Espetáculo de dança “Água redonda e comprida” estreia em 4 de julho no Mezanino do Sesc Copacabana

Inspirada no conhecimento e na cosmovisão do povo indígena Kaingang, a bailarina e mestra em antropologia social Geórgia Macedo idealizou, ao lado de Iracema Gah Teh e Angélica Kaingang, o espetáculo de dança contemporânea “Água redonda e comprida”. O projeto estreou em Porto Alegre no ano retrasado, e agora chega ao Rio de Janeiro para uma curta temporada no Mezanino do Sesc Copacabana, de 4 a 14 de julho de 2024, com sessões de quinta a domingo, às 20h30. “Água redonda e comprida” foi contemplado pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar.

Em cena, Geórgia Macedo divide o palco e a criação das coreografias com a bailarina Nayane Gakre Domingos, pré-adolescente indígena Kaingang. Neste encontro, as intérpretes brincam e criam movimentos orgânicos e intuitivos por meio de jogos e também a partir da interação com objetos, criando imagens coreográficas fluidas. O cenário remete ao movimento das águas e se transforma ao longo do espetáculo, trazendo histórias que foram apagadas por séculos. A trilha sonora é de Thiago Ramil, e Isabel Ramil está à frente do figurino e da cenografia. A bailarina Camila Vergara assina a direção de movimento e Kalisy Cabeda, a direção cênica.

Em 2015, Geórgia começou a pesquisar a educação, a territorialidade e a cosmologia Kaingang durante o seu mestrado em antropologia social na UFRGS. “Na época, conheci a Angélica Kaingang, mãe da Nayane [então com apenas 5 anos], que foi a minha primeira professora indígena. Foi ela quem me apresentou à liderança política e espiritual Iracema Gah Teh.” Angélica e Iracema fazem a orientação cênica do espetáculo.

“Água redonda e comprida” busca construir caminhos para a conscientização da conservação, preservação e proteção das águas. Pelo conhecimento do povo Kaingang, as águas não são vistas apenas como fonte da natureza, mas a partir da noção de parentesco. Conforme explica Iracema, “as águas são parte do nosso corpo e também desse corpo terra. A água que brota da terra é como o leite que brota do seio das mulheres. E jogar sujeira na água seria como jogar uma sujeira no olho da nossa avó ou mãe”. 

O povo Kaingang concebe dois tipos de água no mundo: Goj tej (água comprida, dos rios) e Goj ror (água redonda, as nascentes, os lagos). Essas águas são complementares, como toda a cosmologia Kaingang, e é na união e troca entre as duas metades que o mundo pode ficar em equilíbrio. Não só as águas, mas todo universo Kaingang é dividido entre as coisas redondas (ror) e compridas (téj). 

“No Rio Grande do Sul, nós vivemos em territorialidade com os povos Kaingang, Mbya-Guarani, Charrua e Xokleng. Como aprendi com Iracema, o Rio Guaíba e seus afluentes são compreendidos como partes de um grande corpo. Deste corpo água que é o planeta Terra. Esses conhecimentos, que buscamos trazer através da dança, quebram a ideia de que as águas, os animais e as árvores são apenas recursos da natureza”, conta Geórgia.

Geórgia Macedo (bailarina e direção geral)

Mestra em Antropologia Social, bailarina, educadora e produtora. Trabalha desde 2016 junto aos povos indígenas em projetos culturais através da produtora Tela Indígena. Seu primeiro trabalho autoral foi “Afluência” (2019), concebido e apresentado junto a artistas da música e artes visuais, sendo indicada ao Açorianos de Dança (2020) por espetáculo do ano, bailarina, coreografia, direção (coletiva) e destaque em dança contemporânea. Seu último trabalho autoral é o espetáculo de dança contemporânea “Água redonda e comprida”. Tem experiência internacional com Les Gens de Uterpan (Paris-França), em 2018, e com a Cia VALLETO (EUA/México), em 2021. Recentemente na residência Puertos de Sur a Sud (novembro/2023), promovida pelos Institutos Goethe na América do Sul (Colômbia, Argentina, Venezuela, Uruguai, Chile, Brasil e Paraguai).

Nayane Gakre (bailarina)

Jovem Kaingang da terra indígena do Votouro, mora na cidade de Porto Alegre junto com sua mãe na Casa de Estudante Indígena da UFRGS. Acompanha sua mãe participando das lutas políticas em Brasília e dos encontros de lideranças do Estado do Rio Grande do Sul. Nayane tem 13 anos, participou dos grupos de dança nos territórios onde viveu e seu primeiro trabalho nas artes cênicas foi com o espetáculo “Água redonda e comprida”, quando foi indicada ao Açorianos de Dança 2022 na categoria “Intérprete Destaque”.

FICHA TÉCNICA

  • Orientação cênica: Iracema Gah Teh Nascimento e Angélica Kaingang
  • Direção geral: Geórgia Macedo
  • Bailarinas criadoras: Geórgia Macedo e Nayane Gakre Domingos 
  • Direção artística: Geórgia Macedo e Kalisy Cabeda
  • Direção cênica: Kalisy Cabeda
  • Coreografia: Geórgia Macedo e Nayane Gakre Domingos 
  • Direção de movimento: Camila Vergara
  • Preparação corporal: Camila Vergara e Geórgia Macedo
  • Figurinos e cenografia: Isabel Ramil
  • Costureira: Cláudia Maria Alves Marques
  • Criação e operação de luz: Thais Andrade
  • Trilha sonora e operação de som: Thiago Ramil
  • Voz e narrativas: Iracema Gah Teh Nascimento e Angélica Kaingang 
  • Design gráfico: Vini Albernaz
  • Vídeo: EROICA _ conteúdo
  • Produção Espetáculo: Virgínia Torres e Lorena Relva

Temporada SESC Pulsar RJ

  • Direção geral: Geórgia Macedo
  • Direção de produção: Camila Vergara – Vergara Produções Artísticas
  • Produção local: Roberta Dias – Caroteno Produções
  • Técnicos locais: Giu Del Penho e Iuri Wander
  • Assessoria de imprensa: Catharina Rocha e Paula Catunda
  • Social mídia: Ananda Aliardi
  • Anúncios digitais: Daruma Comunicação e Marketing

Related posts

“Marginal Genet” estreia dia 02 de janeiro de 2025

Shopping Metropolitano Barra traz espetáculo infantil baseado em Moana neste domingo

Breaking do Verão 2025: competição internacional acontece na Fundição Progresso