Elas no comando do samba

As Mulheres da Pequena África

Cada vez mais, a máxima “lugar de mulher é onde ela quiser”, ganha força. Prova disso, é a roda de samba As Mulheres da Pequena África, nascida e com residência mensal na Pedra do Sal, berço do samba e parte da região designada como Pequena África por abrigar 15 pontos de memória que retratam, desde a chegada dos escravizados até a própria história da diáspora africana no Brasil. 

Este local emblemático será palco da apresentação mais importante da trajetória do grupo feminino e feminista, marcada para o sábado, 11 de maio, a partir das 19h. E melhor ainda: de graça. 

Na ocasião, as sambistas realizam a gravação de seu primeiro áudio visual com a música inédita Na Ribeira. Uma composição de Thais Villela, carioca, vocalista da banda. Completam a parceria os compositores Cris Delanno e Alex Moreira. A produção musical fica a cargo de Wanderson Martins.

A cantora Dora Rosa, remanescente indígena do Pantanal mato-grossense, também comanda os vocais, e além da sua experiência no samba, no CD solo Vento Bom, também traz em seu canto a força dos nossos povos originários.

A canção fala do encontro das “donas das águas”: Oxum e Yemanjá, ou seja, o rio que desemboca no mar  e banha o público com toda a ancestralidade que se faz presente na própria Pedra do Sal, por toda sua tradição de matrizes africanas.

A união de mulheres que fazem do que são e do que amam, suas bandeiras de luta, as tornam mais fortes e é o ponto de partida para a criação dessa roda cheia de representatividade. As Mulheres da Pequena África conta com mulheres pretas, brancas, remanescentes indígenas, LGBTQIAPN+ e periféricas.  Elas praticam e dialogam com o público sobre temas como: sororidade, empoderamento feminino, luta antirracista, bem como o combate à toda forma de intolerância, preconceito e discriminação.  

Em um universo predominantemente masculino e por vezes machista, elas trazem releituras de clássicos do samba, com letras que já não devem ser reproduzidas e dão à esses mesmos clássicos uma nova roupagem, desta vez sob a perspectiva da mulher. 

O repertório do grupo também contempla canções que abordam outras questões que orbitam o universo feminino, LGBTQIAPN+ e que falam da ancestralidade negra. 

“É o samba devolvendo às mulheres o protagonismo que, por exemplo, Tia Ciata deu ao samba quando o acolheu em seu terreiro, onde a polícia não entrava, pois ela era uma mãe de santo articulada politicamente o suficiente para garantir que as rodas acontecessem sem truculências ou intervenções dos militares”, analisa Thais, que já canta há dez anos na Pedra do Sal com grupos masculinos, e só à partir daí,  conseguiu abrir um espaço no calendário oficial do local para uma roda feminina. 

As Mulheres da Pequena África recebem ao longo dos anos convidadas de todo o Brasil que têm a oportunidade de tocar neste verdadeiro santuário do samba no Rio de Janeiro. Na visão de Dora, a roda é muito animada, potente, promissora e mostra o trabalho de mulheres que trazem em seus sambas diferentes nuances, sotaques e influências, mas que se fundem principalmente pelo toque do tambor, pois quando se fala de ancestralidade, o batucar indígena encontra a afro, traçando na sonoridade a pluralidade brasileira. 

Completam a noite, sambas clássicos e contemporâneos. 

Identidade, de autoria de Jorge Aragão, não pode faltar pois o povo se identifica demais com essa letra que diz, que ‘quem cede a vez não quer vitória, somos herança da memória’, pontua Thais. Dora Rosa também se destaca por Conlicençaê, uma mistura de samba e ijexá, de sua autoria em parceria com Bianca Miranda.

Esta edição da roda de samba As Mulheres da Pequena África acontece através do edital Ações Locais, da Gerência de Territórios e Diversidades da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro

Serviço: 
Mulheres da Pequena África
Roda de Samba na Pedra do Sal 
Sábado, 11 de maio, a partir das 19h

Musicistas:

  • Thais Villela – Voz
  • Dora Rosa –Voz
  • Maya Alves – Voz e Pandeiro
  • Marcia Viegas – Atabaques
  • Renata Tougeiro – Surdo
  • Thay Mavigno – Tantan
  • Waléria do Cavaco – Cavaquinho e backing vocal
  • Marcia Guedes – Violão
  • Vivi Araújo – Banjo

Direção musical João Paulo Bittencourt
Classificação: Livre
Entrada Gratuita

Related posts

Carioquíssima “Jazz Festival & Brasilidades” agita o fim de semana na Glória em edição especial focada em apresentações musicais e artes

Festival Clássicos do Brasil com Orquestra Petrobras Sinfônica em show gratuito no Teatro Municipal Raul Cortez em Duque de Caxias

Thaïs Morell apresenta show do álbum “Quatro Cantos” com participação especial de Renata Rosa no Sesc Tijuca