Dia das Crianças em alerta: saúde mental, violência e educação pedem respostas imediatas

por Graça Duarte

Neste 12 de outubro, enquanto muitos lares celebram com presentes e festas, indicadores recentes colocam a infância em situação de risco. Estudos nacionais e internacionais apontam aumento de transtornos como ansiedade e depressão entre crianças e adolescentes, a pandemia aprofundou déficits de aprendizagem e a violência, doméstica, sexual e comunitária, continua a expor meninas e meninos a danos físicos e emocionais. Não se trata de alarmismo gratuito, mas de sinais consistentes de que a proteção integral, a saúde mental e o direito à educação estão sendo insuficientemente garantidos em amplas parcelas da sociedade.

Dia das Crianças em alerta: saúde mental, violência e educação pedem respostas imediatasA oferta de serviços especializados para atendimento psicológico infantil é ainda muito limitada diante da demanda crescente. Há filas para CAPS-Infantil e longos períodos de espera em serviços básicos de saúde, enquanto escolas não providenciam profissionais de formação adequada para identificar sinais precoces de sofrimento ou para oferecer encaminhamento qualificado. Ao mesmo tempo, a normalização de castigos físicos em alguns lares e a subnotificação de abusos tornam o ambiente doméstico um local de risco inaceitável para muitas crianças.

Na educação, as consequências são evidentes: perdas de aprendizagem acumuladas pela pandemia, aumento da evasão escolar em áreas vulneráveis e jovens que chegam ao ensino médio com lacunas significativas em leitura e matemática, condições que ampliam a chance de reprodução do ciclo de vulnerabilidade social. Esses problemas têm raízes comuns, fragmentação das políticas públicas entre saúde, educação e assistência social, insuficiência de investimento e desigualdades socioeconômicas que intensificam o estresse familiar e limitam oportunidades de desenvolvimento.

Caminhos urgentes para proteger a infância.

As soluções exigem decisões rápidas e articuladas: integração entre redes de saúde, educação e assistência social com protocolos locais claros; expansão dos CAPS e de equipes multidisciplinares vinculadas às escolas; formação massiva de professores, conselheiros tutelares e profissionais da saúde para identificação precoce e encaminhamento; e implementação curricular de programas socioemocionais e anti-bullying nas escolas. Políticas de apoio à primeira infância, como visitas domiciliares e programas de parentalidade positiva, juntamente com campanhas públicas contra o castigo físico e medidas efetivas de denúncia e proteção, são fundamentais para reduzir risco e promover um ambiente seguro.

Famílias e comunidades também têm papel decisivo, é preciso manter diálogo aberto com crianças sobre sentimentos, reduzir sua exposição a cenas de violência e conteúdos nocivos, buscar parceria com escolas e serviços locais ao notar mudanças no comportamento, e utilizar linhas de apoio e redes de proteção quando necessário. É preciso ouvir as próprias crianças e adolescentes, incorporando suas vozes na formulação de respostas que os afetem diretamente.

Este Dia das Crianças deveria servir não apenas para distribuirmos brinquedos, mas para renovarmos o compromisso político e social com a infância. Prefeituras e governos estaduais precisam mapear lacunas locais em 90 dias, lançar planos intersetoriais com metas claras e orçamento dedicado, e monitorar resultados publicamente. Se queremos um presente digno e um futuro sustentável, não podemos esperar mais 365 dias para agir.

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