Comemorado em 28 de junho, o Dia do Orgulho LGBTQIAP+ é uma oportunidade para ampliar debates essenciais sobre saúde e direitos da população trans e não-binária. Um dos temas que ganha destaque nesse contexto é a terapia hormonal, procedimento que tem impacto direto no aspecto emocional, no bem-estar e na qualidade de vida dessas pessoas.
A terapia hormonal é um recurso médico utilizado para adequar o corpo à identidade de gênero da pessoa, ao promover mudanças físicas que alinham a aparência com o gênero com o qual ela se identifica. Para mulheres trans, o tratamento envolve o uso de estradiol e bloqueadores da testosterona; para homens trans, a aplicação de testosterona, em gel ou injetável, é o método mais comum.
O procedimento pode representar, para muitos, um recomeço. Estudos indicam que a hormonoterapia não apenas transforma a aparência, mas também traz benefícios importantes à saúde mental das pessoas trans e não-binárias, contribuindo para a redução de sintomas de depressão, ansiedade e risco de suicídio. O suporte multidisciplinar durante o processo é, portanto, peça-chave para a “O principal benefício da terapia hormonal é a diminuição da disforia. Nem todo paciente trans é disfórico, mas os que têm essa condição geralmente sofrem com o corpo desde a adolescência até a vida adulta, com características sexuais diferentes daquelas com as quais se identificam. A partir do momento que ele faz a hormonização, essas características são amenizadas e a disforia é reduzida”, explica Renata Bussuan, endocrinologista e Coordenadora Nacional da Pós-graduação em Endocrinologia da Afya Educação Médica.
O acesso a essa intervenção ainda enfrenta barreiras relevantes no Brasil. No Sistema Único de Saúde (SUS), o processo oferece atendimento integral, mas as filas de espera podem ultrapassar uma década, especialmente para procedimentos cirúrgicos. Na rede privada, o custo mensal varia de algumas centenas a milhares de reais, o que limita a continuidade para muitas pessoas.
Além dos desafios financeiros, a desinformação e o preconceito em ambientes de saúde ainda provocam atrasos e até interrupções no acompanhamento. É indispensável que os profissionais estejam capacitados para oferecer um atendimento acolhedor, garantindo um ambiente seguro e respeitoso para essa população.
“A medicina precisa de profissionais que saibam lidar com paciente trans, independentemente da especialidade. Quem nunca atendeu um paciente trans tem que estar preparado, porque mais cedo ou mais tarde vai atender. É preciso saber acolher, compreender os efeitos hormonais e estar atento aos possíveis efeitos colaterais”, completa Renata.
No mês do Orgulho LGBTQIAP+, especialistas reforçam que ampliar o acesso à terapia hormonal com segurança e informação é um passo importante rumo à equidade em saúde e ao reconhecimento pleno das identidades de gênero.
