O livro “Meu avô Tatanene”, da premiada escritora afro-cubana Teresa Cárdenas (@teresacardenascuba), é focado na relação de afeto entre Reglita, uma menina de doze anos, e seu avô Gregório, um quilombola já idoso que sonha ir à África para conhecer a terra de onde seu avô veio e deu origem a sua família. Publicada pela Editora de Cultura (@editoradecultura), com tradução de Caio Riter, a obra, através de uma narração infantil bem conduzida, mescla imaginação, histórias ancestrais, memória, resistência e construção de identidade com momentos de amor e descoberta. A autora participa de uma noite de autógrafos nesta quinta-feira, dia 21, a partir das 19h, no Sesc Tijuca (Rua Barão de Mesquita, 539 – Tijuca), no Rio de Janeiro.
Já conhecida no Brasil pelos livros “Cachorro Velho”, vencedor do Prêmio Casa das Américas de Cuba em 2005, e “Cartas à Minha Mãe”, Teresa Cárdenas se reafirma como uma voz importante no universo da literatura infantil e juvenil do nosso país. Com uma abordagem sensível e criativa, a escritora trabalha a ancestralidade e o afeto familiar para falar sobre envelhecimento, divórcio, o passado escravocrata e a África real e imaginária, terra da liberdade para o quilombola sonhador.
Segundo a escritora, seu fascínio pelo mundo dos livros e da literatura aconteceu bem cedo. “Tudo o que caía em minhas mãos era bem recebido. Por isso, acho que começar a escrever foi algo que evoluiu em mim de maneira natural, constante e coerente. Em quase todos os livros que consegui escrever e publicar, continuo sendo aquela Teresa, menina questionadora, curiosa, cujo olhar vai muito além do que ela mesma percebe”, afirmou em entrevista com Zeca Gutierres.
Por ter percebido que havia poucos negros nas histórias infantis, sua escrita surgiu. Hoje, sua obra é considerada uma importante influência para a construção de autoestima de meninos e meninas negros.
Além de escritora, Teresa Cárdenas também atua como contadora de histórias, conferencista, atriz, ativista social e bailarina folclórica. Tem livros publicados em diversos países, como Suécia, Canadá, Estados Unidos, Coreia, Cuba e Brasil.
Confira um trecho do livro:
“Vovô também queria ir para a África. Não para lutar nem para morrer por alguma coisa mas, sim, para ver onde tinham nascido seus avós. Sempre sonhava com tudo o que Simbao teve que deixar para trás.
Me falava tanto das florestas e dos prados africanos que, ao entrar em seu quarto, eu imaginava penetrar na selva. De qualquer canto, via saltarem gazelas, zebras; elegantes manadas de girafas cruzavam um rio cristalino, que brotava embaixo dos sapatos dele; macaquinhos de cara branca brincavam com seu travesseiro; árvores gigantes estendiam seus ramos e galhos até o teto e saíam pela janela, atravessando a vidraça sem quebrá-la.
Até sua cama se transformava diante dos meus olhos em um prado solitário, onde se escondia o sol vermelho do fim da tarde e meu avô, transformado em montanha, dizia:
— De lá saímos, Reglita. A África é nossa mãe.”
(Página 18)
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