Baseado no livro homônimo de Dora de Assis, o espetáculo “Lagartixa sem rabo” estreia em 7 de agosto no Teatro Glaucio Gill. A peça, com direção de Gabriel Rochlin, traz um olhar infantil para o mundo adulto ao acompanhar o amadurecimento de Lila, uma garota que tem o estranho hábito de cortar o rabo das lagartixas de seu quintal. É assim que a curiosa jovem, interpretada pelas atrizes e amigas de longa data Dora de Assis e Dora Freind, extravasa a culpa e a frustração que sente ao se deparar com situações das quais não há possibilidade de fuga, apenas o enfrentamento.
“Lagartixa sem rabo” é uma peça que tematiza o crescimento, atravessando a fase da infância à juventude de Lila. No espetáculo, a personagem enfrenta seus medos e inseguranças, alguns considerados tolos aos olhos de um adulto, mas que são legítimos e, para uma criança, ganham uma proporção ainda mais desafiadora. Ao longo da trama, Lila procura entender a doença do avô; tem as primas mais velhas como referência; encara a primeira menstruação e as mudanças no corpo e na mente; tem os primeiros contatos com sexo e outros pontos de virada da adolescência.
“O espetáculo fala de situações limite, das quais não temos retorno e somos obrigados a crescer, ir além do que já fomos até então. E acho que isso é uma vida muito bem vivida, independente se é uma boa vida ou não. É uma vida que tem vida acontecendo. ‘Lagartixa sem rabo’ é sobre as marcas que as coisas deixam em nós e sobre as marcas que deixamos nas coisas. Os acontecimentos são sempre uma via de mão dupla”, reflete Dora de Assis.
“Quando somos crianças, as sensações ganham outra dimensão. Tudo é muito e hiperbólico. Nosso entendimento ainda está sendo moldado. O medo se torna uma grande dor, do tamanho que a gente dá, como se tudo fosse uma questão de vida ou morte”, complementa o diretor Gabriel Rochlin. “Ao mesmo tempo em que acolhemos e legitimamos a dor, tem a questão paradoxal de não deixar que ela determine quem você é e transformá-la em outra coisa”, acredita.
A ótica feminina também atravessa o espetáculo. “A peça traz a visão de uma menina, que está em fase de crescimento, e como ela aprende a lidar com a culpa e a dimensão que a culpa ocupa em sua vida. Devido ao patriarcado, as mulheres são socializadas de uma determinada maneira em que a culpa sempre as acompanha. E na pré-adolescência, tudo parece imenso enquanto nos sentimos minúsculas”, analisa Dora Freind.
Dora de Assis começou a escrever “Lagartixa sem rabo”, que será lançado em livro pela Editora Philos durante a temporada no Glaucio Gill, há quatro anos, já com o pensamento de montar o espetáculo. Para isso, chamou sua amiga de longa data e xará Dora Freind para a sala de ensaio.
“Durante o processo criativo, resolvemos interpretar a mesma personagem”, revela Dora de Assis. “Nós sempre somos confundidas uma com a outra. Além do mesmo nome e da voz parecida, levemente rouca, estudamos na mesma escola, fizemos teatro no mesmo lugar e trabalhamos juntas no teatro inúmeras vezes, além de cinema (“Mário de Andrade, o turista aprendiz”, de Murilo Salles, em 2024, e “Mate-me por favor”, de Anitta Rocha, em 2015) e televisão (Malhação, em 2019). Isso virou uma gag na nossa vida”, conta a atriz, escritora, professora e artista visual.
O cenário e figurino têm destaque em “Lagartixa sem rabo”. Assinados pela também assistente de direção Julia Morais, eles trazem elementos que dialogam com o pequeno réptil tendo a linha de crochê como fio conector, tecendo e costurando memórias como numa colcha de retalhos.
“A linha conversa o tempo todo com a dramaturgia, cenário e figurino. Tem a manualidade, a linha que une, o fim da linha, o corte do fio e do rabo de lagartixa”, exemplifica a multiartista Julia Morais. “O figurino se transforma ao longo da peça, com sobreposições, uma balaclava e acessórios variados. O fio se une ao cenário, que conta com novelos e uma manta gigante, também de crochê. A linha proporciona inúmeros movimentos e possibilidades”, explica.
DORA DE ASSIS
Atriz, dramaturga, autora e artista visual. Nos palcos, assina a coautoria do espetáculo “Felicidade à venda” (2024), dirigido por Natasha Corbelino, no qual também está em cena como atriz, junto de seus pais, Lucília de Assis e Alexandre Dacosta. Autora e atriz da peça “ponto ZER0” (2023-2024), dirigida por Débora Lamm. Seus dois livros, “Poesia Rouca” (2020) e “Lagartixa Sem Rabo” (2025), foram publicados pela Editora Philos. Trabalha como atriz há 11 anos, com sua estreia no cinema no filme “Mate-me por favor” (2015), de Anitta Rocha da Silveira. Seus últimos trabalhos no cinema foram como Sandra Pêra em “Homem com H”, de Esmir Filho, como Margarida Guedes Nogueira, uma das protagonistas no longa “Mário de Andrade, o turista aprendiz”, de Murilo Salles, e como Daniela em “Adeus, verão!”, de Diego de Jesus. Na televisão, foi uma das protagonistas de “Malhação: toda forma de amar” (2019-2020). Formada em Artes Visuais pela UERJ (2021), com Licenciatura em Artes Cênicas pelo Célia Helena Centro de Artes e Educação (2024).
DORA FREIND
Formada em artes cênicas pela UNIRIO, Dora Dora Freind é uma atriz carioca de 28 anos. Com 13 anos de carreira, estreou profissionalmente no filme “Mate-me por favor” (2015), de Anita Rocha da Silveira, que foi lançado no Festival de Veneza. Lá, foi premiada como atriz e repetiu a parceria com Anita no filme “Medusa” (2021). No filme “As polacas”, de João Jardim, que estreou no Festival do Rio (2023), Dora foi premiada como atriz coadjuvante no festival de Punta Del Este. No filme “Mário de Andrade, o turista aprendiz” (2024), de Murilo Salles, Dora encarou o desafio de viver Dolur, a filha de Tarsila do Amaral. Na televisão, trabalhou como atriz em novelas como “Amor de mãe” (2020), de Zé Villamarim, e “Malhação: vidas brasileiras” (2019). No streaming, fez sua estreia na Netflix com a série “De volta aos 15” (2023), que já está em sua 3ª temporada.
GABRIEL ROCHLIN
Diretor, preparador de elenco, ator, dramaturgo e professor. Preparou o elenco da novela “No Rancho Fundo”, nos Estúdios Globo, em 2024. Dirigiu peças como “Chorume” (2025) e “Mármore” (2018); diversos videoclipes, como “Conformópolis”, de Julia Mestre; curtas-metragens, como “Urbem”, com Sura Berditchevsky, e shows, como “Universo de Paixão”, de Natascha Falcão, no Teatro Rival (2024) e Festival Spanta (2025). Atuou em peças como “Quando as pessoas andam em círculos” (2019), no CCBB-RJ, da Artesanal Cia. de Teatro, e “Ensaio ir embora” (2023/25), na Sede Cia. dos Atores, de sua companhia teatral “Grupo Chão”. Formado em Cinema pela PUC-Rio e tendo cursado Artes Cênicas na UNIRIO, ministrou aulas n’O Tablado, em escolas e cursos livres independentes, além da oficina “Potencializa”, nos Estúdios Globo.
FICHA TÉCNICA:
- Dramaturgia e texto original: Dora de Assis
- Elenco: Dora de Assis e Dora Freind
- Direção: Gabriel Rochlin
- Assistente de direção: Julia Morais
- Produção: Ellen Miranda e Laura Picorelli
- Assistência de produção: Lara Oliveira
- Figurino: Julia Morais
- Luz: Clarice Sauma
- Trilha Sonora: Frederico Santiago
- Arte: Luiza Vaz
SERVIÇO
Espetáculo: “Lagartixa sem rabo”
- Temporada: de 7 a 29 de agosto de 2025
- Apresentações: quintas e sextas, às 20h
- Local: Teatro Glaucio Gill – Praça Cardeal Arcoverde, s/nº – Copacabana
- Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$30 (meia).
- Bilheteria: de seg. a sex., a partir das 16h | sáb. e dom., a partir das 15h
- Classificação indicativa: 14 anos. Duração: 60 min.