedor dos mais importantes prêmios do teatro brasileiro, entre os quais, Shell, APCA, Cesgranrio, APTR, Questão de Crítica. Três de suas peças que formam a “trilogia da carioca” (“Cara de Cavalo”, “Caranguejo Overdrive”, “Guanabara Canibal”) estão publicadas pela editora Cobogó.

RICARDO KOSOVSKI – ator

Iniciou sua carreira artística em 1976, no Teatro Tablado. Ator, diretor, pesquisador e Prof. Titular do Depto. de Direção Teatral e Programa de Pós-Graduação da Escola de Teatro da UNIRIO. Ganhou Prêmios Shell Inovação e Questão de Crítica Melhor Espetáculo por “Tripas”, sendo ainda indicado a melhor ator nos Prêmio Cesgranrio, Shell, Prêmio Botequim Cultural e APTR. Foi indicado ao Prêmio Shell de Melhor Ator por “Maracanã”, e indicado melhor ator Prêmio Botequim Cultural.

Alguns trabalhos em teatro como ator são “Doppelganger”, de Domingos Oliveira (2014/16); “Boa Noite Professor”, de Lionel Fischer e Julia Stockler (2016); “Tripas”, de Pedro Kosovski (2017/21); “Maracanã”, autoria e direção de Moacir Chaves (2019/2020); “Terra Desce”; de Pedro Kosovski (2023). No cinema, “Infância”, de Domingos Oliveira (2015); “Real”, de Rodrigo Bittencourt (2016); “Aconteceu na Quarta feira”, roteiro e direção de Domingos Oliveira (2019/2020); “Eike tudo ou nada”, direção de Andradina Azevedo e Dida Andrade (2021/22).

LUIZA KOSOVSKI – atriz

Luiza Kosovski é atriz e Bacharel em Cinema na UFRJ. Mais recentemente, fez parte do elenco protagonista do longa “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, vencedor do Oscar 2025 de Melhor Filme Estrangeiro. Também protagonizou o longa-metragem “Sem Seu Sangue” que estreou em 2019 no Festival de Cannes e lhe rendeu uma menção honrosa pela sua atuação no Festival de Cinema do Rabat.

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