Espetáculo ‘Eu Capitu’ estreia no CCBB RJ e reflete sobre machismo, dores e silenciamentos de mulheres contemporâneas a partir da obra de Machado de Assis

Eu Capitu
Eu Capitu - Foto: Daniel Barboza

Um dos mais conhecidos romances da Literatura Brasileira, ‘Dom Casmurro’ foi publicado em 1900, se tornou obrigatório em listas e leituras escolares, além de popularizar os personagens Bentinho e Capitu no inconsciente coletivo. A famosa história permaneceu no imaginário público e, após mais de um século, vai ser finalmente revista, refletida e retratada pelo olhar feminino no teatro. ‘Eu Capitu’ estreia no dia 12 de abril no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro com texto inédito de Carla Faour, escrito a partir desta provocação sobre o original machadiano, e com direção de Miwa Yanagizawa. A força do coletivo feminino se expande para todas as esferas da montagem, com mulheres em cena (Flávia Pyramo e Marina Provenzzano) e na imensa maioria da equipe criativa.

No palco, as atrizes encenam uma história que se passa no Brasil de hoje, quando Ana, adolescente presa em um ambiente de tensão doméstica, presencia o fim de um relacionamento abusivo de sua mãe, Leninha, que começa a experimentar novas experiências com o término. A menina – cuja leitura obrigatória de ‘Dom Casmurro’ para o colégio segue incompreendida – costuma se isolar em um mundo imaginário para fugir de seus problemas. É neste refúgio que encontra uma mulher misteriosa e, aos poucos, descobrimos se tratar da própria Capitu.

‘Logo de início, entendi que não queria uma peça realista. Se o assunto era muito duro e pesado, eu queria falar de uma forma doce e lúdica, com a criação de um universo simbólico e metafórico’, resume Carla Faour, que chama a atenção pelo fato de a peça dar voz a mulheres em um mundo que tem a narrativa masculina, seja na política, nas artes, na história ou nas famílias.

‘No texto, o universo todo está na perspectiva desta menina, que sai da infância e entra na adolescência, um momento de extrema vulnerabilidade, e tenta entender as opções da mãe, o que é ser mulher e também o próprio livro de Machado de Assis’, comenta a autora.

A direção de Miwa Yanagizawa foi criada em um processo guiado pelo olhar, pelas múltiplas perspectivas e pela intensa troca com todas as artistas da equipe do espetáculo: ‘Nos interessa instigar o olhar da plateia, convidá-la a imaginar outras possibilidades narrativas, tomar consciência das coisas se valendo de mais de uma perspectiva. Portanto, juntas, levantamos questionamentos e nos apropriamos deles para desdobrá-los ao invés de buscar soluções definitivas: é mais sobre apreciar fazer mais perguntas e dar abertura para uma cena menos linear e acabada em que a pessoa que assiste também colabora, na medida em dialoga com o espetáculo fazendo uso de seus poderes de observação, raciocínio, imaginação e compreensão tornando-se também uma intérprete’, analisa a diretora, recentemente premiada com o APTR de Melhor Direção por ‘Em Nome da Mãe’ (2022) e ‘Nastácia’ (2019), que também venceu o Prêmio Shell de Teatro.

O convite a Miwa foi feito pelo produtor Felipe Valle, também idealizador do projeto, após testemunhar, indiretamente, um episódio de violência doméstica em que não conseguiu intervir e teve a denúncia recusada pela polícia. O sentimento de impotência o levou intuitivamente a pensar em ‘Dom Casmurro’ e, ao reler o livro, com os olhos de agora, percebeu toda a violência contida naquele clássico:

‘Somente em uma segunda leitura consegui entender que era preciso olhar para aquela história com outros olhos e isso só seria possível com esta equipe de criação majoritariamente feminina. Eu trabalhei este livro em sala de aula por anos e hoje consigo perceber como é necessário analisá-lo por outro prisma, tentar, de alguma forma, entender essa história do ponto de vista da Capitu e como isso se relaciona com a realidade de hoje, ainda em 2023’, conta o produtor.

Sinopse

Desde pequena, Ana tem por hábito se isolar em um mundo imaginário como forma de fugir dos problemas que enfrenta em casa. Sua mãe, Leninha, vive um relacionamento abusivo com o marido. A tensão doméstica acaba por refletir no rendimento escolar da menina que precisa tirar boas notas em Literatura para não repetir o ano. A prova final vai ser em cima da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. No entanto, a leitura afeta diretamente a menina que passa a enxergar pontos em comum entre o livro e sua vida.

Em seu refúgio fantástico, Ana começa a misturar ficção com realidade e recebe a visita de uma mulher misteriosa, que tem o rosto parecido ao de sua mãe. Aos poucos descobrimos que esta mulher é Capitu, a personagem ícone da obra Machadiana. Nesses encontros, Ana dá voz àquela mulher que só conhecemos através do olhar masculino. A improvável ligação entre elas serve à menina, que está entrando na adolescência, como um rito de passagem para o universo feminino adulto, em que ela começa a entender o que significa ser mulher num mundo narrado por homens.

Sobre o CCBB RJ

Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o CCBB está instalado em um edifício histórico, projetado pelo arquiteto do Império, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva. Marco da revitalização do centro histórico do Rio de Janeiro, o Centro Cultural mantém uma programação plural, regular e acessível, nas áreas de artes visuais, cinema, teatro, dança, música e pensamento. Em 33 anos de atuação, foram mais de 3 mil projetos oferecidos ao público, e, desde 2011, o CCBB incluiu o Brasil no ranking anual do jornal britânico The Art Newspaper, projetando o Rio de Janeiro entre as cidades com as mostras de arte mais visitadas do mundo. O prédio dispõe de 3 teatros, 2 salas de cinema, cerca de 2 mil metros quadrados de espaços expositivos, auditórios, salas multiuso e biblioteca com mais de 200 mil exemplares. Os visitantes contam ainda com restaurantes, cafeterias e loja, serviços com descontos exclusivos para clientes Banco do Brasil. O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro funciona de segunda a sábado, das 9h às 21h, no domingo, das 9h às 20h, e fecha às terças-feiras. Aos domingos, das 8h às 9h, o prédio e as exposições abrem em horário de atendimento exclusivo para visitação de pessoas com deficiências intelectuais e/ou mentais e seus acompanhantes, conforme determinação legal (Lei Municipal nº 6.278/2017).

Ficha Técnica

Direção Artística: Miwa Yanagizawa

Dramaturgia: Carla Faour

Diretora Assistente: Maria Lucas

Idealização e Direção Geral: Felipe Valle

Direção de Produção: Bárbara Galvão, Carolina Bellardi e Fernanda Pascoal (Pagu Produções Culturais)

Coordenação de Projeto: Trupe Produções Artísticas

Elenco: Flávia Pyramo e Marina Provenzzano

Direção Sonora, Trilha Original e Preparação Vocal: Azullllllll

Direção de arte: Teresa Abreu

Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni

Produção Executiva: Fernando Queiroz e Juliana Soares

Assistente de Produção: Miguel Ângelo

Design Gráfico e Fotografia: Daniel Barboza

Gestão de Comunicação: Incerta Comunicação

Assessoria de Comunicação: Pedro Neves (Clímax Comunicação e Conteúdo)

Gestão de Projeto e Prestação de Contas: Felipe Valle e Mariana Sobreira (Fomenta Soluções Culturais)

Produtora Associada: Pagu Produções Culturais

Correalização: Fomenta Soluções Culturais

Realização: Trupe Produções Artísticas e Singularte Produções

Serviço

Espetáculo: “Eu Capitu”

Temporada: de 12 de abril a 07 de maio de 2023

Dias e horários: Quarta a sábado, 19:30 e domingo, 18h

Classificação: 14 anos

Duração: 80 min.

Local: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – Teatro II

Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – RJ

Informações: (21) 3808-2020 | ccbbrio@bb.com.br

Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)

Estudantes, maiores de 65 anos e Clientes Ourocard pagam meia entrada.

Ingressos na bilheteria física: de quarta a segunda, das 9h às 21h (exceto aos domingos, cujo encerramento é às 20h) e no site bb.com.br/cultura

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Assessoria de imprensa CCBB RJ

Giselle Sampaio: +55 021 38082346 / gisellesampaio@bb.com.br

Atividade extra:

Roda de conversa – Interseccionalidade e afeto: atravessamentos sociais no contexto das relações

Participantes:

– Carol da Matta – professora de Língua Portuguesa e Literatura e pesquisadora da educação das relações étnico-raciais.

– Lian Tai – Doutora em Comunicação Social pela UFF, atriz e escritora.

– Maria Lucas – Atriz e escritora carioca, doutoranda em artes pela UERJ.

Data: 06/05 (sábado)

Horário: 16h

Local: Auditório – 4º andar

Gratuito

Ingressos disponíveis na bilheteria do CCBB 1h antes do início do evento.

Mais sobre as participantes:

Carol da Matta possui graduação em Letras pela Universidade Federal Fluminense e mestrado pelo programa de pós-graduação da Faculdade de Educação da PUC-Rio. Atua em regime de Dedicação Exclusiva no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, onde também integra o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NeabiCP2). Desenvolve, desde 2018, em parceria com duas outras docentes, o projeto Mulheres Negras e Literatura. Atualmente, pesquisa formação de professores e educação das relações étnico-raciais. É mãe de Francisco e Arthur.

Lian Tai é doutora em Comunicação Social, atriz e escritora. É autora do livro “Crônicas de Varanasi” e uma das fundadoras do coletivo “Slam das Minas RJ”. Mãe da Paz, é também criadora e co-apresentadora do podcast “Maternidade de Guerrilha”. Seu trabalho é atravessado pelo ativismo político, social e ambiental.

Maria Lucas é uma atriz e escritora carioca e assina como Diretora Assistente do espetáculo Eu Capitu. Doutoranda em artes pela UERJ, é mestra em Teoria e Crítica de Artes pela UFRJ, fez Cinema em Bogotá, na Colômbia e História da Arte em Madrid, Espanha. É premiada pelo Instituto Moreira Salles pelo ensaio “Próteses de Proteção”.